Intercâmbio interno

Se você é estudante de uma federal emorre de vontade de viver uma experiência em outra cidade, porémnão temcoragemde passar os quatro ou cinco anos da faculdade longe do bem-bomde casa, uma ótima oportunidade é aproveitar o Programa deMobilidade Acadêmica, criado
pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes). Muita gente nunca ouviu falar sobre essa espécie de intercâmbio nacional—que permite aos jovens estudar de um semestre a umano emeio emoutra parte do país, coma condição de voltar à instituição de origempara se formar.Mas quemestá experimentando ou já experimentou jura que vale a pena.

É o caso do estudante de relações internacionais da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) Eduardo Chiba de Lima, 19 anos. Ele soube do programa em uma palestra e não pensou duas vezes. Tratou de se inscrever para passar uma temporada na UnB. Deu tudo certo e ele chegou à capital federal emmarço deste ano. A ideia é ficar por umano. “Vimporque a UnB é omelhor centro de excelência naminha área e, para quemquer carreira pública, aqui é o lugar, por conta dosministérios, embaixadas, ONGs que promovemtrabalho voluntário”, explica.

De quebra,orapazaindaganhou amigos, uma enorme bagagem de conhecimentoe experiência de vida. “Fiquei mais independente. ”A única coisa que pesa é afalta de uma bolsa de permanência. O jeito é contar coma ajuda dos pais para pagar o aluguel da quitinete e as demais despesas.
“Acho que é essencial ter uma bolsa. Os gastos em Brasília sãosuperioresaqualquerregião”,observa.

Nem sempre os motivos da busca pelo intercâmbio são estritamente acadêmicos. Nessas horas, vale tudo para ajustar os interesses pessoais aos estudos. O programa caiu como uma luva para a cearense Natália Uchôa Brandão, 24 anos, que precisou se afastar temporariamente da federal do Ceará (UFC) por conta do casamento. Como seria difícil conseguir a transferência definitiva para a UnB, aproveitou o convênio da Andifes para passar uma temporada no DF. “Fiz a mobilidade porque casei e meu marido veio trabalhar em Brasília, mas conhecer uma outra federal, estar comoutras pessoas, excelentes professores e viver uma cultura diferente está sendomuitobom”, admite.

Natália confessa que teve medo de ser rejeitada pelos colegas no início, todavia ficou surpresa coma receptividade.  “Eles me acolheram muito bem, estão prontos para ajudar, explicar as diferenças de avaliação, mostrar o espaço físico da universidade. Não tive problema com ninguém”, conta ela, que está entrando no segundo semestre de intercâmbio. O último período do curso, no entanto, será concluído longe do marido, em Fortaleza.

“Tinha uma amiga que estudava em Brasília no curso de comunicação e me avisou sobre o programa.Vim para cá em 2008 para aprofundar meus estudos na área de direito internacional, o que eu queria. Sabia que o curso na UnB era muito bom e tinha um professor, Antônio Augusto CançadoTrindade, um dos maiores especialistas em direito internacional do Brasil. Cursei matérias em direito e algumas cadeiras livres, como relações internacionais e direito internacional público com ele. Morei com duas amigas, em uma república próxima à UnB. Foi uma experiência curta, de um semestre,mas bastante proveitosa.

Mesmo sendo também uma federal, a UnB tem uma qualidade superior e pude ter acesso a disciplinas que não existiam em Natal. O programa também é um pouco falho, algumas disciplinas não entraram no meu currículo porque não tinham código correspondente.A desse professor, por exemplo, não entrou.Não perdi o semestre, mas não aproveitei as matérias optativas.Acabei usando o conteúdo para o meu trabalho de conclusão de curso.Mas eu acho que em geral foi muito bom. Abriu minha cabeça tanto no aspecto acadêmico quanto na convivência estudantil. Quando voltei para a minha faculdade, comecei a ver novas oportunidades que antes não vislumbrava. Fiquei mais um ano para concluir o curso e voltei para Brasília em agosto de 2009, logo que me formei.

A mobilidade teve um impacto direto.Voltei para continuar meus estudos na área de direito internacional porque aqui tem os melhores centros de estudo e bibliotecas com obras relacionadas à matéria.O fato de já ter conhecido a cidade tornou a adaptação mais fácil.”

O Programa Andifes de Mobilidade Acadêmica é um convênio entre 59 instituições federais de ensino superior, firmado em2003. Os resultados são muito bons, porém ainda há muito a melhorar. A Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) não tem um balanço do número de alunos enviados e recebidos por todas as conveniadas. No entanto, levantamento informal da entidade, realizado de abril de 2003 a abril de 2010, mostra que 41 das 59 federais enviaram para outros estados 1.164 estudantes e receberam 896 pelo programa. No semestre passado, essas instituições enviaram165 alunos e acolheram139. Das 59 filiadas à Andifes, 41 responderamao questionário, 18 não se manifestaram e quatro não enviaram nem receberamalunos no período.

Na avaliação do secretário-executivo da Andifes, Gustavo Balduíno, o programa permite uma troca cultural e engrandece a formação dos alunos. “Os estudantes ainda não descobriram a importância da mobilidade. Ela ainda não passou a ser um fator de qualificação da formação profissional. “Um dos motivos, acrescenta, é a falta de divulgação e informação nas universidades. Para os que sabem do programa e pretendem embarcar nessa experiência, destaca Balduíno, dois fatores têm atrapalhado: a falta de condições financeiras dos jovens para semanter emoutra cidade e os currículos diferentes (o modelo obriga a aceitaros créditos, mas nem sempre as disciplinas são substituídas e é preciso cursar um semestre a mais, o que pode atrasar a formatura).

Balduíno ressalta que a criação do convênio já foi um grande passo. Agora a luta é para fortalecer a cultura do intercâmbio nas instituições de ensino e conseguir apoio financeiro do governo e parcerias. O secretário-executivo afirma que não há previsão orçamentária para apoiar amobilidade. Por enquanto, o que há de concreto é uma parceria como Banco Santander, iniciada em 2009. A ideia é oferecer 320 bolsas por ano, divididas entre 58 universidades. Assim, cada uma recebe de cinco a seis bolsas para os intercambistas, no valor de R$ 2,5mil (cinco parcelas de R$ 500). “Ainda é pouco e por enquanto não temos nenhuma outra parceria emtratativa”, observa Balduíno.

A demanda de estudantes de outros estados para participar da mobilidade na UnB é muito maior do que a de alunos de Brasília que querem ir para outros lugares, de acordo com a Diretoria de Acompanhamento e Integração Acadêmica (Daia) da UnB.Uma das razões é a falta de conhecimento sobre o programa. Foi por causa da vinda de um colega de outro estado para a capital federal que a estudante de administração Juliana Carvalho, 21 anos, soube da possibilidade de experimentar uma nova vida por seis meses. Como namorava um rapaz de Salvador, ela se inscreveu para a Universidade Federal da Bahia (UFBA) e foi aceita. Viajou no segundo semestre de 2009 e passou o 6º período do curso na instituição baiana.

“Sempre gosteimuito de Salvador, passei várias férias e tinha a curiosidade de saber como era morar lá. Aí tive a oportunidades de unir a vida pessoal e profissional num ambiente diferente, sem precisar abandonar a minha faculdade. O fato de ser temporário foi o que mais me interessou”, revela amoça. Juliana confessa que no início ficou receosa por “bagunçar um pouco a grade curricular”, mas depois percebeu que os diferentes pontos de vista passados pelos professores da UFBA valeram a pena. “Tenho professores na UnB que já trabalharamemgrandes empresas, porém muitos são da academia ou órgãos públicos. Lá conheci outros daOdebrecht, Petrobras, sem contar que gostei muito do local, das pessoas.” A futura administradora afirma que a experiência a fez amadurecer bastante e possibilitou almejar algo mais distante. “Agora tenho mais vontade de
sair de Brasília quandome formar.”

Ele está indo
O estudante de comunicação social da UnB Pedro Paulo Souza Santos, 19 anos, também soube por meio de um amigo e se interessou em participar. “Queria ter uma chance de aprender fora daUnB”, comenta ele, que já está ansioso. “Acho que vale muito pela experiência de vida, acima de tudo. Morar longe dos pais, dos amigos, focar nos estudos, aprender coisas novas.” A ideia era ir no início de 2011, mas a greve dos professores de Brasília adiou sua ida para o segundo semestre do ano que vem. Ele planeja ficar pelo menos um ano. Só que ainda está em dúvida entre UFSC e a UFRJ. “É mais fácil amoradia em Santa Catarina que no Rio, porque tenho família no Sul. Mas a credibilidade da universidade é o que vai pesar, o que chamar mais atenção no currículo. Vou tentar uma bolsa, mas se não der, o jeito vai ser morar por fora.”

Depois de cursar dois anos de faculdade em Honduras, a estudante de jornalismo da UFRJ Caroline Sá Ferreira, 25 anos, começa agora mais um semestre fora do Rio de Janeiro. Desta vez, na UnB. Ela decidiu vir por conta damudança da família para a capital da República. E vai aproveitar os recursos da universidade para enriquecer o currículo. “Acho que vou gostarmuito. Emtermos de estrutura, a UnB é bemsuperior à
minha faculdade. Eu gosto de mexer com vídeo e aqui temtodo esse suporte, também peguei matérias de política e economia.”

Quanto à disposição da cidade, Caroline diz que ainda não se acostumou. “Brasília é uma cidade muito plana, muito organizada. É um pouco estranho, mas sou de fácil adaptação. Só as tesourinhas que me enlouquecem, parece que saí e voltei para o mesmo lugar”, conta, aos risos.“

Para participar do processo, o aluno deverá ter cursado, sem reprovações, o 1° e 2° semestres. A partir do 3º semestre, não se pode ter mais de uma reprovação por semestre. Confira passo a passo como se inscrever:

» Verifique se a universidade que você pretende cursar a mobilidade consta da listagem das participantes do programa.
» Depois, confirme no site da instituição pretendida qual é o prazo para solicitar matrícula em mobilidade e quais os documentos necessários.
» De posse dessas informações, o aluno deverá elaborar uma carta de apresentação ao coordenador do curso na UnB, solicitando a mobilidade e expondo os motivos pelos quais deseja cursar o intercâmbio.
» O estudante deverá ter em mãos as ementas das disciplinas que pretende cursar na instituição de destino e entregá-las ao seu coordenador, para que ele elabore a Declaração de Equivalência. Com o ofício, são necessários os seguintes documentos:

– Histórico escolar;
– Cópia do RG e do CPF;
– Fluxograma do curso;
– Documentos exigidos pela outra federal.

» Com tudo em mãos, o processo deverá ser encaminhado pela secretaria do curso, via UnBDoc, para a Diretoria de Acompanhamento e Integração Acadêmica (Daia), da UnB, até no máximo 60 (sessenta) dias antes do início do período letivo solicitado para admissão no programa.
» A Daia encaminhará o processo à instituição onde o aluno pretende matricular-se;
» Se a instituição de destino deferir o processo, será feito o trancamento justificado do aluno na SAA;
» O aluno será apresentado à universidade de destino, que o receberá e fará a sua matrícula;
» Ao final de cada semestre, a instituição de destino encaminhará à Daia as notas do aluno;

Para mais informações, entre em contato com a Daia pelo telefone (61) 3307-2540 ou pelo e-mail intercambiodaia@unb.br