Professor da UnB, foi reitor no período 1989-1993. É secretário executivo substituto do Ministério da Ciência e Tecnologia
Mais um teste, desta vez internacional, para avaliar a situação da educação brasileira. E, mais uma vez, oportunidade para refletir a respeito da medíocre situação da educação, quando comparada com países da própria América Latina, ou da péssima situação, quando comparada com os países desenvolvidos.
Essa é a situação da nossa educação. No entanto, houve melhoria, em relação ao teste de 2006, de 20 pontos em média, em leitura, ciências e matemática, áreas escolhidas para a realização do teste. Esse resultado trará muitos comentários a favor e contra. Aqueles, por considerarem que só dois países tiveram aumento maior que o nosso. Esses por acharem, que qualquer avanço tendo como referência uma base de conhecimento muito baixa provoca resultados relativos muito bons. Esses argumentos são reforçados, ainda, por conta da péssima classificação do Brasil, na lista dos países participantes.
Não quero reforçar nenhum dos dois grupos, pois acho que o importante é analisar o resultado do teste com olhar crítico, de uma forma diferente daqueles que acham que o diagnóstico é exatamente o mostrado pelo resultado do teste.
Vejamos a situação do DF, que foi quem apresentou o melhor resultado do Brasil, no teste. Como todos nós sabemos, nos últimos 15 meses passaram pelo DF quatro governadores, os quais traumatizaram a capital da República. A cidade sofrida, com autoestima em baixa, viu a passagem de quatro secretários de educação.
Não há, portanto, uma situação confortável para sentir orgulho pelos resultados apresentados pelos alunos do DF. Muito menos para afirmar que esses resultados foram fruto de medidas tomadas pelos dirigentes da educação.
Isso é para mostrar que os indicadores não têm esse poder que lhes é atribuído por todos aqueles que querem fazer críticas em cima dos mesmos, ou contrariamente se utilizam dos indicadores para reforçarem positivamente a atuação de suas políticas.
O que o teste revela é que está havendo melhoria entre os alunos de 15 anos, que são os que participam do mesmo. A idade corresponde aproximadamente à última série do ensino fundamental. Esse avanço coincide com a melhoria que já vinha sendo mostrada pelo Ideb. Outra revelação é que os alunos da rede federal, Ifetes e Cefetes, são os primeiros entre os brasileiros, confirmando o que já se sabia desde há muito tempo, pois o investimento médio num aluno da rede federal é de três a quatro vezes o investimento num aluno da educação básica nas redes públicas estaduais. A outra revelação é também conhecida há muito tempo: as escolas particulares têm melhor desempenho do que as públicas. Aqui, no entanto, seriam necessárias maiores explicações do Inep, pois os resultados do teste Pisa mostram que, quando são aplicados aos resultados, alguns fatores corretivos, em função das diferenças socioeconômicas dos pais e do entorno, onde se situam essas escolas, a diferença entre a escola privada e a pública cai bastante e os resultados se aproximam muito. Em relação a essa situação o Inep não apresentou nenhuma informação.
Uma importante revelação a respeito da qual não tenho lido comentários, refere-se ao baixo percentual de alunos brasileiros, em torno de 1%, que aparecem nos níveis 5 e 6 do teste, que são os níveis considerados como de muito bom e de excelente conhecimento. Esse percentual se situa entre 8% e 13% nos países de ponta. Para o Brasil, que possui um Sistema de Ciência, Tecnologia e Inovação em fase de consolidação, que investe muito em formação de recursos humanos (mestres, doutores e pós-doutores), – mas que precisa avançar muito mais para se transformar num país que exporta média e alta tecnologia no lugar de exportar majoritariamente produtos naturais -, não pode se conformar em só aumentar a média dos alunos, melhorando aqueles que estão em pior situação. É necessário também, se preocupar com investimento dos melhores alunos das escolas públicas, pois é nelas onde achamos uma grande massa de estudantes para serem trabalhados. Dessa forma, estaremos contribuindo para alimentar o nosso incipiente, mas bem estruturado sistema de Ciência, Tecnologia e Inovação.