Universitários fazem intercâmbio com bolsa dentro do Brasil

Programa de mobilidade acadêmica existe desde 2006 e financia estudantes em universidades longe de casa por até um ano

Para os reitores das universidades federais, promover a movimentação dos estudantes brasileiros entre instituições é um sonho e um objetivo. Desde 2003, a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) criou um projeto com a intenção de financiar pequenos “intercâmbios internos” de universitários. Os interessados trocam de instituição por um período de seis meses a um ano, dentro do Brasil mesmo. Recebem, para isso, uma bolsa de estudos e apoio das federais.

Os objetivos da promoção desse tipo de experiência não diferem dos apontados como os maiores benefícios da mobilidade estudantil esperada com o Sistema de Seleção Unificada (Sisu), do Ministério da Educação. O iG mostrou nesta segunda-feira que pouco mais de 11 mil jovens deixaram suas casas para fazer um curso superior em outros Estados na primeira edição deste ano. A busca é por trocas de experiências profissionais e pessoais, amadurecimento, formação mais completa e diversificada. Com a mobilidade acadêmica temporária, também.

“Manter a mobilidade acadêmica é muito positivo. É muito importante para os universitários passarem por experiências em diferentes locais. Apoiar programas que permitam aos estudantes passar pelo menos seis meses em outra universidade e região do País deveria ser outra prioridade do Ministério da Educação”, opina João Luiz Martins, vice-presidente da Andifes e reitor da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).

O primeiro convênio criado com o intuito de promover a movimentação dos estudantes universitários pelas instituições federais de ensino superior foi assinado por 45 representantes em 2003. No entanto, o Programa de Mobilidade Acadêmica mantido pela Andifes saiu do papel mesmo em julho de 2007. À época, 16 instituições ratificaram o termo de adesão ao projeto. No final do ano passado, 41 universidades já participavam do programa e 204 estudantes estudavam longe de suas instituições de origem.

Para se tornar bolsista, o universitário precisa preencher requisitos. Deve ter concluído todas as disciplinas previstas para o primeiro ano ou os 1º e 2º semestres letivos do curso na instituição de origem. Só pode ter uma reprovação por período letivo (ano ou semestre). O interessado precisa apresentar à própria universidade uma lista das disciplinas que pretende cursar na instituição parceira. Ninguém pode passar mais de um ano no programa.

O limite de tempo é simples: a Andifes não quer que os universitários se transfiram para outras instituições. Para a entidade interessa o intercâmbio de ideias, que só se concretiza com o retorno dos jovens às universidades de origem e a divulgação das experiências vividas por eles entre os colegas. Segundo o secretário-executivo da Andifes, Gustavo Balduíno, o que falta para o programa deslanchar ainda mais é recurso financeiro. Hoje, o projeto conta com o apoio do banco Santander para funcionar. Mais de R$ 500 mil foram investidos em bolsas durante 2010.

Desafios e vantagens
Quem participa do programa garante que as dificuldades enfrentadas para se mudar e planejar os estudos durante essa temporada fora da própria instituição valem a pena no final. Isis Moura, de 20 anos, deixou o Rio Grande do Norte, onde cursa artes visuais, para conhecer o ritmo do curso na Universidade Federal do Paraná (UFPR), fazer novos amigos, aprender. A chegada trouxe surpresas e algumas expectativas frustradas, mas, de modo geral, a jovem defende a oportunidade.

“Quando fui elaborar o plano de estudos e solicitei as ementas das disciplinas da UFPR para meu coordenador avaliar as equivalentes, não sabia que algumas das que eu queria eram anuais. Em nenhum momento fui avisada disso. Só descobri quando cheguei aqui em Curitiba, no dia da matrícula”, conta ela. Depois dos problemas contornados, hoje ela aprova o programa. “Conheci uma professora que me ajuda na pesquisa do meu trabalho de conclusão de curso, que tem contribuído muito para meus estudos”, conta.

Para Isis, os universitários devem ficar atentos aos detalhes da estrutura dos cursos. Ela conta que adaptação à cidade também não foi fácil, principalmente pela personalidade fechada dos curitibanos e pelo clima frio. “No meu primeiro dia, o professor pediu para a turma formar grupos para uma atividade e não fui convidada para nenhum, apesar de todos os meus colegas saberem que eu era de fora”, relembra. Agora, fez amigos e está adaptada à cidade.

Aprovação
A Andifes realizou um estudo com os estudantes que participam do programa para avaliar o grau de satisfação com a experiência. Para 97% dos universitários, a oportunidade de passar seis meses em outra instituição foi avaliada como excelente (80%) ou ótima (17%). A maioria dos participantes também elogiou a organização acadêmica e a estrutura física das instituições de destino: 37% consideraram excelente e 36%, ótima.

A avaliação dos estudantes sobre a experiência (em %)
Na avaliação de 26% dos participantes, a bolsa oferecida pela Andifes supriu as necessidades de maneira “excelente”. Outros 29% disseram que supriu de forma “ótima” e 32%, boa. Todos os alunos consideraram o próprio desempenho durante o programa bom (6%), ótimo (44%) ou excelente (50%).