Escola Viva, na zona oeste de São Paulo, dividirá as disciplinas com base nas quatro áreas pedidas pelo exame do ministério. Professores de diferentes matérias trabalharão um mesmo tema para tornar o conteúdo interdisciplinar; isso já acontece na Politeia
Por muito tempo, a escola Viva, na Vila Olímpia (zona oeste de São Paulo), foi considerada "alternativa", distante do sistema de ensino oferecido pelas escolas tradicionais da cidade. Matérias como expressão corporal e artes faziam parte do currículo obrigatório e os conteúdos eram passados para os alunos com base em projetos, abordados por todas as disciplinas ao mesmo tempo. Ano que vem, ironicamente, a escola vai se adequar à tendência: abrirá o ensino médio dividido nas mesmas áreas que o Enem deste ano -linguagens, códigos e suas tecnologias; matemática e suas tecnologias; ciências da natureza e suas tecnologias; e ciências humanas e suas tecnologias. Cada uma das quatro áreas abriga um grupo de disciplinas, que são planejadas juntas. "Em ciências da natureza, por exemplo, os professores de biologia, física e química criam articulações. Há um grupo de assessores externos que elabora trabalhos dessas três disciplinas em conjunto", afirma Ferreira. "Foi uma feliz coincidência criarmos o ensino médio nesse momento, em que há um contexto favorável para o projeto da escola. Se fosse em outros tempos, teríamos uma grande pressão para focar só no conteúdo propriamente dito", diz o diretor do ensino fundamental e médio, Francisco Ferreira.
O conceito não é novo em escolas como a Politeia, de linha democrática (onde os estudantes participam de todas as decisões tomadas na escola, que vão desde o que eles querem estudar até quem regará as plantas da sala de aula). Todo o aprendizado é feito por meio de "trilhas de conhecimento", conta a sócia fundadora da escola Carol Sumie. Uma das trilhas estudadas, por exemplo, chamava-se "nossa escola, nosso bairro". Os alunos saíram pela região do parque da Água Branca (no centro de São Paulo), onde está localizada a escola, com o objetivo de estudar o bairro. Entre as tarefas que tinham que realizar, estavam entrevistas com moradores (para pesquisar história). Também escreveram uma revista sobre o que viram e ouviram e fizeram uma maquete, onde trabalharam conceitos matemáticos. É desta forma que o conteúdo obrigatório por lei é passado para os estudantes.
Talita Bedinelli – Folha de São Paulo, 01/11