Promessa de campanha da presidente Dilma Rousseff, o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) foi lançado há quase um ano e enfrenta dificuldades para cumprir a meta de oferecer 8 milhões de vagas no ensino profissionalizante até 2014. No ano passado, foram ofertadas apenas 617 mil vagas, segundo balanço parcial do Ministério da Educação (MEC).
O governo federal também enfrenta atraso nas obras de expansão dos institutos federais e dificuldades na contratação de professores. Especialistas em recrutamento e seleção apontam outro problema do programa. Segundo eles, muitas vezes a qualidade dos técnicos formados não é compatível com as exigências do mercado.
Para o coordenador-geral do Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica, William Carvalho, a expansão da rede federal de educação profissionalizante – iniciada com a construção de câmpus em 2008 – está ocorrendo sem estrutura.
“Quem quer expandir tem que prever as mudanças. O sindicato não é contra esse aumento no número de redes, mas ele nos leva a questionamentos. O processo não atende, principalmente, quem está na ponta”, argumenta. Ele ainda defendeu a contratação de mais professores. Atualmente, é comum em institutos federais professores ministrarem mais de uma matéria por falta de pessoal. A carência de docentes foi, inclusive, o motivo da greve da categoria em 2011.
Professor do Instituto Federal da Paraíba, José Araújo Pereira concorda que a expansão das redes federais não foi proporcional ao aumento de professores, o que, para ele, pode comprometer a qualidade dos cursos. O câmpus de Cajazeiras, onde o docente dá aulas de construção civil, é um dos nove paraibanos criados com a expansão. A previsão para 2014 é de 562 novas unidades federais, em 512 municípios, com capacidade para 600 mil alunos. Atualmente, são 38 institutos federais em funcionamento, que totalizam 405 câmpus. Dados do MEC indicam que 77 escolas estão com obras em andamento e 10, paradas por conta de problemas com as empresas contratadas. As restantes encontram-se nos estágios de obtenção e posse do terreno, em elaboração de projeto ou em processo licitatório.
Burocracia
Na opinião do professor Mozart Neves Ramos, conselheiro do movimento Todos Pela Educação e membro do Conselho Nacional de Educação (CNE), um dos maiores problemas ainda é a burocracia da área pública. “Isso é um reflexo de que o país não se planejou para o crescimento econômico nem para essas obras. Uma simples creche chega a demorar dois anos para ser construída”, critica o especialista.
A urgência alardeada pelo governo federal é uma resposta a um dos principais gargalos apontados pela indústria brasileira: a falta de mão de obra especializada. Por isso, a presidente Dilma prometeu recorrentemente durante a campanha eleitoral expandir a educação técnica. Só na ampliação do número de institutos federais foram investidos R$ 300 milhões. Segundo o diretor-geral do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), Rafael Lucchesi, essa área é uma das principais apostas do Brasil para o crescimento dos próximos anos. “Dos estudantes do ensino público que concluem o ensino médio, somente 10% vão para a universidade. E os 90% restantes? Eles precisam de oportunidades. O ensino técnico é a matriz educacional dos países desenvolvidos. É uma agenda importante para juventude, e para o Brasil ter competitividade”, justifica.
Apesar da necessidade, especialistas de recrutamento e seleção ouvidos pelo Correio afirmam que a formação técnica ainda é deficiente. A consultora de recursos humanos Marilac Castro diz que hoje está com 108 vagas abertas em Brasília, mas não consegue preenchê-las. “Eles (os candidatos) não recebem a prática de mercado e muitas vezes o lado comportamental é ruim. Esses candidatos ainda têm muito a cultura do assistencialismo, uma postura passiva em relação ao mercado”, critica. A psicóloga Bruna Lunardi, da empresa Diferencial, concorda: “Isso é algo perceptível. A parte técnica desses candidatos ainda é muito defasada”, garante.
Parceria
Um dos braços do Pronatec é a qualificação oferecida pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e pelo Serviço Social da Indústria (Sesi). No ano passado, o Sistema S ofereceu quase 13 mil vagas pelo Pronatec. A previsão é de que, neste ano, a oferta seja de 400 mil. De acordo com dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI), os setores mais aquecidos até 2014 serão de construção, automoção, fabricação de alimentos e bebidas, máquinas e equipamentos, entre outros.