Ministério da Educação tem o dever de organizar melhor as provas e aplicar os testes mais vezes por ano, como ocorre nos Estados Unidos
Em 2009, o Enem foi prejudicado por uma tentativa de fraude. Em 2010, falhas na montagem das folhas de resposta afetaram milhares de estudantes, que tiveram de refazer o exame. Neste ano, com os testes marcados para o próximo fim de semana, já há notícias de que ao menos centenas de candidatos receberam cartões de confirmação com local da prova errado.
Considerando-se que o novo Enem, que funciona como uma espécie de vestibular unificado para as universidades federais, só começou a ser implantado em 2009, o histórico da prova não desponta como dos melhores.
É preciso, porém, distinguir entre as falhas operacionais e o conceito do exame, que é cientificamente preciso e socialmente justo, o que recomenda sua manutenção.
A principal inovação do Enem em relação a suas versões anteriores está na metodologia. Desde 2009, a prova se baseia na Teoria da Resposta ao Item (TRI), que já se mostrou eficaz numa série de avaliações consagradas, como o SAT (o Enem norte-americano) e o Pisa (usado para comparar sistemas de ensino de diferentes países).
Desenvolvida nos anos 1950 e 1960 na intersecção entre matemática, sociologia e psicometria, a TRI torna possíveis testes refinados, que permitem comparar alunos submetidos a exames diferentes e aferir a performance de uma instituição ao longo do tempo.
Na verdade, tanto a tentativa de fraude de 2009 como as falhas organizacionais subsequentes poderiam ter sido evitadas se o Ministério da Educação tivesse avançado mais nas possibilidades abertas pela TRI.
Grande parte das dificuldades do Enem, na forma como vem sendo aplicado, está no que os estatísticos chamam de lei dos grandes números. Com 5,4 milhões de candidatos habilitados a fazer o teste do próximo fim de semana, basta que algo saia errado com apenas 0,2% das provas para gerar um pequeno exército de mais de 10 mil estudantes prejudicados.
Fazer um megaexame que envolva vários milhões de alunos é um quebra-cabeça logístico que apenas aumenta a vulnerabilidade do sistema. Seria muito mais razoável organizar seis ou sete edições do Enem por ano, como aliás ocorre com o SAT nos EUA.
Como vantagem adicional, esse passo diminuiria a carga emocional que pesa sobre os alunos, os quais não mais concentrariam nos dois dias de prova seus próximos 365 dias de vida.
Algo parecido vale para a segurança. Nada impede que o MEC elabore dezenas de diferentes modelos de prova, com questões completamente diferentes umas das outras. Se existe apenas uma chance em 50 ou 60 de um candidato a fraudador comprar a prova certa, violações de sigilo perdem valor de mercado.
Nos primeiros anos, é até verossímil o argumento de que o MEC não teve tempo hábil para explorar as possibilidades da TRI. À medida que o tempo passa, porém, a explicação perde sentido