‘Vamos acentuar a definição dos programas de formação de docentes’, diz Janine

Ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro, faz palestra hoje no encontro Educação 360

Um estudo inédito do MEC, publicado no último domingo pelo GLOBO, estima que 40% dos cerca de 507 mil professores do ensino médio no país terão condições de se aposentar nos próximos seis anos. Segundo o ministro da Educação, para impedir uma escassez de profissionais, o governo terá que intensificar e qualificar a formação de docentes.

Como o MEC pretende agir para evitar uma escassez de professores do ensino médio no futuro?

Vamos acentuar a definição dos programas de formação de docentes. Não é uma questão apenas quantitativa, é qualitativa. Também aumentaremos a negociação dos demais parceiros e entes federados sobre as políticas que possam tornar cada vez mais atrativa a profissão de docente. É importante lembrar que os professores adquirirem o direito de se aposentar não quer dizer que o farão de imediato. Mas esse é um alerta importante para que o MEC tome as iniciativas, com todos os parceiros da educação, para afinar as políticas de formação docente.

Num ano com tantas demandas e menos recursos, como tem sido a rotina do ministro da Educação?

É preciso falar muito, aprender muito e, sobretudo, aprimorar as políticas que vamos lançar. Num período de recursos escassos, precisamos escalonar os gastos de modo a evitar cortar ações importantes. Ao mesmo tempo, temos que nos preparar para o futuro revendo a qualidade das ações, para, superados os problemas financeiros, ter projetos com melhor definição. O grande exemplo disso é o Fies (Fundo de Financiamento Estudantil). Com menos recursos que no ano passado, melhoramos a qualidade dos cursos ofertados. Em 2014, 8% dos cursos eram de nota 5, que é a máxima. Neste ano, só no primeiro semestre, 20% dos cursos tinham essa avaliação.

No projeto de retomada do crescimento do país, qual o papel estratégico da educação?

A retomada vai passar muito pelo avanço econômico. Isso quer dizer que vamos precisar de mão de obra qualificada. Tradicionalmente, buscava-se esse trabalhador nas universidades, em cursos de tecnologia. Hoje, com o Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e ao Emprego), a educação profissional, desde o equivalente ao ensino médio, passando pelo curso de tecnólogo e chegando à graduação de quatro ou mais anos, tornou-se protagonista nesse processo.

Programas como Fies e Pronatec também se tornaram fonte de preocupação em função de cortes de verba e de vagas. O que vai acontecer com esses programas daqui para frente?

Esses programas são muito importantes e vão continuar. O Fies responde por quase um quarto da população universitária brasileira. É um programa que não tem volta. É bom lembrar que é um financiamento com juros subsidiados. Esse dinheiro, na sua maior parte, volta e vai alimentar futuras gerações de alunos no ensino superior. Já o Pronatec é fundamental para um desenvolvimento sustentável da economia e uma prosperidade crescente da classe trabalhadora.

O cumprimento de várias metas do Plano Nacional de Educação (PNE) é dado como impossível por especialistas em função dos cortes no orçamento. Como ficam essas metas?

O problema principal não são os cortes de orçamento. A questão é que a economia entrou em uma crise que, no fundo, afeta o mundo desde 2008. Estamos trabalhando intensamente em todas as metas do PNE, inclusive na construção do Sistema Nacional de Educação. As metas que dependem essencialmente do dinheiro serão cumpridas à medida que a economia se reerguer. Enquanto isso, estudamos para que as propostas sejam realizadas da melhor maneira possível.

Muito se fala sobre a necessidade de as escolas terem um olhar mais voltado para o futuro. Nesse contexto, como estão as escolas brasileiras?

Há muitas formas de tornarmos as escolas mais aptas a encararem os desafios atuais. Elas têm que fazer maior uso de tecnologia avançada, que envolve internet. Mas não basta você disponibilizar o computador para este destino, é necessário um sistema de informatização nas escolas que tenha também a adesão dos professores. Além disso, faz parte da escola do futuro o avanço do que é chamado STEM: ciência, tecnologia, engenharia e matemática (na sigla em inglês). Isso é importante para aumentarmos a produtividade da economia. Como o Brasil é um país emergente, o avanço precisa consolidar a inclusão social e completar o trabalho de desenvolvimento e de supressão da miséria. Há outra perspectiva: existe uma esfera de criatividade na educação que o MEC está procurando desenvolver por meio de uma assessoria especial do gabinete, procurando formas de educação em que o aluno seja protagonista.

O país enfrenta uma onda de greves no ensino superior, com cerca de 60 instituições federais afetadas. Como o ministério tem atuado sobre isso?

Estivemos desde o início abertos à negociação com líderes sindicais. Depois de deflagrada a greve, anunciada antes da minha posse, estivemos sempre abertos ao diálogo. É bom lembrar que é um ano de crise econômica. Há medidas muito difíceis para o ministério tomar, que dependem de instâncias mais amplas.

Há uma grande preocupação no país com o corte de verbas para pesquisas acadêmicas. Como o governo pode evitar que sejam prejudicadas?

Nenhuma bolsa de pós-graduação foi cortada pela Capes. É falsa a afirmação de que tem havido algum tipo de corte de bolsas. Nós privilegiamos as bolsas porque elas são o ponto inicial para o pesquisador continuar trabalhando. Porém, também preservamos por inteiro o Portal de Periódicos, que é um insumo fundamental para a pesquisa. Mais de 90% da verba que a Capes coloca na pós-graduação foram preservados. O que não foi possível preservar integralmente, porque sofreu um contingenciamento, foi o custeio da pós-graduação.

EDUARDO VANINI – O GLOBO