O mapa de adesão das Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes) ao novo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) como ferramenta de seleção para os cursos de graduação mostra que das 58 Ifes vinculadas à Associação Nacional dos Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) apenas 14 aderiram ao sistema de seleção unificado, que tem o exame como porta única de seleção para ingresso de estudantes. As decisões foram tomadas depois de intensas discussões nos Conselhos Superiores e nas áreas técnicas de elaboração dos processos seletivos das Universidades.
Além das 14 instituições que selecionarão candidatos apenas por meio do Enem, outras 9 experimentarão o novo método em parte de suas vagas ou em parte de seus cursos. É o caso da Universidade Federal do Piauí (UFPI) e da Universidade Federal de Tocantins (UFT) que destinarão, respectivamente, 50% e 25% das vagas ao sistema de seleção pelo novo Enem. Em outras iniciativas, como na Federal de São Paulo (Unifesp) e na Federal da Bahia (UFBA), a separação vem por cursos – na Unifesp, das 26 graduações oferecidas, 19 selecionarão estudantes pelo novo Enem e na UFBA o novo método só será usado na seleção dos bacharelados interdisciplinares e no curso superior de tecnologia.
Os dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) mostram que das 58 instituições ligadas à Andifes, 23 entrarão (parcial ou totalmente) no sistema de seleção unificado e 20 usarão o exame nas outras três opções permitidas pela proposta do MEC: como primeira fase, como parte da nota do vestibular ou para preencher vagas remanescentes. Em 15 universidades, o novo Enem está descartado para a seleção de 2009 ou ainda é uma proposta em discussão.
De acordo com o último censo da Educação Superior realizado pelo Inep, das instituições que aderiram ao sistema de seleção unificado, apenas uma está entre as dez maiores universidades federais do país, a UFBA, que ocupa a 9ª posição no ranking. Porém, na UFBA, a nota do novo Enem selecionará estudantes para 950 das 6.400 vagas oferecidas, já que a universidade adotou parcialmente o novo método.
Possibilidades
Uma das características da proposta do Ministério da Educação (MEC) é a flexibilidade de escolha das instituições por parte dos candidatos, permitida pela unificação dos processos seletivos, já que o egresso do Ensino Médio poderá, de posse da nota do Enem, pleitear vagas em cinco instituições. Das 58 instituições associadas à Andifes, em 2009, os estudantes poderão migrar (com a nota do Enem) apenas entre 23 delas: uma na região centro-oeste (UFMT), duas na região Norte (UFT e Ufam) três na região Sul (UFPel,UTFPR e UFCSPA), seis na região Nordeste (UFRPE,UFPI, UFRB,Univasf,Ufersa e UFBA) e dez na região sudeste (UFABC, Unifesp,UFVJM, UFRRJ, Unifal,Unifei,Ufla, UFSJ,Unirio e Cefet-RJ).
Desse modo, as assimetrias na adesão à prova unificada do Enem podem restringir as possibilidades de escolha e criar espaços específicos de circulação dos alunos. Além disso, de acordo com suas escolhas, os estudantes continuam submetidos à várias viagens e provas, se escolherem instituições que aderiram ao novo Enem e outras que não estão no sistema de seleção unificado. Um estudante carioca que pretende entrar na UFRRJ ou na UFRJ, por exemplo, terá que fazer o Enem e a prova específica da UFRJ. Se esse aluno ainda quiser tentar uma terceira universidade, em outro estado, que também não adotou o novo Enem como porta única de entrada, deverá viajar para fazer outro vestibular.
A presidente da Comissão de Desenvolvimento Acadêmico da Andifes, reitora Malvina Tuttman (Unirio) acredita que a mobilidade por meio do novo Enem ainda está um pouco restrita, mas que este é um primeiro momento: "Estamos em um projeto piloto que vai indicar aspectos positivos e limitadores do novo sistema", explicou. A reitora lembra que as duplicidades de provas ainda persistirão, devido às universidades federais que não aderiram ao sistema e às universidades estaduais, por exemplo, que também não compartilham da proposta do MEC. "A mobilidade vai variar muito, pois depende das universidades, mas já se abriu um grande leque de possibilidades", afirmou Malvina Tuttman.
Atualmente, sem a possibilidade do novo Enem, a mobilidade já é pequena, segundo informou a presidente do Fórum de pró-reitores de Graduação (Forgrad) Maria José Sena (UFRPE). "Não creio que haverá uma explosão de mobilidade, por um fator cultural; nem se as 55 universidades federais tivessem aderido ao Enem como fase única", afirmou Maria José. De acordo com a pró-reitora, esse incremento nas migrações deve ocorrer em uma escala lenta, ganhando força em médio e longo prazo, o que também depende da adesão das Ifes ao processo, que é gradativa.
O presidente do Fórum de pró-reitores de Assuntos Comunitários e Estudantis (Fonaprace) José Francisco Silva Dias (UFSM) afirmou que uma das discussões no âmbito do Fórum é justamente essa restrição da mobilidade. "Por enquanto ela está um pouco comprometida, mas esse é um período normal de transição. Mobilidade não é fácil, as universidades têm que estar preparadas", destacou José Francisco, fazendo referência ao aumento dos recursos para assistência estudantil prometido pelo MEC, para subsidiar o novo sistema.
O presidente da Andifes, reitor Alan Barbiero (UFT) ponderou que a implantação do novo Enem é um processo em construção. "Este ano a mobilidade pode ser menor, mas representa um avanço e a expectativa do sistema em experimentar um novo modelo", afirmou Barbiero. Segundo o presidente, esta primeira edição do novo Enem proporcionará respostas sobre algumas hipóteses, como as questões da assimetria regional, do impacto no Ensino Médio e da democratização do acesso ao Ensino Superior. "A partir dos dados objetivos, poderemos ampliar a discussão, comparando o perfil do aluno que entrou pelo Enem com o perfil daquele que entrou pelos vestibulares tradicionais", analisou o presidente da Andifes.
Inscrições
De acordo com solicitação do Inep à Andifes, as Ifes estão apoiando os estudantes no processo de inscrição para o novo Enem. As inscrições para o exame começaram no dia 15 de junho e, como serão realizadas exclusivamente pela internet, o Inep pediu a colaboração das Ifes no sentido de disponibilizarem terminais equipados com máquinas adequadas para os estudantes realizarem a inscrição. Em menos de uma semana do prazo aberto, foram registradas aproximadamente 1 milhão de inscrições – até a última sexta-feira (19) foram 924 mil. O prazo termina dia 17 de julho e a expectativa do Ministério da Educação é chegar a 7 milhões de participantes.
Programa Andifes de Mobilidade Estudantil
Desde 2003, a Andifes, por meio do Programa Andifes de Mobilidade Estudantil, viabiliza a mobilidade de estudantes de qualquer curso de graduação das Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes). Eles têm a oportunidade de se deslocarem temporariamente para outras instituições federais, onde podem estudar por até um ano, aproveitando os créditos quando retornam às suas instituições de origem. Os estudantes interessados devem procurar suas instituições e se informarem sobre os procedimentos.