Estados vão integrar políticas para o ensino médio

A partir deste ano, os Estados brasileiros vão intensificar a integração como forma de combater os problemas do ensino médio, considerado um dos maiores gargalos da educação no país. Em entrevista ao Valor, a recém-eleita presidente do Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Educação (Consed), Maria Nilene Badeca da Costa, conta que um dos pilares de sua gestão à frente da entidade será para aprofundar trocas de experiências e o compartilhamento de políticas públicas entre os governos estaduais.
“A união que existe entre os Estados através do Consed é muito importante. Paraná, Santa Catarina, Acre avançaram no ensino médio. Mostrar a experiência desses Estados e conhecer na práticas suas políticas de combate à evasão ou de renovação curricular podem ser boas saídas para o ensino médio [nos Estados onde os problemas são maiores]”, explica Maria Nilene, que também comanda a educação do Mato Grosso do Sul. Para ela, a integração se torna mais relevante num contexto em que 21 dos 27 secretários estaduais do país são “novatos”, ou seja, assumiram pela primeira vez a educação.

A prática também vai valer para o ensino profissionalizante. “Muitos Estados estão dando os primeiros passos nessa área, enquanto outros estão muito desenvolvidos. Em 2007, quando assumi, havia apenas uma escola com curso técnico. Hoje, temos 56 turmas espalhadas em 26 municípios”, relata Maria Nilene, sobre seu Estado.
Além do compartilhamento de políticas entre as secretarias, a presidente do Consed defende uma maior aproximação dos governos estaduais com a iniciativa privada para desenvolver o ensino médio profissionalizante. Ela cita uma iniciativa posta em prática numa escola sul-matogrossense durante sua gestão: “Os cursos devem ser oferecidos de acordo com os arranjos produtivos locais. Temos muitas usinas de açúcar e indústrias se instalando no Estado. Está aí a demanda por educação e por emprego.”

A secretária de Educação de Mato Grosso do Sul chegou a montar um curso técnico em açúcar e álcool dentro da usina Sulamérica, localizada a 80 quilômetros de Dourados, uma das principais cidades do Estado. “Não tínhamos recursos para montar laboratórios, usamos as instalações da própria usina. A primeira turma foi concluída em janeiro e 80% dos alunos estão empregados. É outra saída, foi bom para o governo e também para a empresa, que agora tem mão de obra qualificada”, ilustra Maria Nilene.

O Consed também quer afinar a parceria com o Ministério da Educação (MEC). Um dos interesses da entidade é a ampliação do financiamento federal à educação dos Estados. “Sem recursos externos, sem o Ministério da Educação apoiando os Estados é difícil andar. O MEC dá grande apoio na infraestrutura e a construção de escolas e também na parte pedagógica do ensino médio”, acrescenta ela. A dirigente também quer a participação do ministro Fernando Haddad na primeiro encontro da entidade no fim de março, em Tocantins. “É importante, principalmente para os novos secretários, que o MEC apresente suas principais políticas e sua nova estrutura, já que houve extinção de algumas secretarias e a união de outras.”

De acordo com Maria Nilene, o Consed também vai participar das discussões do projeto de lei do Plano Nacional da Educação (PNE), que aguarda formação da Comissão de Educação e Cultura da Câmara para o início da tramitação. Segundo ela, o Consed sugeriu que as secretarias estaduais formassem grupos de trabalhos para a formulação de propostas sobre o PNE. “O Consed vai selecionar as sugestões e apresentar à Comissão de Educação da Câmara e do Senado, com o objetivo de contribuir para a aprovação rápida do plano.”