Valor é o mínimo estimado em leilão; ministério vai comprar, com Estados e municípios, 900 mil máquinas
Governo reconhece que métodos de ensino serão desenvolvidos na prática; professores e alunos usarão aparelho
O MEC (Ministério da Educação) vai gastar sozinho cerca de R$ 110 milhões na compra de tablets para serem usados em sala de aula sem ter produzido um estudo definitivo sobre o uso pedagógico dos aparelhos.
Conforme a Folha revelou ontem, o MEC iniciou na semana passada, sem alarde, uma licitação para a aquisição de 900 mil tablets.
A compra total será de, ao menos, R$ 330 milhões, valor mínimo estimado em leilão. Só um terço dos aparelhos ficará com o MEC. O restante deverá ser adquirido por Estados e municípios.
Questionada, a pasta afirmou que o desenvolvimento do método pedagógico vai acontecer na prática, após a aquisição das máquinas.
Os equipamentos serão usados na formação de núcleos, como parte de um plano piloto, em que professores e alunos trabalharão com os tablets para depois disseminarem o aprendizado.
Para efeitos de comparação, o programa Um Computador Por Aluno, do qual a compra dos tablets faz parte, teve um início diferente. Na ocasião, foram fechadas parcerias com universidades que trabalharam no desenvolvimento de conteúdo e na avaliação da nova tecnologia.
Coordenadora do programa ministerial no Sul e no Amazonas, a pesquisadora da UFRGS (Federal do Rio Grande do Sul) Léa Fagundes é favorável ao uso do tablet, mas diz que a discussão sobre a compra do aparelho não passou por pedagogos.
A única audiência pública realizada pelo MEC para subsidiar a compra, em agosto, envolveu só aspectos técnicos, como sistema operacional e tamanho de tela, e não as questões educacionais.
O receio dela é que o tablet seja usado para reforçar o padrão educacional existente. “Tenho medo é de que os governos estejam comprando porque nele cabem 300 livros didáticos. Então, o paradigma não muda”, diz.
Autonomia
O plano do MEC vai nessa direção. A pasta afirma que uma das vantagens do tablet é poder incluir toda a biblioteca do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) num aplicativo.
O professor da PUC-SP Fernando José de Almeida diz que o MEC só deve dar a diretriz inicial, cabendo a Estados e municípios cuidar de projetos pedagógicos.
Almeida também defende que uma parte do aprendizado seja feito na própria sala de aula. “Precisa ter um plano pedagógico, mas também é necessário dar autonomia aos professores”, afirma.
O edital para a compra dos equipamentos foi lançado no fim do ano passado, ainda na gestão de Fernando Haddad.
O seu substituto, Aloizio Mercadante, é um entusiasta do uso da tecnologia na educação. Em sua posse, dedicou boa parte do discurso para tratar dos benefícios de computadores, tablets e outros.