Como ocorre com outros indicadores, o Fator de Impacto (FI), índice utilizado para avaliar a produção científica, também é vulnerável a truques, manipulações e mesmo fraudes.
Constatá-lo não implica rejeitar o sistema Qualis, desenvolvido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), para avaliar publicações científicas e pós-graduações com base no número e relevância das citações recebidas.
Ao contrário, se há algo de que o poder público se ressente, é a falta de critérios razoavelmente uniformes e objetivos para decidir como e onde alocará verbas. A ciência é uma das poucas áreas em que esse tipo de facilidade está disponível – e justamente através de índices como o FI e outros.
Quanto às artimanhas para enviesar os resultados, são várias e conhecidas. Vão desde a ação entre amigos nas quais um cita o outro -numa variante altamente interessada do altruísmo recíproco da biologia- até fraudes clamorosas como inventar referências.
Mais do que isso, mesmo quando se joga de acordo com as regras, a utilização de índices pode produzir efeitos colaterais indesejados. Entre as receitas para melhorar o fator de impacto estão trabalhar apenas em áreas gerais e bem vistas pela mídia especializada, que rendem mais citações, e jamais “perder tempo” em obras de maior fôlego como livros, que mal aparecem nos indicadores.
Nada impede que os índices sejam aperfeiçoados, com vistas justamente a reduzir as possibilidades de manipulação e corrigir falhas de concepção. É preciso tratá-los como obras abertas, sempre passíveis de aprimoramento.
A analogia biológica aqui é com a corrida armamentista. Os responsáveis pelos indicadores precisam constantemente blindá-los contra a ação dos burladores, que sempre encontrarão novas oportunidades de usar o sistema em seu favor. O fato de sempre surgirem novos e mais poderosos pés de cabra não faz com que desistamos de usar cadeados.