UFSB – Simpósio aproxima universidade da sociedade civil

Entre os dias 15 e 18 de outubro, pesquisadores(as), estudantes universitários(as), representantes do governo estadual, de prefeituras e de movimentos sociais do Sul e Extremo Sul da Bahia estiveram envolvidos(as) em debates intensos e produtivos sobre desenvolvimento territorial durante o 2° Simpósio de Ruralidades Contemporâneas em Rede, realizado no Campus Sosígenes Costa.
O evento foi promovido pelo Grupo de Pesquisa e Extensão Diterc (Dinâmicas Sociais, Etnicidades e Ruralidades Contemporâneas) e pelo Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Estado e Sociedade (PPGES), ambos coordenados pela professora May Waddington Telles Ribeiro.

O Diterc foi criado na 1ª edição do Simpósio, em outubro de 2016. A partir da relação amadurecida nesses dois anos com o Colegiado do Território de Identidade Costa do Descobrimento e com pesquisadores(as) do IFBA de Eunápolis e Porto Seguro e do IfBaiano de Teixeira de Freitas, veio a ideia de realizar o segundo Simpósio. Conforme explica a professora May Waddington, o sucesso do evento foi ter se constituído como um evento junto com o movimento social e não para. Todos parceiros e realizadores, ao mesmo tempo. Estudantes da graduação e da pós, representantes do MST, MLT E SEPLAN, todos integraram a comissão organizadora.”

O Simpósio teve programação pujante, com atividades diversificadas a partir de cinco eixos temáticos: desenvolvimento e política territorial, gênero, educação, comercialização e segurança alimentar e agroecologia. Os(as)participantes também puderam apresentar sua produção científica sobre as temáticas nos diferentes Grupos de Trabalho.

Estudos de Gênero

A professora Maria José Teixeira Carneiro, do Programa de Pós-Graduação de Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade (CPDA) da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), referência nos estudos de gênero no mundo rural, foi uma das convidadas do Simpósio. Ela ofereceu um minicurso e coordenou a roda de conversa Mulheres no campo nos dias de hoje. Ainda sobre a temática de gênero, a professora Laeticia Jalil, da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), proferiu a palestra Mulheres na Agroecologia.

Segurança Alimentar e Nutricional e Agroecologia

Catalina Gonzalez, professora e pesquisadora da Universidade de Valparaíso, no Chile, apresentou palestra sobre metodologias de pesquisa em nutrição e saúde familiar e perspectivas de cooperação entre Brasil e Chile. A convidada também participou da mesa-redondaApresentação dos resultados do Projeto de Segurança Alimentar do Núcleo de Estudos em Agroecologia (NEAE UFSB/CNPq), na companhia dos professores Marcos Bernardes, do Programa de Pós-Graduação em Ciências e Tecnologias Ambientais (PPGCTA/UFSB), e Alisson Gonçalves, da UESC e do PPGCTA, e da professora Gabriela Narezi (NEA-PB/UFSB).

Segurança alimentar também foi o tema da Conferência do professor Renato Sérgio Jamil Maluf, do CPDA da UFRRJ.

A programação do Dia Mundial da Alimentação, 16 de outubro, foi encerrada com o Encontro dos Núcleos de Agroecologia e Produção Orgânica do Sul da Bahia (NEAs).

Questão agrária e Política Territorial

O professor Aldemir Inácio Azevedo, do IFBA/Eunápolis, apresentou resultados do Núcleo de Extensão em Desenvolvimento Territorial (NEDET) Costa do Descobrimento e o Plano Territorial de Desenvolvimento Sustentável e Solidário (PTDSS).

Para os(as) presentes que ainda não tinham familiaridade com a política territorial do Estado da Bahia e para quem não a conhecia em detalhes, foi oferecida a oficina A constituição da Política de Territórios na Bahia e sua legislação, por Ricardo Azevedo Duarte, da SEPLAN.

A integração com a sociedade foi tanta que a plenária ordinária do Colegiado do Território de Identidade Costa do Descobrimento (CODETER), conduzida pela coordenadora geral, Neuza de Jesus de Souza, ocorreu no meio do Simpósio, no dia 17, tendo também representações do Território de Identidade Extremo Sul.

Neuza de Souza esteve acompanhada pela organizadora do Simpósio, May Waddington, e por Vanduy Cordeiro dos Santos, da Secretaria Estadual de Planejamento e Assuntos Econômicos (SEPLAN/BA), na mesa de abertura da plenária.

Vanuza Vieira Neves, vice-coordenadora do Território de Identidade Extremo Sul, elogiou o “nível de aproximação do CODETER com a universidade.” “Dá para perceber que a organização do evento tem uma ligação muito próxima, está por dentro da política territorial, da CET, do CODETER, dialoga com os movimentos sociais, visita associações, lideranças”. Ela salientou também o envolvimento com o IfBaiano, com o IFBA e ressaltou como muito positiva a construção da programação em conjunto com o CODETER e outras entidades. “Isso fortalece o território, a política territorial”, sentenciou Vanuza.

Outra atividade de destaque foi a mesa-redonda Estrutura fundiária e acesso à terra, da qual participaram importantes e reconhecidos(as) ativistas e representantes de movimentos sociais do campo do Sul e Extremo Sul da Bahia.

Educação

Se tem movimento social do campo e universidade, não tem como não abordar educação, temática cara aos dois segmentos. Na manhã do dia 18, a mesa-redonda Formação Cidadã: Educação teve a presença de Rozilene Farias, da Baixa Verde, de Juliana Lopes Sousa, do Movimento Sem Terra, do professor de educação intercultural indígena e doutorando do PPGES, Alexandre Capatto, do professor da UNEB/Eunápolis e do PPGES, Francisco Cancela, e da professora do PPGCT da UFSB Alessandra Buonavoglia. Rozilene Farias também conduziu a discussão intitulada A educação que queremos.

Comercialização

Representantes do poder público de diferentes municípios e do Estado, do setor privado e do Consórcio do Desenvolvimento Sustentável da Costa do Descobrimento compuseram a mesa sobre Políticas Públicas de Comercialização.

Da mesa-redonda Comercialização dos produtos e feiras, participaram representantes dos movimentos sociais do campo dos Territórios Costa do Descobrimento e Extremo Sul.

Roberta Cristina da Silva, agrônoma formada pela Universidade Federal de São Carlos – Campus Sorocaba e membro da Frente de Comercialização da Regional Extremo Sul do MST acredita que “eventos como esse precisam acontecer mais vezes, justamente por serem momentos em rede, em que as comunidades se inserem na instituição, no sentido de conhecerem um pouco a universidade e a instituição conhecer a realidade das comunidades.” Ela destacou a importância da oportunidade de ouvir outras comunidades e também os órgãos públicos e falar da organização do movimento.

A agrônoma apresentou como o MST está estruturando sua Frente de Comercialização na conjuntura atual a partir de eixos como: mercados institucionais (PAA, PNAE, feiras), redes de consumo direto, desafios do associativismo e cooperativismo, luta pela certificação participativa, demanda por parcerias das instituições e da sociedade como um todo. Também compartilhou com os(as) presentes as dificuldades e as diferentes frentes na luta pela agroecologia como bandeira de luta e como modo de viver. “O que a gente busca com tudo isso é a valorização do trabalho da agricultura familiar, principalmente a consolidação das famílias no campo a partir da comercialização no comércio justo.”

Na opinião do professor Aldemir Azevedo, membro da Comissão Científica do Simpósio, “foram quatro dias bastante intensos de atividades. Tivemos a presença de agricultores familiares, pescadores, aquicultores, marisqueiras, além do pessoal do Estado. A proposta se consolidou nessa segunda edição, com debates interessantes, especialmente voltados para segmentos produtivos rurais”.