Reitores fazem objeções ao plano do ‘super-Enem’

Maioria apoia ideia do MEC de fazer vestibular único, mas há receio de invasão de vagas no interior do País e falta de tempo para alterar sistema

Após dois dias de reuniões em Brasília, os reitores das universidades federais estão praticamente convencidos da necessidade de alterar o vestibular, unificando seus processos seletivos em um Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) ampliado e aprimorado. Mas ainda levantam objeções à proposta do Ministério da Educação (MEC), como o receio de que vagas do interior do País sejam ocupadas por alunos "de fora" e a preocupação com o cumprimento do cronograma de implantação das mudanças.

As diferenças regionais são apontadas por alguns reitores como o maior entrave à proposta do MEC e estão na base da resistência de algumas universidades, como as federais Fluminense, do Rio Grande do Sul e de Goiás. "Há uma preocupação de que vagas de universidades do interior terminem sendo todas ocupadas por alunos de fora, mais bem preparados, especialmente nos cursos mais concorridos. Se pudéssemos oferecer 4 milhões de vagas, isso não seria problema. Mas a universidade federal é pequena", alertou Aloísio Teixeira, reitor da Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) – ele, pessoalmente, um entusiasta da ideia de vestibular unificado.

Já Jesualdo Farias, da Federal do Ceará, diz não temer essa invasão de estudantes de fora. "Isso não me assusta. Na hora de fazer a primeira opção, o aluno vai fazer pelo lugar onde vive", acredita. "Minha maior preocupação nesse momento é o cronograma. Teremos dificuldades para trabalhar esse ano, especialmente se decidirmos manter uma segunda etapa."

Algumas instituições, como a UFRJ, já planejam usar o Enem como uma primeira etapa e fazer uma segunda prova de seleção. Por isso, querem que o teste unificado seja realizado em setembro, um pedido que o ministério ficou de analisar, já que a prova, com 200 questões, tem um processo de correção demorado.

DÚVIDA

A questão da segurança da prova também preocupa. Apesar de, até hoje, não ter havido nenhuma violação de segurança em dez anos de Enem, os reitores lembram que, se houver problemas com a prova em uma cidade, serão cancelados os vestibulares de todo o País, com 3 milhões de candidatos. O ministro da Educação, Fernando Haddad, assegurou aos reitores que esse é um problema de fácil solução e que se pode usar até mesmo a Polícia Federal para garantir a blindagem do processo seletivo, caso necessário.

"Não são questões de todos os reitores (as objeções sobre disparidade regional, cronograma e segurança), mas são os problemas que surgiram nos dois dias de conversas", revelou Alvaro Prata, reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Nas próximas semanas, os dirigentes levarão a discussão para os conselhos universitários, que darão a palavra final. No fim do mês, uma nova reunião em Brasília deve trazer para o MEC uma posição definitiva.

"Hoje estou convencido de que essa é uma ideia possível e pode ser acordada com todas as instituições", afirmou o reitor da Universidade Federal de Viçosa, Luiz Cláudio Costa. "Há resistências operacionais de alguns reitores, mas não de filosofia. Mas acredito que, se não este ano, com o tempo todo o sistema se consolida."

O novo Enem passará de 63 para 200 questões (a redação continua). Em vez de só avaliar habilidades, também vai cobrar conteúdos. Ainda pela proposta do MEC, a aplicação deve ser em outubro, e não mais em agosto.

Lisandra Paraguassú – O Estado de São Paulo, 08/04