Ensino superior atrai benefícios para cidades afastadas dos grandes centros
Historicamente, as universidades são construídas nos grandes centros urbanos, nas cidades mais próximas do litoral. O processo de interiorização, que começou em 2003 com investimentos do Governo Federal, está levando as instituições de Ensino Superior a migrarem na direção oeste do país. É o que explica Gustavo Balduino, secretário executivo da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes).
A iniciativa, segundo Balduino, muitas vezes parte da própria comunidade local, que se organiza com a prefeitura para trazer o ambiente de educação, pesquisa e cultura diferenciada. Ou o processo começa mesmo nas próprias universidades, que fazem a escolha para sua expansão a partir da análise socioeconômica de cada região.
Os benefícios do processo de interiorização são muitos. “O primeiro é levar o ambiente cultural diferenciado para o interior do país”, afirma Balduino. “Outra vantagem é formar quadros profissionais em nível superior qualificados, vocacionados e voltados para aquela região”, afirma. O terceiro aspecto importante da interiorização é levar mercado consumidor para essas regiões. “Os professores e funcionários recebem seus salários para viver e gastar lá. Os alunos também levam demanda de cultura e de serviços.”, completa.
Com a implantação de campus nas cidades do interior, também é atraída a infraestrutura de serviços relacionados à demanda de um curso universitário. O aumento da rede energética, de pontos de Internet; a criação de bibliotecas, serviços de alimentação e transportes, dentre outros, são necessidades básicas para a formação dacadêmica.
“A sinergia desses fatores provoca a ampliação e o desenvolvimento socioeconômico da macrorregião em que o campus é instalado”, observa Balduino. Além disso, são criadas condições de vida e fixação da população na localidade. “O que inverte o fluxo, leva as empresas para o interior, pois lá encontram os profissionais qualificados.”, defende.
Gustavo Balduino, secretário executivo da Andifes,
fala sobre interiorização (Foto: Divulgação)
Como em todos os novos projetos, o processo de interiorização das universidades também têm suas dificuldades de implantação, como a própria instalação da estrutura acadêmica. “É normal que qualquer projeto estratégico tenha dificuldades no começo”, comenta o secretário executivo da Andifes. “O paradoxo é que alguns críticos dessa expansão são justamente pessoa contratadas para esse projeto. Se não fosse por isso, eles não trabalhariam como servidores dessas universidades.”
Para Balduino, a grande qualidade da universidade são os recursos humanos e não as instalações físicas. Por esse motivo, em todos os campi no interior as contratações estão sendo feitas por meio de concursos públicos, e só são escolhidos excelentes profissionais. “Da mesma forma, o processo de vestibular no interior é o mesmo realizado nas grandes cidades, demonstrando que os alunos são igualmente excelentes”, completa.
O Globo Universidade desta semana mostrou o exemplo da implantação do Curso de Medicina na cidade de Sobral, passo inicial para o processo de interiorização da Universidade Federal do Ceará (UFC) na Região Norte do estado. As atividades do curso tiveram início em abril de 2001, e contavam apenas com uma sala de aula, uma sala para a coordenação, uma sala para os professores e um laboratório de Anatomia Virtual cedido pela Universidade Vale do Acaraú (UVA), compartilhado com os cursos de Enfermagem e Educação Física.
Veja abaixo outros exemplos de universidades criaram campi no interior:
Centro Multidisciplinar (CMULTI) de Cruzeiro do Sul: O campus faz parte da Universidade Federal do Acre (UFAC) e está na fronteira com a Colômbia, a 1000 km de Manaus. “A interiorização naquela localidade assegura a fronteira e preserva a autonomia do país se implantando culturalmente naquela região”, ressalta Gustavo Balduino. O CMULTI oferece os cursos de Formação Docente para Indígenas e Licenciatura Plena em Ciências Biológicas.
Unidade Acadêmica de Serra Talhada (UAST): Com a finalidade de aumentar o número de vagas ofertadas, a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) implantou, no Sertão do Estado, a UAST, aproveitando assim as capacidades instaladas no Centro de Treinamento em Agricultura Irrigada. “A cidade teve um salto socioeconômico significativo com a chegada da instituição”, comenta o secretário da Andifes. Os cursos de graduação oferecidos na UAST são: Agronomia, Bacharelado em Ciências Biológicas, Ciências Econômicas – Ênfase em Economia Rural, Engenharia de Pesca, Sistemas de Informação, Licenciatura Plena em Química, Administração, Zootecnia e Licenciatura em Letras.
Campus UFV Florestal: A Universidade Federal de Viçosa (UFV) mantém, na cidade de Florestal, em Minas Gerais, uma área com cerca de 1.500 hectares, desde 1969. Inicialmente, funcionava no local apenas a Central de Ensino e Desenvolvimento Agrário de Florestal (Cedaf), com cursos de nível técnico. A partir de 2006, a UFV criou o Campus UFV Florestal e passou também a oferecer cursos de nível superior. São eles: Administração, Agronomia, Análise e Desenvolvimento de Sistemas, Engenharia de Alimentos, Gestão Ambiental, Licenciatura em Ciências Biológicas, Ciência da Computação, Licenciatura em Educação Física, Licenciatura em Física, Licenciatura em Matemática e Licenciatura em Química.
UFSC – Joinville CEM: Inaugurado no dia 4 de agosto de 2009, o Campus da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em Joinville funciona provisoriamente nas instalações físicas da Universidade da Região de Joinville (Univille), ao norte do município. O Campus permanente está sendo planejado para um terreno doado pelo Governo do Estado de Santa Catarina e do município de Joinville, localizado no Km 51/52 da BR 101, região sul do município. Atualmente, o Campus Joinville é constituído pelo Centro de Engenharia da Mobilidade (CEM). São oferecidos os seguintes cursos de Engenharia: de Infraestrutura, de Tráfego e Logística, Naval e Oceânica, Aeronáutica e Espacial, Automobilística e Metroviária, e Mecatrônica.
Campus de Chapadão do Sul (CPCS): O Campus de Chapadão do Sul (CPCS), da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), foi implantado em meados 2006. A iniciativa foi do Reitor Professor Manoel Catarino Paes ‘Peró’ e, inicialmente, ofereceu o curso de Agronomia. Os dois cursos de graduação lotados no CPCS, Agronomia e Engenharia Florestal, são os únicos existentes na UFMS. O CPCS está localizado, estrategicamente, na mais importante região agrícola e florestal de Mato Grosso do Sul, denominada Bolsão Sul-mato-grossense. A região facilita a oferta de aulas práticas de extrema qualidade e de estágios profissionalizantes.
Para encontrar outras universidades com campi no interior, consulte o site do Sistema Integrado de Monitoramento Execução e Controle do Ministério da Educação (SIMEC – MEC).
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