A Escola de Artes, Ciências e Humanidades (Each) da Universidade de São Paulo – a USP Leste – nunca perdeu tantos alunos como em 2011. A unidade registrou evasão de 37% no ano passado. Desde 2005, ano em que as primeiras turmas pisaram no câmpus, 20% dos matriculados já desistiram dos cursos oferecidos na unidade.
Até o ano passado, 1.424 estudantes da USP Leste já haviam abandonado as graduações. Destes, 374 alunos saíram somente em 2011 – registrando o resultado recorde. O índice é bem superior à média da USP. A universidade não divulgou o dado mais recente, mas os últimos resultados disponíveis indicam um índice próximo a 20%.
Se comparada com a média nacional, a situação é também preocupante. As universidades públicas do Brasil têm evasão de 14,4%. As instituições privadas perdem menos alunos: 24,2%, segundo o último dado disponível.
A direção da unidade vê os dados com preocupação, mas reforça a diferença de cada curso, defendendo que não se trata de uma crise da USP na zona leste. “O resultado não é bom, não nos satisfaz. Mas os cursos têm evasão diferente uns dos outros. Há cursos com ótimos resultados”, diz o diretor da Each, Jorge Boueri. “Os motivos têm de ser trabalhados em cada curso.”
A evasão atinge os cursos de forma desigual. A graduação em Marketing, por exemplo, teve uma evasão média de apenas 11% desde 2005 – apesar de o índice estar crescendo. No ano passado, a taxa foi de 22% em relação ao número de vagas.
Apenas um curso, o de Ciências da Atividade Física, conseguiu reverter em 2011 a debandada de alunos. Mas ainda não há muito a comemorar: o índice nesse curso caiu de 52%, em 2010, para 32% – que ainda é alto.
Causas
A USP Leste foi criada com dez graduações, todas não tradicionais e com uma proposta curricular inovadora. Até 2008, a evasão média não passava de 12%. Mas, exatamente após 2009, ano em que os primeiros formados chegaram ao mercado de trabalho, esse índice disparou e só tem aumentado. Além disso, a maioria dos cursos ainda é pouco conhecida pela população e há uma dificuldade em inserir formados de certas carreiras no mercado.
As causas da evasão são variadas, com diferenças também de curso para curso. Mas a falta de conhecimento sobre os cursos, combinada com a baixa concorrência no vestibular da Fuvest, tem seu reflexo: 60% dos alunos que saíram da USP Leste nem chegaram a frequentar as aulas ou encerraram matrículas antes de cursarem 20% dos cursos.
Uma parcela significativa de matriculados também acaba saindo da unidade por transferências. Desde a inauguração da Each, 15,5% dos matriculados migraram para outros cursos – o que corresponde a 224 estudantes. A unidade ganhou apenas 164 alunos de fora.
O curso que mais perdeu alunos por transferência foi a Licenciatura em Ciências da Natureza, exatamente o que tem a menor concorrência no vestibular – de apenas 1,53 candidato por vaga na última Fuvest.
Segundo Boueri, o plano de obras da unidade, revelado na semana passada pelo Estado, vai colaborar com a permanência dos estudantes (leia mais abaixo).
“Claro que o ambiente da unidade faz diferença para o aluno que estuda. Mas com o projeto de expansão da unidade e aproximação com a comunidade, vai ter mais alunos com perfil para permanecer nos cursos até o fim”, completa.
Críticas
Para o diretor do cursinho popular Henfil, Matheus Prado, a forte evasão prejudica o projeto. “Os cursos têm problemas, as pessoas não conseguem vagas no mercado. Ano passado, tentaram diminuir um terço das vagas e esse debate vai voltar”, critica. “A USP Leste ainda é diferente das outras unidades.”
Para a estudante Giulia Tadini, de 22 anos, uma das diretoras do Diretório Central dos Estudantes (DCE), a questão da permanência dos estudantes tem papel central na piora dos dados.
“Muitos estudantes largam porque não têm auxílio, não têm moradia estudantil, e a maioria não é da zona leste”, diz Giulia. Apesar de a maior parcela de estudantes ser de outras regiões, a Each conseguiu reverter parcialmente o quadro de distanciamento da comunidade: quase 40% dos novos alunos moram nessa região da cidade.
Unidade planeja maior expansão
Com índices recordes de evasão, a USP Leste planeja sua maior expansão desde que foi criada, há sete anos. A unidade deve ganhar até 2014 dez novas estruturas, entre prédios de pesquisa, laboratórios e centro de convenções, com previsão de gastos de R$ 96 milhões nas obras.
O projeto prevê mais de 38 mil m² em novas construções. Os edifícios vão ocupar a atual área da escola e também um terreno vizinho, de 43 mil m², cedido pelo governo do Estado. O maior montante, de R$ 30 milhões, está previsto para um prédio da Escola Politécnica, que deve abrigar o novo curso de Engenharia da Computação. O edifício da Poli é a única iniciativa que resultará em aumento de vagas.
Algumas obras são para atender necessidades pedagógicas identificadas na Each. Haverá um edifício específico para Pesquisa e Extensão, um laboratório de Têxtil, Moda e Mídias, bloco de pós-graduação e uma piscina laboratório.
Além disso, no novo terreno cedido à universidade serão instalados um centro de convenções de 10 mil m², além de um Centro de Cultura e Exposição. Este último tem projeto de Ruy Ohtake.
Ao saber dos projetos da escola, alunos criticaram a falta de prioridade em reforçar as graduações. No ano passado, um estudo feito por professores da USP recomendou o fechamento de 330 vagas. Um curso seria extinguido no processo. A ideia acabou vetada.