Os resultados do vestibular feito a partir do Enem trazem duas boas novas. Oxigenou a lista dos dez primeiros da UFPE com alunos de escolas públicas e possibilitou a presença de outros cursos na lista que não apenas medicina ou direito. O modelo de seleção até então vigente possuía como eixo a ênfase no treinamento para a resolução de questões de múltipla escolha, cujas mais difíceis eram da área de exatas, com uma infinidade de fórmulas a decorar e cálculos por fazer. Tal atividade era normalmente encaminhada através daquilo que toda uma geração conheceu como ´bizus`, dicas que facilitavam a memorização e em torno deste fim, o Recife viu crescer um dos maiores polos educacionais do Nordeste. Salas de aula com dezenas e até centenas de alunos, professores ´showmans`, ´aulas-show` e ´aulões` com dicas de última hora e onde proliferam músicas e quadrinhas que facilitam a tarefa da memorização deste ou daquele conceito ou acontecimento. Assim, o que deveria ser um meio para a construção do conhecimento transformou-se rapidamente em seu fim, aliado ao estímulo de um clima extremado de competição entre os jovens que inverte perversamente e compromete o próprio processo pedagógico.
Quando o Enem começou a ser aplicado já trazia claro o seu objetivo de estimular a construção de habilidades e competências com ênfase na interdisciplinaridade, superando uma visão do conhecimento separado em setores estanques e isolados. Efetivamente, a redução do peso das fórmulas decoradas como instrumento de resolução de questões equilibrou a avaliação de todos os alunos, tanto dos que buscavam cursos na área de exatas onde o cálculo é fundamental, quanto na área das ciências humanas. O resultado do vestibular da Covest expressa essa nova realidade, em que pese ainda a presença de um bônus na composição da nota dos alunos oriundos da escola pública. Mas, demonstrou porque os grandes grupos empresariais da educação reclamaram tanto contra o MEC e o Enem.Veem em xeque a sua fama de bons “aprovadores” no vestibular e precisam redesenhar seus currículos e práticas pedagógicas. Resta provado que o velho modelo centrado no treinamento do aluno para resolução de questões de múltipla escolha é insuficiente para a formação do cidadão e do profissional que o novo século precisa.
Ainda está por se avaliar, entretanto, o impacto da possibilidade de uma concorrência nacional para as vagas disponíveis nas universidades de cada estado. De imediato, novamente ocorreu um aumento assustador da concorrência na UFRPE. Se confirmado que tal aumento deveu-se a inscrições de alunos de outros estados, haverá muitas justas reclamações e talvez até reivindicações por algum tipo de “cota estadual”, afinal, as universidades possuem um papel central no desenvolvimento local. Se a demanda está tão grande, o caminho é a abertura de novos cursos, vagas e universidades, não uma simples possibilidade de mobilidade entre regiões. Em um balanço geral, portanto, o Enem passou bem por seu teste inicial, embora precise de ajustes na logística de operacionalidade e aplicação das provas. Ganharam a sociedade, a universidade, os alunos e professores e, algo fundamental, o MEC reforçou um projeto de educação que tem como eixos o reforço da escola pública e da qualidade do conhecimento.