Universidade Federal do Paraná recebe refugiados que interromperam estudos em seus países de origem

O programa Política Migratória e a Universidade Brasileira, da UFPR, surgiu em 2010 como uma resposta à situação emergencial dos refugiados no Brasil. Universidade também tem a Cátedra Sérgio Vieira de Mello, da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), cujo objetivo é difundir o Direito Internacional dos Refugiados e promover a formação acadêmica e a capacitação de professores e estudantes neste tema.

Entendendo que a integração social dos refugiados e portadores de visto humanitário se dá também pela educação, a Universidade Federal do Paraná (UFPR) tem sido atuante na viabilização do reingresso de estudantes que tiveram seus estudos interrompidos, de forma forçada, em seus países de origem.

A síria Lucia Loxca, 25 anos, estudante de arquitetura, foi a primeira reingressa da UFPR. “Eu fazia arquitetura, em Alepo, na Síria. Quando cheguei ao Brasil, queria voltar a estudar, mas me disseram que seria muito difícil”, disse. “Um dia, entrei na UFPR e, coincidentemente, encontrei o coordenador do curso de arquitetura. Conversamos e ele me disse que veria o que poderia ser feito”, contou Lucia.

A estudante já está na metade do curso e é otimista sobre o exercício da profissão. “Desde criança, eu sempre gostei de desenhar. Eu amo arquitetura e penso em trazer a minha influência do Oriente Médio para a arquitetura brasileira. Quero misturar os estilos”.

A UFPR conta com 24 reingressos, ocupando vagas remanescentes. O vice-reitor da universidade, Rogério Andrade Mulinari, destacou que as federais têm papel importante na contribuição para o desenvolvimento de políticas públicas que tragam soluções para problemas atuais.

“Acolhimento é mais que apenas lhes oferecer refúgio, mas lhes propiciar maneiras de contribuir com a comunidade que os recebe, assegurando transformação na sua qualidade de vida”, disse o vice-reitor.
Em 2016, dos 24 reingressos, 14 receberam bolsas de permanência que oferecem auxílio moradia, vale-transporte, acesso ao refeitório universitário — inclusive nos fins de semana — e ajuda de custo com creche, caso seja necessário.

Para o vice-reitor, favorecer a retomada dos estudos de refugiados e portadores de visto humanitário é garantir a emancipação dessa população, garantindo a ela autonomia e inserção social.
Revalidar os diplomas dos refugiados tem sido uma das coisas mais complicadas, uma vez que o sistema brasileiro é bastante burocrático nessa questão e possui exigências que são praticamente impossíveis de serem cumpridas pelos refugiados, como a apresentação de histórico.

Segundo José Gediel, coordenador da Cátedra Sérgio Vieira de Mello na UFPR e chefe do programa Política Migratória e a Universidade Brasileira e (PMUB), o caso de Lucia despertou a universidade para a necessidade de se refletir sobre medidas que viabilizassem o reingresso de refugiados ou portadores do visto humanitário no ensino superior.

Ele salientou, no entanto, que ainda há muitos desafios. “Revalidar os diplomas dos refugiados tem sido uma das coisas mais complicadas, uma vez que o sistema brasileiro é bastante burocrático nessa questão e possui exigências que são praticamente impossíveis de serem cumpridas pelos refugiados, como a apresentação de histórico”, disse Gediel.

O programa da UFPR, surgido em 2010, é uma resposta à situação emergencial dos refugiados e cidadãos com visto humanitário que passaram a chegar ao Brasil. As primeiras atividades realizadas foram aulas gratuitas de português para estrangeiros.

Os dois principais focos de atuação do PMUB são assegurar o reingresso de estudantes que tiveram seus estudos interrompidos no país de origem e viabilizar a revalidação do diploma.