A educação a distância é a modalidade que mais cresce no ensino superior brasileiro. Em 2008, o número de estudantes de graduação chegou a 760.599, um aumento de 91% em relação a 2007. Nos últimos quatro anos, de 2004 a 2008, o salto foi de 1.175%.
Embora os cursos a distância atendam o equivalente a apenas um sexto dos alunos presenciais, eles avançam num ritmo de fazer inveja às faculdades tradicionais. O dado mais recente do Ministério da Educação relativo a cursos presenciais é de 2007, quando havia no país 4,8 milhões de estudantes. Na comparação com o ano anterior, isso representa crescimento de 4,4%. No período 2004-2008, as matrículas presenciais aumentaram meros 17%.
– O ensino a distância democratiza o acesso ao ensino superior – diz o secretário de Educação a Distância do MEC, Carlos Bielschowsky.
O presidente da Associação Brasileira de Educação a Distância, Fredric Michael Litto, aposta que essa modalidade é o caminho para a expansão do ensino superior. Ele lembra que só 12% dos jovens de 18 a 24 anos estão na universidade, índice inferior a países como Argentina, Chile e até mesmo Bolívia.
– A educação a distância representa uma possibilidade de mudar esse quadro, saltando dos 12% ou 13% atuais de cobertura para 20% ou 25% – diz Fedric, professor aposentado da Universidade de São Paulo (USP).
Entre as vantagens do ensino a distância estão a possibilidade de levar cursos de graduação a municípios onde não há professores, a flexibilidade de horários e o valor mais baixo das mensalidades. Em contrapartida, disciplina e motivação dos alunos precisam ser maiores.
Bielschowsky e Fedric dizem não duvidar da eficácia, em termos de aprendizagem, dos cursos a distância. Ao cruzar resultados do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), substituto do Provão, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) constatou que alunos a distância tiraram, em média, notas mais altas do que os colegas de cursos presenciais. Isso ocorreu entre formandos de administração e matemática.
Para entidade, é preciso "ordem no galinheiro"
Mas nem tudo funciona. Entusiasta das novas tecnologias, o secretário Bielschowsky quer evitar a proliferação de cursos de baixa qualidade e deu início à supervisão das universidades que oferecem a modalidade.
Desde 2008, 23 instituições entraram na lista de fiscalização de 320 professores que percorrem o país para avaliar in loco o ensino ofertado. O resultado é a assinatura de termos de compromisso, com prazo de um ano para melhorias. Entre os principais problemas estão deficiências na avaliação, falta de contato dos alunos com professores, baixa qualidade do material didático e o número excessivo de estudantes por docente. Enquanto a média internacional é de 130 alunos por mestre, o MEC descobriu cursos onde a proporção superava mil por l.
O presidente da Associação Nacional de Universidades Particulares (Anup), Abib Salim Cury, apoia a cobrança de mais qualidade, mas critica a falta de diálogo com o setor e culpa o governo pelo descontrole: – Largaram ao Deus dará. Tem que botar ordem no galinheiro, só que agora fica mais difícil. Como sempre, começaram a agir sem diálogo, contra as boas (instituições) e as ruins.
Após anos de discussão, a USP decidiu lançar seu primeiro curso de graduação à distância: licenciatura em ciências (formação de professores), com 300 vagas e início em setembro.
Cursos têm formatos distintos
A Universidade de São Paulo (USP) criou uma plataforma própria para apresentar os conteúdos na internet e fazer a interface com os alunos.
Já a Universidade Norte do Paraná (Unopar), a maior do país em número de alunos, aposta nas teleaulas: de um estúdio, o professor fala – e aparece em telões – para milhares de estudantes espalhados por centenas de municípios. A Unopar atende 108 mil estudantes.
A USP planeja realizar atividades práticas todos os sábados, em seus campi na capital e no interior.
A Universidade de Brasília (UnB) também dá importância às atividades presenciais: na cidade-satélite de Ceilândia, os encontros costumam ser semanais.
Mas a Faculdade de Administração de Brasília, instituição particular com nota máxima no Enade, promove só reuniões mensais.
O presidente da Associação Brasileira de Educação a Distância, Fredric Michael Litto, é contra a obrigatoriedade de encontros presenciais, em análise no Congresso. O fundamental, diz, é a qualidade do material didático e o atendimento dos professores.
(O Globo, 10/5)