O aumento no número de boas universidades não implica a piora daquelas que existem: implica mais opções para os melhores candidatos
A Folha noticiou em 10 de março que 25% dos convocados em 1ª chamada na USP em 2011 não se matricularam, e buscou razões para tal. O jornal considerou esse dado tão fora do comum que mereceu a principal manchete da Primeira Página.
Em resposta, a Fuvest, organizadora do vestibular da USP, mostrou que uma parte dos desistentes não poderia se matricular por não ter concluído o ensino médio. Efetuadas essas correções, os 25% se tornam 16%. Por que uma fração dos alunos desiste de cursar a USP? Que fração seria “grande demais”?
Algumas comparações auxiliam o entendimento da questão.
Tome-se o exemplo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que, situada em polo urbano e bem qualificada, tem semelhanças com a USP. Em 2010, 28% dos aprovados no vestibular não atenderam à primeira chamada.
Para as universidades federais que participaram do Sistema Unificado do MEC em 2011, a ausência na primeira chamada foi maior do que 50%. Na UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), a maior federal em São Paulo e considerada uma excelente universidade, a ausência foi de 39%.
Já no sistema da Universidade da Califórnia, que inclui Berkeley, Los Angeles, San Diego e outros campi, a taxa de desistência entre os alunos aceitos no processo seletivo é de 55%. Em Berkeley, dos 48 mil inscritos, 10,5 mil são convocados e apenas 4,4 mil se matriculam – ou seja, desistência de 59%.
Berkeley seria por isso uma universidade ruim? Não. Berkeley é, em todas as avaliações internacionais, a melhor universidade pública dos EUA e figura entre as dez melhores do mundo.
O que revela então o percentual de 59%, quase quatro vezes o da USP? Revela que um estudante de Illinois inscrito e aceito em Berkeley e também na Universidade de Illinois provavelmente prefere ficar em seu Estado -e por isso desiste de estudar em Berkeley.
De forma similar, alunos aprovados na USP e na Unicamp e moradores da região de Campinas podem preferir estudar onde moram.
Um levantamento bem-feito provavelmente poderá mostrar que a USP tem um dos menores índices de desistência entre as universidades brasileiras. O fato de oferecer vestibular em 49 cidades no Estado de São Paulo e também em Curitiba, Brasília e Belo Horizonte é um dos fatores que afetam essa taxa.
Como esperado, os cursos com maiores índices de desistências estão no interior -nos campi de Bauru, Ribeirão Preto e São Carlos-, pois esses centros oferecem programas competitivos, de alta reputação, que atraem interesse de candidatos de outras regiões.
Os jovens paulistas precisam de mais vagas em boas universidades.
No caso de vagas em universidades federais, mesmo com o aumento recente, permanece a discriminação da União contra São Paulo.
Dados da Pnad/IBGE e do Censo do Ensino Superior de 2008 combinados mostram que, no Estado, apenas 0,7% das pessoas com ensino médio completo e idade entre 16 e 24 anos estão matriculadas em universidades federais -a menor taxa do país. Na Bahia, a chance é dez vezes maior -7,3%. Em Pernambuco, 20 vezes maior: 15%.
É possível e desejável que a ampliação da oferta de vagas em boas universidades em São Paulo venha a causar mudanças na maneira como candidatos escolhem seus cursos para todo o sistema.
O aumento no número de boas universidades não implica a piora das já existentes: implica mais opções para os melhores candidatos.
O desafio para as melhores universidades é o de ter uma atitude fortemente proativa na busca dos melhores estudantes -em qualquer lugar do mundo em que estejam.
*CARLOS HENRIQUE DE BRITO CRUZ, membro da Academia Brasileira de Ciências, é diretor científico da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). Foi reitor da Unicamp e presidente da Fapesp.
*RENATO HYUDA DE LUNA PEDROSA é coordenador do vestibular da Unicamp. Os dois autores são engenheiros de eletrônica pelo ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica).