Preocupação inclui ainda casos de plágios e origem de financiamentos. Ter docentes atuantes no mercado, para a reitora, é importante, mas traz problemas inéditos à instituição
DE CAMBRIDGE (EUA)
No topo do ranking de universidades da Times Higher Education, Harvard não é poupada de polêmicas. E duas delas, que lidam essencialmente com a forma como a universidade produz, estão motivando revisões em suas políticas internas. A primeira é a questão do conflito de interesses, exposta mais recentemente no oscarizado documentário “Trabalho Interno”. O filme questiona a porta giratória entre a academia e os grandes bancos e corporações. O argumento é o de que os interesses das instituições financeiras transpiram para as salas de aula por meio de professores que estão ou estiveram em suas folhas de pagamento -como o ex-reitor Larry Summers, que volta este ano a Harvard. “A universidade está hoje muito mais envolvida no mundo do que há 15 anos”, disse a reitora Drew Faust à Folha. “Isso é bom, pois traz experiências do mundo real, torna a pesquisa mais conectada. Mas levanta questões que a universidade não havia enfrentado antes.” O resultado foi a adoção, no ano passado, de uma inédita política de conflito de interesses redigida por uma comissão encabeçada pelo vice-pró-reitor Dabid Korn. A meta agora é que cada uma das 15 escolas da universidade decida sobre políticas específicas. A mais avançada, afirma Faust, é a da escola de medicina (muita coisa descoberta ali é patenteada e comercializada). A queda do reitor da respeitada London School of Economics, por ter aceitado doações do ditador líbio Muammar Gaddafi, ainda que por canais legais, também abriu uma discussão sobre quem financia as pesquisas nessas instituições. Em Harvard, no ano passado, por exemplo, 7% de seu orçamento veio de doações de empresas e indivíduos. A universidade está aumentando também o escrutínio sobre sua produção após vir à tona, no ano passado, que o conhecido biólogo evolucionista Marc Hauser, professor da instituição, mentia na conclusão de um de seus estudos. Há uma investigação em curso e o pesquisador está afastado. Na revisão de parâmetros, os estudantes são parte importante. Neste semestre, professores da escola de governo passaram a enfatizar que trabalhos contendo plágio -e referências a outros trabalhos sem a devida citação – serão anulados. “Parte do que temos feito para resguardar a integridade acadêmica é educar os estudantes”, diz a reitora.
PROFESSORES – Harvard também estabelece critérios rigorosos para contratar seus professores. Primeiro a universidade trabalha com uma ampla base de nomes, cuja produção é meticulosamente avaliada pelo atual corpo docente. Os selecionados passarão por mais três fases de escrutínio -colegas do mesmo campo, a diretoria da escola em questão e a reitoria. “E depois temos uma comissão ad-hoc, com gente de fora da universidade, para examinar as credenciais do indivíduo.” O processo busca os melhores. E os melhores custam caro. A universidade pagou US$ 1 bilhão a seus 2.100 professores em 2009. A reitora nega rumores de que haja salários de US$ 1 milhão ao ano. O atrativo em Harvard, ela diz, é o ambiente e a oportunidade intelectual, com colegas que desafiam o acadêmico a melhorar sempre, além de instrumentos para pesquisa, verba de viagem e boas instalações. E os salários? “Bom, estamos no mercado.” (LUCIANA COELHO)