PF indicia funcionário da Unirio por fraude

Luiz Claudio Melo é acusado de matricular irregularmente alunos no curso de medicina que não foram aprovados no Enem

 

 

RIO – A Polícia Federal, que investiga fraudes em matrículas de cursos da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), indiciou o funcionário da instituição Luiz Claudio Cruz de Melo pela prática dos crimes previstos nos artigos 313-A (inserção de dados falsos em sistemas de informação) e 317 (corrupção passiva) do Código Penal. Melo, que é eletricista, foi ouvido na quinta-feira pela Delegacia de Repressão a Crimes Fazendários (Delefaz). Ele saiu da PF em silêncio, acompanhado de seu advogado, Vanderlei Marques Franco, que negou as acusações. Melo é lotado na Escola de Medicina da Unirio, no Centro.

 

— Não temos nada para falar. Já foi tudo registrado no inquérito. Mas o Luiz é inocente. Ele não participou de esquema algum de fraude nas matrículas. Ele vai provar a inocência. Temos provas contundentes de que meu cliente não participou do esquema de fraude. Ele trabalha na universidade porque é funcionário público, mas não tem nenhuma intromissão na reitoria. Não tem voz de comando nem autonomia de mudar as matrículas. É apenas eletricista — disse Franco.

 

Nas últimas duas semanas, a Delefaz ouviu depoimentos de seis estudantes matriculados ilegalmente na Unirio. Conforme O GLOBO noticiou no mês passado, cinco alunos foram matriculados irregularmente na Escola de Medicina e Cirurgia (EMC). No curso de nutrição, também foi identificada uma estudante irregular. Nenhum deles se classificou pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) — única forma de acesso à graduação na Unirio —, mas seus nomes foram inseridos no sistema com números de matrículas cancelados. A suspeita é que cada vaga tenha sido vendida por R$ 70 mil.

  

Os alunos investigados frequentaram as aulas por um mês, mas sumiram depois das reportagens do GLOBO. Todos os estudantes ouvidos pela PF até agora negaram a compra de vagas. A universidade já tinha conhecimento da irregularidade na Escola de Nutrição há um ano, mas instaurou comissão de sindicância apenas no fim de março deste ano, quando veio à tona a fraude na EMC. Em abril, a professora que denunciou o caso à direção teve sua sala arrombada e os computadores, vasculhados.

 

Segundo a PF, os alunos poderão ser chamados novamente para prestar esclarecimentos, uma vez que foram identificadas inconsistências nos depoimentos. Nos próximos dias serão intimados mais servidores da universidade e também o pai de uma das alunas. Há informações de que ele seria o responsável pelo pagamento por uma das vagas no curso de medicina.