Nos EUA, cada vez mais profissionais trocam aposentadoria pelas salas de aula
Aos 65 anos, Walt Patteson tem duas carreiras atrás de si e está feliz com a terceira, de professor de química do segundo grau. Ele é um dos americanos com idade para se aposentar que procuram exercer ainda suas competências optando pelo ensino.
Barry Ostrer, após 32 anos de IBM, começou este mês a ensinar matemática numa escola de
Barry Ostrer, após 32 anos de IBM, começou este mês a ensinar matemática numa escola de Englewood
À medida que a geração do pós segunda guerra (conhecida como baby boomers) chega à idade da aposentadoria, alguns dos seus integrantes que buscam uma nova carreira decidem ingressar no corpo docente em “community colleges”, colégios técnicos públicos que oferecem ainda reciclagem profissional, e em programas que lhes permitem aproveitar sua capacitação profissional na sala de aula.
Nem as recentes críticas de professores e os cortes dos orçamentos nas instituições de ensino impediram que muitos aposentados buscassem credenciais para ensinar – e encontrar empregos pagos, principalmente nas áreas de matemática, ciências e educação especial.
Muitos chegam ao ensino mais tarde porque gostam de desafios. Alguns querem ajudar comunidade ou se manter ativos. Outros precisam de uma renda ou de um dinheiro extra para complementar a aposentadoria. E outros ainda, como Patteson, precisaram de um estímulo para explorar o campo do ensino.
“Minha esposa disse que pararia de trabalhar se eu continuasse saindo todos os dias para jogar golfe”, disse. Depois de passar dez anos na Marinha, onde era piloto, ele voltou para casa para ajudar a administrar a fazenda da família em Tracy, Califórnia. Mas, vinte anos mais tarde, em 1999, quando a fazenda foi vendida, ele estava com apenas 53 anos e queria fazer alguma coisa voltada para a comunidade.
Patteson, que foi membro do conselho da escola local, ouviu falar de uma vaga na vizinha West High School para ensinar ciências, e resolveu aprimorar sua formação em ciências e matemática e tornar-se professor.
Participou de um dos 70 programas alternativos de preparação para o ensino da Califórnia e foi aprovado no exame de avaliação de seus conhecimentos de química, depois pegou algumas aulas e começou a lecionar. Ele obteve a licença do Estado para lecionar química, em 2004.
Assim como a Califórnia, onde os programas alternativos de ensino estão inseridos no California Teacher Group, todos os 50 Estados permitem a aspirantes a professores contornar a obrigatoriedade de uma formação tradicional em educação e buscar um atalho – usando o conhecimento adquirido na faculdade e ao longo das carreiras.
Embora não exista um levantamento oficial sobre os educadores com mais de 50 anos, a organização sem fins lucrativos Centro Nacional de Informações sobre Educação, em seu “Perfil dos professores nos EUA em 2011”, mostrou que 54 mil novos professores contratados, ou cerca de um terço, no ano letivo 2007-2008 eram “delayed entrants”, ou seja, pessoas com formação universitária que não seguiram diretamente a carreira docente depois da faculdade.
Embora a crise econômica tenha contribuído para a redução do número de aposentadorias de professores, ao contrário do que se esperava, muitas delegacias de ensino público ainda dispõem de vagas em matemática, ciências, educação especial, e de inglês como segunda língua. Até o final da década, serão necessários 440 mil novos professores para a escola fundamental e o curso secundário, enquanto o total de professores ultrapassa os 4 milhões.
Apoio
Algumas empresas ajudam no pagamento dos empregados que querem ensinar como uma segunda carreira. Barry Ostrer, que passou 32 anos na IBM, fez parte do programa da empresa Transição para o Ensino, que oferece uma ajuda de até US$ 15 mil para empregados com pelo menos 10 anos de casa que buscam seguir carreira no ensino.
Ostrer começou sua segunda carreira este mês, ensinando matemática para alunos da quinta série de uma escola na cidade de Englewood. “Ainda estou muito jovem para não fazer nada.” (Tradução de Anna Capovilla)