UFV e UFMG lançam plataforma digital com dados sobre anfíbios do Quadrilátero Ferrífero

Espécie Aplastodiscus arildae encontrada na área

O Brasil abriga mais de mil espécies de anfíbios e o Quadrilátero Ferrífero – área do centro-sul de Minas Gerais, menor que 0,01% do território nacional – apresenta cerca de 10% delas. Entre estas riquezas naturais, porém, estão uma das maiores jazidas minerais exploradas e uma das maiores populações metropolitanas do país. Para contribuir com serviços de licenciamento e monitoramento ambientais de empreendimentos, como os de mineração e imobiliários – e, consequentemente, com a conservação destes animais na região -, pesquisadores dos laboratórios de herpetologia da UFV e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) lançaram a plataforma digital Anfíbios do Quadrilátero Ferrífero.

A ferramenta on-line reúne informações sobre mais de 90 espécies de anfíbios anuros – sapos, rãs e pererecas –, incluindo seis endêmicas, duas ameaçadas e oito potencialmente novas. Elas permitem que profissionais identifiquem girinos e adultos facilmente, a partir de características morfológicas e de distribuição geográfica, entre outras, além de imagens e áudios dos animais.

Isto pode melhorar a qualidade dos estudos vinculados aos processos de licenciamento e monitoramento ambientais, diminuindo os contratempos para os empreendimentos e os impactos para o meio ambiente, como explicou o coordenador do  da UFV-Florestal, Felipe Sá Fortes Leite. Quando levantamentos da fauna e da flora revelam espécies existentes em uma localidade, é preciso ter atenção e tempo para elaborar e implantar estratégias de conservação. “Na maioria dos casos, espécies que não são conhecidas, quando tratadas por pessoas inexperientes, até passam despercebidas”, afirmou.

Os dados vêm sendo coletados no próprio Quadrilátero Ferrífero e em coleções científicas brasileiras há mais de 15 anos, principalmente pelo professor Felipe. Durante esse período, ele observou a importância da relação entre os mercados de trabalho técnico e de pesquisa, muitas vezes inexistente, e teve a ideia de tornar a ciência básica da taxonomia mais aplicável para tais serviços ambientais. “Uma iniciativa com esta abordagem, com chaves de identificação, fotos dos animais, padronização da nomenclatura, não existe no Brasil. Temos livros ótimos, mas não temos sites”.

Por ser digital e on-line, a plataforma pode ser facilmente atualizada. Segundo Felipe, existem muitas lacunas do conhecimento sobre os anfíbios e novas informações certamente serão adicionadas com o tempo.

Abrangência

Apesar de direcionada para profissionais, Felipe acredita que a plataforma pode ser útil para outros públicos, como os das escolas de ensinos Fundamental e Médio. Além disso, a iniciativa, financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) e pela empresa Vale, difunde as produções das universidades e consolida informações que, daqui a alguns anos, servirão para o entendimento das mudanças ocorridas na área: “temos um retrato de como é a fauna hoje”.

A expectativa do coordenador do Sagarana Lab é que a ferramenta on-line também sirva de referência para outras áreas do conhecimento relacionadas com a taxonomia.