Meta do MEC, no momento, é garantir a qualidade no segmento da graduação. O da pós fica para depois
Em 2000, eram 1.682 alunos em todo o país. Em 2007, já havia 396.766. E, ano passado, eram 760.599, sendo 72% (551.860) de instituições particulares. Isso considerando apenas a graduação. Os números da educação a distância (EaD) no Brasil são sempre dessa ordem, superlativos.
O problema é que o Ministério da Educação, apesar de credenciar as instituições de ensino, não acompanhou essa proliferação no mesmo ritmo: só ano passado, começou a fiscalizar o segmento. E, na pós-graduação, essa supervisão da qualidade ainda está longe de acontecer. Por isso, todo cuidado é pouco na hora de escolher uma especialização do gênero.
Instituições tradicionais ampliam leque de cursos
De acordo com a Secretaria de Educação a Distância do MEC, por enquanto, o foco são os cursos de graduação. O Brasil tem 33 instituições credenciadas para oferecer apenas pós-graduação lato sensu e 145 para graduação e pós. Dessas, somente 109 tinham alunos em 2008. A meta é terminar de fiscalizar todas até dezembro.
No ano passado, 13 delas, que concentram 61% do total de estudantes, passaram por supervisão. Nenhuma foi descredenciada, mas foi suspenso o ingresso de novos alunos em 3.561 polos de educação. Seis assinaram termo de compromisso para se adequarem a referenciais de qualidade publicados em 2007. As outras sete negociam a assinatura.
Enquanto os olhos não se voltam para a pós-graduação, vale confiar em instituições de tradição. A Fundação Getúlio Vargas, por exemplo, tem 11 MBAs nessa modalidade, em áreas variadas como finanças, construção, negócios, administração, marketing, entre outras.
No início, eram só dois cursos. Hoje, a escola ainda participa do Open Course Ware Consortium (OCWC), um consórcio formado por instituições de vários países que oferecem conteúdo e material de graça pela internet.
— A proliferação da educação a distância no Brasil vai se acelerar, pois o mito de que cursos assim não funcionam está cada vez mais longe. A vida moderna e a facilidade do uso da tecnologia também favorecem essa modalidade de ensino, já que cada um pode se adequar segundo sua agenda. Fora o fato de que essa é uma das formas mais efetivas de democratizar o conhecimento — destaca o diretor-executivo da FGV online, Stavros Xanthopoylos, que só faz uma ressalva: — Estudar a distância requer mais disciplina e dedicação do que no modelo tradicional.
Contrariando a tese de que o ensino a distância não permite que alunos travem um relacionamento pessoal, próximo, a coordenadora de pós a distância do Senac-Rio, Céri Amaral, aponta a interatividade como outro fator que explica o crescimento desses cursos — a instituição começou, em 2005, oferecendo duas especializações e já conta com oito: — É possível ter um relacionamento interpessoal mais afetivo, interatividade maior e acesso a métodos diferentes.
O professor Xanthopoylos tem opinião semelhante:
— A educação a distância facilita a aproximação, ainda que virtualmente. O “networking” pode ser mais efetivo.
Patrícia Daher, de 40 anos, está terminando uma pós em “Educação a distância” pelo Senac e sentiu a mesma coisa:
— A educação a distância reúne diversas pessoas de lugares distintos ao mesmo tempo, e promove a interatividade. Além disso, ela também pode ser vista como uma ferramenta de inclusão social. Um indivíduo mais tímido se sente mais à vontade para se expor.
‘Área relativamente nova e de grande importância’
Patrícia foi professora do ensino fundamental por dez anos. Além de educadora, é formada em arquitetura e urbanismo. Resolveu fazer esse tipo de especialização porque queria otimizar seu tempo e aprender um pouco mais sobre a ferramenta. E se apaixonou pelo tema. Hoje, trabalha como desenhista instrucional para projetos corporativos.
O nome é complicado, mas trata-se do profissional que garante a qualidade do material didático na modalidade a distância. É ela que define como o conteúdo do programa será organizado, para se obter o máximo de aprendizado:
— É uma área relativamente nova e de grande importância, como a educação a distância.
O Globo, 21/6