As diferenças de prioridades entre os dois países não são nem triviais nem têm importância crítica
A visita da presidente Dilma Rousseff a Washington deve ser mais um passo positivo no processo contínuo da construção de uma maior confiança mútua e da cooperação entre as duas maiores nações das Américas, duas das seis maiores economias do mundo, e dois dos governos mais moderados e pragmáticos.
Alguns brasileiros se distraíram com a discussão de por que a viagem da presidente Dilma não é tratada como uma “visita de Estado”, mas como algo normal, como foi a visita do presidente Obama ao Brasil e como são mais de 90% das visitas presidenciais a Washington.
A “visita de Estado” envolve mais pompa, mas não maior nível de atenção e importância. Focar neste detalhe protocolar poderia provocar uma sensação de “menosprezo” quando não há nada de intencional ou explícito.
Não se deve esperar das reuniões em Washington, no entanto, notícias dramáticas. Os dois governos já desfrutam de uma relação positiva, mutuamente respeitosa e amplamente consultiva.
É de se esperar que países com o tamanho, a complexidade e a diversidade de interesses de Brasil e Estados Unidos terão algumas diferenças de abordagem e prioridades, assim como de análise. A política doméstica nos respectivos países também pode não ser apenas diferente, mas contraditória.
Brasil e Estados Unidos continuam a ter de trabalhar nas disputas comerciais e tarifárias, conciliar diferentes abordagens para gerenciar desequilíbrios econômicos globais e consultar diferentes pontos de vista para lidar com questões internacionais, desde as revoltas na Líbia e na Síria ao programa nuclear do Irã, até o impasse Israel-Palestina. Essas diferenças não são nem triviais nem têm importância crítica. O desafio da diplomacia é garantir que essas diferenças sejam devidamente compreendidas e colocadas em contexto.
A discussão desta semana se concentra particularmente na ciência e na tecnologia e na educação e na energia, todas no centro dos esforços de ambos os países para melhorar a produtividade e a competitividade.
O Brasil é cada vez mais importante para os Estados Unidos, não apenas como uma arena para o investimento, mas como um mercado de exportação potencialmente maior para bens e serviços americanos, incluindo o turismo, atraente para a classe média em crescimento.
Da mesma forma, os Estados Unidos são cada vez mais relevantes para o Brasil, não só como fonte de investimento e como um mercado de exportação, mas como centro do mundo para o ensino superior e para a inovação tecnológica.
Preparar-se para essa visita estimulou os dois governos a ajustar e registrar os progressos da cooperação nos campos da educação, tecnologia e energia. Se os dois presidentes puderem reforçar a dinâmica de cooperação sobre essas questões, a visita de Dilma certamente será bem-sucedida.
Abraham F. Lowenthal é professor emérito da Universidade do Sul da Califórnia