Pequeno e com foco em pesquisa científica, Caltech desbanca Harvard do topo do ranking mundial de universidades
DE WASHINGTON
O orgulho de ter batido a indefectível Harvard como primeira do ranking da THE (Times Higher Education) era indisfarçável no pequeno Caltech na última quinta, quando a lista mundial saiu. Após o anúncio, até o logo no site institucional foi adaptado para alardear o feito.
O Instituto de Tecnologia da Califórnia -ou Caltech- é, afinal, a menor das principais universidades americanas, com apenas 2.175 alunos entre graduação e pós (1/10 de Harvard, e menos que 1/3 da segunda menor nesse escalão, Princeton).
É também, ao lado da vizinha californiana Stanford, uma das mais “jovens” nesse restrito clube americano de instituições centenárias: em 2011 completou 120 anos.
“O Caltech não ganhou nenhum Nobel hoje, mas fomos listados como a universidade n.º 1 do mundo pelo ranking da THE! Superamos Harvard pela primeira vez em oito anos!”, diz o comunicado enviado pelo instituto, exclamações inclusas.
Não ganharam Nobel neste ano, mas colecionam 32 ao longo de sua história.
Parte do sucesso tem a ver com o tamanho conciso e o foco restrito em ciências exatas. São 525 professores (em média, 1 para 4 alunos), além de 208 professores-visitantes.
“Como há poucos alunos, conhecemos todo mundo; é muito fácil se adaptar aqui”, disse à Folha o brasileiro Alex Takeda, 20, desde 2009 no Caltech. Takeda, de Londrina (PR), chegou a entrar no ITA, mas preferiu estudar nos EUA, onde pensa em ficar para a pós-graduação.
Seu único compatriota na graduação é Ariel Setton, 18, que chegou ao instituto há três semanas, vindo de São Paulo. “O ambiente aqui é altamente cooperativo, algo um pouco incomum nas faculdades dos EUA “.
O Caltech tem um departamento de humanidades, e os alunos são obrigados a cursar suas disciplinas. Mas quem entra no instituto em Pasadena, a 10 km de Los Angeles, quer mesmo é estudar física, matemática e química.
A carga de estudos é puxada: a instituição sugere nove horas semanais de dedicação a cada matéria, e os alunos costumam cursar cinco ou seis por trimestre.
“O melhor que podemos fazer é continuar atraindo e apoiando pessoas excepcionais, dando a elas a liberdade para se dedicar a questões globais”, afirmou o presidente da instituição, Jean-Lou Chameau, em comunicado.
VANGUARDISMO
O Caltech prima pela pesquisa científica. É ali que está o Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa (JPL), o mais avançado em tecnologia espacial, responsável pelos projetos de sondas-robô para exploração interplanetária.
Também é ele que administra o imenso telescópio Keck, um dos mais importantes do mundo, fincado no Havaí. “[A diferença do] Caltech é que ele é mais focado na pesquisa científica e tecnológica”, diz Ariel. Em 2009 (último dado disponível), o instituto gastou 47% de seu orçamento em pesquisa.
Mas a excelência também atrai fundos: 87% do orçamento veio de aportes dos governos federal e estadual. Outros 33% vieram de empresas e indivíduos. O total da verba supera 100% porque, com a crise, o instituto perdeu parte do dinheiro de sua reserva.
“É um ambiente difícil”, admite Chameau. “Mas o Caltech tem sorte de ter doadores leais e parceiros cujo apoio nos permite investir em novas ideias muito antes que elas se tornem elegíveis ao financiamento público.”
O financiamento à pesquisa ali subiu 16% em 2011. “É esse modelo de parceria público-privada que permite que nossos fundos cresçam.” (COLABOROU IZABELA MOI)