Universidades reformam estrutura da graduação e conseguem atender melhor aluno que quer estudar e trabalhar
As universidades federais brasileiras começam a se aproximar das necessidades práticas dos seus alunos. As mudanças apresentadas ao Ministério da Educação por 26 das 53 instituições federais de ensino superior (Ifes) alteram não apenas o formato pedagógico dos cursos como também criam graduações mais curtas, o que permite que os alunos trabalhem antes mesmo de terminar a faculdade.
As Ifes aproveitaram o Reuni – a proposta de expansão das universidades aprovada pelo governo federal – para mudar a estrutura pedagógica de vários cursos novos. Elas estão adotando ciclos básicos, graduações mais curtas e até mesmo duas formações diferentes dentro do mesmo curso.
As alterações foram aceitas pelo MEC e, de certa forma, retomam questões propostas na reforma universitária, que foi apresentada em 2004 pelo governo e esquecida no Congresso. A ampliação de graduações permite aos alunos trabalharem, hoje um dos maiores problemas das universidades federais, com poucas vagas noturnas e vários cursos que ocupam o dia inteiro.
A Universidade Federal do Ceará, por exemplo, criou o primeiro curso que oferece a possibilidade de o aluno obter dois diplomas, na área de licenciatura em Letras. Explica o pró-reitor de graduação da universidade, Custódio de Almeida, que o aluno pode terminar a licenciatura em Letras-português em três anos e meio, receber o diploma e já dar aulas. Mas ele pode continuar estudando e concluir – em mais um ano e meio – a licenciatura em inglês e francês.
"O curso é longo e muitos dos nossos alunos precisam trabalhar. Com isso, podem ter uma profissão e continuar estudando, se o desejarem", explica o pró-reitor.
Falta de professores
A nova estrutura também ajuda em outra questão: a falta de professores, especialmente no ensino médio. Por isso, a UFCE está planejando usar também a mesma alteração em um curso na área de Física, unindo licenciatura e bacharelado. A avaliação de muitos reitores é que a atual estrutura das universidades, dividida em departamentos rígidos e obrigando uma decisão precoce da carreira não ajuda os alunos e está fora da atual realidade profissional.
Foi por isso que a Universidade de Brasília (UnB) optou por várias alterações nos seus cursos. Uma delas, na área de Engenharia, está funcionando desde o ano passado, no câmpus alternativo da instituição na cidade-satélite do Gama (DF).
Lá, o aluno faz o vestibular para Engenharia, sem optar por uma área específica. Faz um ciclo básico, com disciplinas informativas sobre cada um dos tipos de curso oferecido, e apenas no segundo ano é que faz a opção.
"É uma maneira de diminuir a angústia do aluno na hora de tomar essa decisão", diz a pró-reitora da graduação, Márcia Abrahão. "O Reuni nos oferece uma oportunidade de repensar a universidade e apresentar soluções mais modernas."
A instituição vai oferecer, já no próximo ano, dois bacharelados de três anos, um de Ciências da Vida e outro de Computação e Tecnologia. Ambos terão formações mais básicas nessas duas áreas, mas permitirão aos alunos ocupar empregos hoje sem pessoal com formação adequada, já que requerem uma formação além dos cursos técnicos e aquém de, por exemplo, um engenheiro.
Inovações propostas
– Formação em ciclos: Inicial, intermediário e específico
– Formação básica para todos os cursos: Ciclo básico antes da formação específica
– Formação básica para cada área de conhecimento: Ciclo inicial a ser freqüentado em uma área antes da formação específica
– Bacharelado geral interdisciplinar: Curso inicial de três anos em média, com diploma. Com mais tempo, agrega formação específica
Iniciativas têm o apoio do Ministério da Educação
O Ministério da Educação (MEC) também aprova a iniciativa das universidades federais que estão flexibilizando seus cursos e não interfere nesse tipo de decisão. As instituições têm autonomia administrativa.
"São propostas apresentadas pelas universidades que estamos catalogando e acompanhando", afirma o coordenador de expansão e gestão das Ifes, Rodrigo Ramalho. "São alternativas que podem ser depois expandidas para outras instituições", completa.
O incentivo do ministério a essas alternativas fica bastante claro no projeto da Universidade Federal do ABC (UFABC), localizada em Santo André (SP), que já deu a linha do que o ministério pretende ver nas instituições.
Primeira da nova safra de universidades federais patrocinada pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva, a UFABC oferece, no seu vestibular, 1.500 vagas para áreas de Ciência e Tecnologia. É apenas dentro do curso que o aluno vai montar a sua própria formação.
Há a possibilidade de o estudante receber um diploma básico, depois de três anos de curso, que já vai permitir que trabalhe na área. Mas ele também poderá continuar estudando.
A instituição oferece 48% de disciplinas obrigatórias, 30% de opção limitada – relativas à área na qual o aluno pretende se formar – e 24% totalmente livres, o que pode incluir até mesmo atividades de teatro e música.
"Temos um programa de tutoria em que cada aluno é acompanhado para melhor decidir sua formação", conta a pró-reitora de graduação da universidade, Itana Stiubiener. "Mas a formação não precisa ser toda igual", explica a pró-reitora.
(O Estado de SP, 4/12)