Para esse avanço contribuem políticas de valorização do mérito na progressão docente e atenção à qualidade da graduação e da pós
Nas últimas semanas, foram divulgados alguns rankings internacionais de universidades: Webometrics, Arwu (Academic Ranking of World Universities), de Xangai, e QS, da Inglaterra.
Faltando a divulgação da listagem do Times Higher Education, as classificações das melhores instituições de ensino superior do mundo continuam a provocar reações discordantes, mas podem orientar, se bem compreendidas, uma discussão sobre a evolução e as mudanças de comportamento dos líderes das universidades brasileiras.
A primeira característica dos rankings a ser ressaltada é a existência de um conjunto de indicadores explicitados e medidos de forma quase independente por parte dos organizadores.
Bases de dados como a Web of Science e a Scopus sustentam o trabalho de quantificar a produção científica das instituições e o tornam preciso, com as limitações conhecidas nas áreas de humanidades e artes.
Alguns rankings incluem indicadores que não servem para diferenciar instituições localizadas fora dos Estados Unidos e da Europa. Um exemplo é o peso que se atribui, na nota final da classificação de Xangai, à contagem do número de professores (ou de ex-alunos) que receberam o Prêmio Nobel.
Merece atenção a importância atribuída à porcentagem de alunos e professores estrangeiros envolvidos nas atividades de docência e de graduação, situação algo corriqueira em países da Comunidade Europeia, mas incipiente em países como o Brasil. Apesar disso, os resultados estão aí e permitem estabelecer uma comparação entre as instituições brasileiras e suas congêneres mundiais.
O fato indiscutível é que, nos resultados conhecidos até o momento, USP e Unicamp ocupam as duas primeiras posições entre as brasileiras, além de terem subido na avaliação comparativa ano a ano com as demais.
Os desempenhos são diferentes de acordo com a listagem: a Universidade de São Paulo figura entre as 150 primeiras na de Xangai, é a 43ª colocada segundo os critérios do Webometrics e ocupa a 169ª posição no QS.
Já a Universidade Estadual de Campinas, que aparece entre as primeiras 300 na classificação chinesa, alcança o 158º lugar no levantamento do Webometrics e a 235ª posição na classificação inglesa.
O sucesso das duas instituições paulistas é resultante de uma combinação de fatores. USP e Unicamp desfrutam de situação invejável no que refere ao financiamento.
Detentoras de percentual do ICMS fixado pelo Estado, além de contarem com apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e de serem contempladas com recursos das agências federais, elas vêm melhorando seu desempenho a cada ano. Constituem hoje bons exemplos para a grande massa de universidades do país.
Para esse avanço contribuem a adoção, pelas três universidades estaduais paulistas (o rol inclui a Unesp, ao lado das supracitadas), de políticas voltadas para a valorização do mérito na progressão docente. As instituições também dedicam atenção permanente à qualidade da graduação e da pós-graduação, ao mesmo tempo em que aplicam recursos próprios em projetos acadêmicos.
Apesar da posição da USP ser melhor do que as de todas as universidades italianas e espanholas, dois centros acadêmicos tradicionais, a representação brasileira nesse grupo de excelência é muito reduzida, quando comparada à de países com comunidade científica e economia de dimensões semelhantes às nossas, como Espanha, França e Itália.
Superá-los seria meta realista, mensurável e benéfica.
MARCO A. ZAGO é professor titular de medicina e pró-reitor de pesquisa da USP; foi presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
JOSÉ R. DRUGOWICH é professor titular de física e assessor da Pró-Reitoria de Pesquisa da USP; foi diretor do CNPq.