Os velhos pedidos de carona ganharam o mundo virtual. Sites tornam o processo mais seguro, defendem estudantes
Tempos atrás, os universitários pediam carona nas salas de aulas, nos corredores, nos estacionamentos. Na Universidade de Brasília, por exemplo, existe até um ponto de ônibus na saída do principal estacionamento da instituição. Claro que, por ali, ônibus não passa. A ideia do “ponto do carona” era que os que precisassem pedir uma ajudinha ficassem à vista dos motoristas. Timidez e medo não faziam parte dessas relações de camaradagem.
Hoje, a violência, a criminalidade e a insegurança provocada por elas tornaram esse tipo de solidariedade rara e restrita aos grupos de conhecidos. A quantidade de carros nos estacionamentos das universidades aumenta a cada dia e a maioria entra e sai praticamente vazia: só com o motorista.
Inconformados com essa realidade, mas conscientes das preocupações dos alunos com a segurança, estudantes de diferentes instituições brasileiras apostaram no ambiente virtual para resolver esse problema. Criaram sites na internet para estimular a oferta e os pedidos de caronas. Fábio Fonseca, de 23 anos, não se conformava em andar sozinho de carro enquanto os ônibus saíam lotados da universidade.
Mas o medo de oferecer carona a desconhecidos o fazia permanecer colaborando apenas com os amigos mais próximos. Foi aí que ele e o colega Thiago Carvalho, 24 anos, decidiram criar juntos um site para troca de pedidos e oferta de caronas. Estudantes de engenharia de computação e informação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), eles cursavam a disciplina Gestão da Inovação quando começaram a montar o portal.
O sistema virou projeto de final de curso e ferramenta utilizada por toda a universidade agora. Professores, estudantes e funcionários, que possuam email institucional, podem se cadastrar e partilhar itinerários, pedidos e ofertas de carona. Os dois estão tentando ampliar a ferramenta para jovens de outras instituições também. “A segurança do sistema é fundamental para que o projeto dê certo. O estudante tem certeza de quem está pegando ou oferecendo carona é da universidade. Fica mais fácil”, afirma Thiago.
Guilherme Valente de Souza, e o amigo Matheus Paiva Marosti, 25 anos, criaram um site em 2007 para ajudar os estudantes que, como eles, precisavam sair de outras cidades próximas a Campinas (SP) para ter aulas na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) todos os dias. Sem carro, eles enfrentavam muitas horas de ônibus para chegar à Faculdade de Engenharia da Computação.
Naquela época, tentavam arrumar uma ajudinha com os amigos mais próximos, que faziam parte da lista de emails da turma, ou no mural da faculdade. Depois, com a popularização dos sites de relacionamentos, tentaram criar comunidades específicas para isso. Mas a exposição de dados pessoais também preocupava muita gente.
“O site deixou o processo seguro, mais rápido. Ninguém tem medo de oferecer ou pegar carona assim, porque exigimos email da instituição para se cadastrar e só quem é cadastrado pode acessar as informações”, conta Guilherme. O UniCaronas já possui 5 mil usuários e ultrapassou os limites da Unicamp. Hoje, já aceitam cadastros até de instituições de outros estados, como a Universidade de Brasília (UnB) e a Universidade Federal do Triângulo Mineiro.
Mesmo formados, eles continuam mantendo a ferramenta funcionando e aceitam patrocínios e doações para mantê-lo.
Em prol do meio ambiente
Na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), um grupo de estudantes da Empresa Júnior Emas Consultoria, vinculada à Escola de Engenharia, decidiu unir utilidade e consciência ambiental. O projeto de site de caronas da instituição foi desenvolvido para tentar melhorar a qualidade ambiental no campus e é uma das iniciativas que faz parte de um grande plano diretor de transportes para o local.
Quem conta a história é a estudante de engenharia civil Lílian dos Santos, de 22 anos. Moradora de Contagem, cidade próxima à Belo Horizonte, ela conta que a empresa júnior está elaborando, a pedido da reitoria, propostas para diminuir a quantidade de carros no campus e incentivar o uso de outros meios de transporte. Antes de sugerirem a criação do site Caronas UFMG, eles estudaram experiências de outros países e fizeram pesquisa entre os estudantes.
Em pouco mais de três semanas, 450 usuários se cadastraram no sistema. Como nos outros sites, o email institucional é imprescindível para fazer o cadastro. Só depois de ativado o cadastro pelos gerenciadores do site, é que o usuário pode oferecer ou pedir carona. “O único dado pessoal que fornecemos é o email. As combinações são feitas entre os próprios estudantes”, conta. “Acho que é uma possibilidade de contribuir com o meio ambiente, ajudar as pessoas e fazer amigos”, pondera Lílian.