A educação a distância é uma das muitas possibilidades de uso de recursos tecnológicos e não pode mais ser considerada uma novidade.
Desde os anos 80, no Brasil, discute-se sua perspectiva em consonância com experiências de outros países. Argumenta-se que ela amplia o acesso às universidades, principalmente as públicas, da população que trabalha e/ou cuida da família. Também ajuda alunos que enfrentam dificuldade de transporte para chegar à escola. O morador de uma região afastada no Amazonas, por exemplo, é favorecido.
Por outro lado, argumenta-se que identidade profissional não se forma a distância. Não há um convívio com a vida acadêmica, que inclui debates e reflexões, diálogo direto entre colegas e professores, participação em movimentos estudantis e presença em bibliotecas, laboratórios, salas de vivência etc.
A identidade profissional é uma trama cognitivo-afetiva complexa, que resulta dessa rede de relações. Tal identidade implica uma presencialidade que o ensino à distância não oportuniza.
Outra preocupação refere-se às desigualdades entre os programas presenciais e os programas a distância. A experiência já mostrou que não é possível fazer uma transposição simples de conteúdos.
Textos precisam ser adaptados ao formato virtual. Não se pode garantir, ainda, equidade de nível entre os dois formatos, e não temos experiências comprovadamente bem sucedidas nesse campo.
Chama a atenção, portanto, o fato de uma estratégia de aprendizagem com adequação e eficácia não comprovadas ter sido transformada em política pública voltada quase exclusivamente à formação de professores.
Não há dúvidas de que o país precisa ampliar o número de docentes para a educação básica. Mas o país também carece de médicos, e não me consta que tenhamos uma política oficial de formação de médicos a distância.
Isso expõe um fato: educação ainda não é a grande meta de nossos governantes.
ÂNGELA SOLIGO é professora da Faculdade de Educação da Unicamp