Limite é bom senso de instituição e mantenedor

Abilio Baeta Neves, sociólogo

Quando abrir um novo curso de graduação?

Uma universidade pode abrir um novo curso por várias razões. A mais banal é a percepção da demanda da sociedade e da economia. Exemplo: cursos na área de turismo, negócios da saúde, etc. Outra razão pode ser a percepção da emergência de um novo campo de ocupação derivado do desenvolvimento das próprias atividades acadêmicas, como o curso de Bioinformática. Um terceiro motivo é recuperar uma área acadêmica em estagnação ou desaparecimento, como é o caso dos estudos clássicos. A questão, aqui, é separar a criação de cursos regulares de graduação de cursos de menor duração e menor ambição profissional e acadêmica. Nos casos de cursos para atendimento de demanda conjuntural e localizada, é óbvio que eles podem e devem ter, também, vida efêmera.

Como formatar esse currículo, já que é um curso novo?

No primeiro caso, é preciso conversar com a sociedade e a economia, ou seja, com os destinatários do curso em questão. No segundo caso, a orientação para a formatação do currículo deriva da percepção das necessidades de formação surgidas dos problemas acadêmicos e das peculiaridades do mercado profissional não acadêmico. No terceiro, recupera-se experiência pré-existente bem sucedida.

Qual o limite para que não se criem cursos aleatoriamente?

Os limites, nesse caso, devem ser o do bom senso tanto das instituições como de seus mantenedores. O governo federal patrocinou, nos últimos anos, um processo acelerado e nem sempre bem planejado de criação de novos cursos. No caso das universidades particulares, especialmente as com caráter empresarial, a abertura segue, predominantemente, pretensas estratégias de mercado. Muitas vezes o mercado ilude, noutras, serve de freio.

Com cursos tão específicos, não faz falta uma formação mais generalista?

Os cursos regulares de graduação devem assegurar, em seus campos, a formação de profissionais adaptáveis a um mercado de trabalho cada vez mais flexível e mutante. Esse é um desafio geral que não conflita, no entanto, com o surgimento de novas áreas de formação.

QUEM É
Graduado em Ciências Sociais e doutor em Ciência Política, foi secretário de Educação Superior do MEC, de 1996 a 2000, e presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).