Professores da Unb que não deram aulas nem orientaram alunos foi um dos principais problemas dentre mais de 12 listados pela agência de fomento nos 27 cursos da UnB com conceito 4
Pelo menos 13 problemas foram apontados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) nos 27 programas de pós-graduação da Universidade de Brasília com conceito 4 na avaliação trienal da agência de fomento, divulgada em agosto. O levantamento foi apresentado pelo Decanato de Pesquisa e Pós-Graduação em reunião nesta segunda-feira, 18 de outubro, com os coordenadores dos programas avaliados com essa nota. O encontro discutiu o desempenho de cada curso e foi o quarto realizado pelo DPP para debater a performance da UnB na avaliação. O problema mais grave, na opinião da decana Denise Bomtempo, foi o fato de que professores de mais de um programa não deram aulas nem orientaram um único aluno do mestrado ou doutorado durante o triênio. O acompanhamento de ex-alunos também foi considerado insatisfatório em muitos programas. “Não é admissível um docente de pós-graduação não exercer as funções básicas de ensino, pesquisa e orientação”, disse.
A Capes apontou também baixo número de teses e dissertações defendidas e de pesquisas realizadas pelos professores, desequilíbrio de produção entre docentes e falta de clareza sobre uma pesquisa ser de autoria do docente ou do aluno. “A pesquisas estão concentradas em um número reduzido de professores. Alguns docentes produziram muito, outros quase nada”, explicou Denise Bomtempo. Os avaliadores da agência consideraram ainda que muitos programas não deixaram claro quais os critérios utilizados para credenciar docentes e outros têm alto número de colaboradores em relação ao corpo docente permanente.
Outro problema identificado pela Capes foi incoerência entre as linhas de pesquisa propostas por alguns programas e os estudos produzidos pelos pesquisadores. Também foi apontada falta de coesão entre várias linhas de pesquisa e as áreas de concentração às quais estão ligadas. Foi o caso do programa de pós-graduação em artes. “Estamos com esse problema desde a avaliação anterior e não conseguimos resolver”, explicou o coordenador do programa Nelson Maravalhas, durante a reunião. Os avaliadores da agência de fomento encontraram ainda bibliografias desatualizadas em vários planos de cursos, projetos de pesquisa sem financiamento institucional e ausência de acordo de cooperação entre a UnB e instituições de ensino com as quais pesquisadores mantém parceria. “A Capes entende que se houve financiamento institucional é porque a qualidade da pesquisa foi atestada”, explicou a diretora de Pós-Graduação do DPP, Georgete Medleg Rodrigues.
Peso – A Capes analisa a proposta do programa, a produção científica e a qualidade dos corpos docente e discente dos programas de pós-graduação de todo o país. Dos 27 programas da UnB com nota 4 somente os de ciências mecânicas, ciências médicas, psicologia clínica e cultural e ciências da saúde foram considerados muito bons em pelo menos dois dos quatro itens analisados pela agência. E somente em um deles, ciências da saúde, recebeu o desempenho de muito bom no quesito com mais peso na avaliação, o que mede a produção científica do programa.
Os coordenadores dos programas de pós-graduação que participaram da reunião apontaram contradições na avaliação da Capes e criticaram o peso dado à produção quantitativa dos programas em detrimento da qualitativa. “O sistema de avaliação é muito cruel”, comentou o professor José Garrofe Dórea, do programa de pós-graduação em ciências da saúde. “Claro que devemos fazer o coleta Capes, mas precisamos mostrar sinais de insatisfação e resistência em relação a muitos dos itens previstos, como a utilização, por exemplo, do mesmo padrão de avaliação para cursos de humanas e exatas”, indagou. “A UnB precisa marcar uma posição mais reivindicatória em relação à avaliação”, defendeu. O coordenador do programa de pós-graduação em ciências animais, Cristiano Barros de Melo, discordou de muitos pontos da avaliação da Capes. “Somos o único programa que tem docentes com interface com a Embrapa e aí a Capes vem nos penalizar com o argumento de que 61% dos nossos professores estão abaixo do nível ideal. Como isso é possível?”, reclamou. “É um sistema perverso”, definiu.
Infra-estrutura – Falta de laboratórios, salas de aulas e até de computadores foram apontados pelos pesquisadores dentre as dificuldades para produzir pesquisas. “Precisamos dar condições para que professores e alunos produzam com qualidade”, defendeu a coordenadora do programa de pós-graduação em Contabilidade, Fátima de Souza Freire. “Não temos laboratórios, computadores nem salas de aula adequadas”, reclamou. Muitos coordenadores relataram também dificuldades de preenchimento do sistema de coleta de informações da Capes. “A rotatividade de servidores é muito grande. Eles não têm conseguido nos auxiliar”, afirmou o professor Rafael Sanzio, da pós-graduação em geografia. “Estamos incapacitados de preencher o coleta de maneira compreensível o suficiente para ter boa nota. O coordenador do curso é também professor e pesquisador”, destacou o professor da pós em engenharia elétrica, Rafael Timóteo de Sousa Junior. O coordenador do programa de saúde animal, Vitor Salvador Gonçalves, defendeu, por outro lado, que o preenchimento deve ser atribuição do coordenador e ser feito de uma só vez. “Os funcionários técnicos devem nos ajudar a formar e manter atualizados os bancos de dados que necessitamos para preencher o coleta, mas essa tarefa tem de ser executada pelo coordenador”, disse. O professor Leopoldo Luiz dos Santos Neto, da pós-graduação em ciências médicas, destacou a dificuldade de manter no programa professores com altos índices de produção. “Há momentos em que o professor titular não está no ápice da sua produção e precisa ir para o banco de reservas para recuperar a energia e voltar ao campo”, comparou. “Muitos professores têm dificuldades em aceitar isso”, disse.
Sugestões – Os coordenadores sugeriram uma lista de temas a serem debatidos no seminário que o DPP vai realizar no final do próximo mês com todos os programas de pós-graduação da UnB para debater estratégias para melhorar a atuação na próxima avaliação da Capes, em 2013. Uma delas é a discussão de mudanças no regulamento da pós-graduação, que é 2004. “Precisamos estudar a possibilidade de redução no número de créditos obrigatórios, porque os alunos passam mais da metade dos cursos de mestrado e doutorado assistindo aulas e não pesquisando”, defendeu o professor Luiz Eduardo Blum, da pós-graduação em Fitopatologia. Incentivo à participação precoce de estudantes nas pesquisas e intensificação dos treinamentos para preenchimento dos relatórios também foram sugeridos.