Avaliar, certificar e selecionar: tudo por conta do Enem

Quando o governo do Fernando Henrique decidiu, lá atrás, que o ensino médio deveria ser reformulado, o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) foi criado.

O exame começou a ser aplicado em 1998. A ideia inicial era mapear as falhas do ensino médio e começar uma espécie de “revolução” dessa fase da educação.

Hoje, sabemos que o ensino médio é o grande gargalo. É o momento em que o brasileiro que terminou o fundamental desiste de estudar.

O governo Lula chegou depois e decidiu universalizar o Enem e dar mais importância a ele. Também passou a usá-los como critério de seleção e de inclusão para o ensino superior

Em 2004, a nota do Enem começou a ser considerada no Prouni, programa que dá bolsas em instituições de ensino superior particulares. E então o número de inscritos aumentou exponencialmente e chegou a 7,8 milhões na última prova.

No ano seguinte, em 2005, as notas das escolas de ensino médio com mais de 70% de alunos fazendo Enem começaram a ser divulgadas — o que causou um aumento de competitividade entre essas instituições.

Agora, sair-se bem no Enem é crucial para atrair alunos (e pais de alunos).

MUDANÇAS

A revolução no ensino médio que o governo queria lá atrás não aconteceu, mas algumas escolas particulares mudaram seus currículos para atender as especificidades do exame e para preparar seus alunos para a prova (leia mais sobre isso aqui).

As escolas, contam os diretores, tiveram de treinar nos alunos o que o Enem chama de “competências”. Por exemplo, a competência de comparar diferentes períodos históricos.

O “problema” é que Enem tem ficado cada vez mais conteudista, ou seja, tem cobrado assuntos que exigem bagagem de conteúdo ministrado pela escola: física, química, matemática. A prova que aconteceu no último final de semana deixou isso bem claro.

Em outras palavras, o exame está ficando com mais cara de vestibular tradicional. Isso porque cada vez mais tem sido usado para selecionar alunos para as universidades — especialmente as federais.

Isso sem contar que o Enem também certifica o ensino médio, em alguns casos.

É difícil que uma única prova e nacional consiga cumprir com eficiência tantas missões distintas : avaliar  o ensino médio, certificar e selecionar para o ensino superior. A desejada “revolução do ensino médio”, então, ficou para trás.

O que, afinal, pode causar uma verdadeira revolução do ensino médio?

Sabine Righetti – Folha de São Paulo

 

 

 

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