A adoção do novo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) como processo seletivo unificado para o ingresso nas universidades federais divide opiniões no meio acadêmico. A reportagem do G1 ouviu 16 das principais universidades federais – ao todo, elas somam 55 instituições – sobre a proposta: sete delas são simpáticas a ela, três são contra e seis preferiram não se posicionar. Entre elas, cinco demonstraram preocupação com a questão da mobilidade dos estudantes, manifestando temor quanto a uma possível “invasão” de vestibulandos de outros estados.
De acordo com modelo proposto pelo Ministério da Educação, a ser estudado pelas federais até o final de abril, o vestibulando poderá concorrer a até cinco cursos em cinco instituições federais. A proposta deve permitir que alunos que vivem longe dos grandes centros urbanos participem da seleção. Entretanto, para Roberto de Souza Salles, reitor da Universidade Federal Fluminense (UFF), a unificação pode agravar a exclusão dos menos favorecidos.
“Os candidatos do Sul e Sudeste, que normalmente apresentam os melhores desempenhos na prova do Enem, irão ocupar as vagas nas instituições federais do Norte e Nordeste, tirando as oportunidades dos candidatos daquelas regiões”, defende Souza Salles. O reitor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Rômulo Polari, também aventa a hipótese, destacando que o ensino médio é desigual no país.
Licurgo Brito, pró-reitor de ensino de graduação da Universidade Federal do Pará (UFPA), chama a atenção para “o risco de (o novo modelo) destinar as poucas vagas (na região amazônica) para quem não é da região”. Para o reitor da Universidade de Santa Maria (UFSM), Clóvis Silva Lima, “o MEC precisa dar condições de permanência para os alunos carentes”.
O reitor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Ronaldo Tadeu Pena, ressalva que a mobilidade seria positiva se ficasse limitada a algo em torno de 10% dos bancos das universidades. “Mais do que isso ela vai ser uma mobilidade predadora, no sentido de que esses alunos pegariam as vagas de cursos menos concorridos e também de locais menos desenvolvidos.”
Para ele, a proposta tem um defeito ao permitir que os candidatos façam as opções de curso com o resultado do Enem em mãos. "Aqueles que virem que não conseguirão uma vaga em cursos muito disputados poderão optar por outro menos concorrido e tirar a vaga de quem realmente gostaria de fazer aquela graduação."
Já Ivonlido Rêgo, reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), diz que o Brasil não têm uma “tradição de mobilidade” e estimula: “teremos de testar o exame para ver o quanto isso vai ser perturbador”. Para ele, políticas de inclusão, como reserva para cotas e bônus para escolas públicas, podem ser fatores de ajuste.
Prazo para implantação
Outra questão que mobiliza os mais favoráveis à substituição do vestibular pelo novo Enem é o prazo de implantação. Pelo menos seis das instituições consultadas (UFSC, UFPA, UFPB, UFRN, UFC, UFMG) descartam ou acham “pouco provável” que o modelo vigore já em 2009. O motivo é o cronograma do vestibular.
“Para este ano, eu acho pouco provável (a implantação), porque temos uma cultura de que as mudanças no vestibular só incidem no ano seguinte”, explica Jesualdo Farias, reitor da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Contra x A favor
Neste momento, disseram-se contrários ao “novo Enem unificado” os reitores da UFSM, UFPA e UFF. Os representantes das duas primeiras argumentam que a instituição possui um vestibular seriado – a UFPA ainda tem em curso proposta de novo modelo para 2011 -, enquanto o representante da UFF diz que ainda restam “muitas dúvidas” sobre o novo modelo, como a questão da mobilidade.
Já a UFMG, Universidade Federal da Bahia (UFBA), Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), UFG (Universidade Federal de Goiás), UFBASUFSC, UFRN e UFC se disseram simpáticos à proposta. Entretanto, seus reitores destacaram que ela ainda passará por intenso debate dos respectivos conselhos universitários.
Também em fase de discussão, a UFPB, a Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), a Universidade Federal de Alfenas (Unifal), a Universidade Federal do Paraná (UFPR), a Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) preferiram, neste momento, não se posicionar sobre o tema.
Fernanda Calgaro e Silvia Ribeiro – G1, 09.04