Imagine um país comunista onde o ensino superior é público, mas não é gratuito. Nas melhores universidades chinesas, o aluno paga uma taxa anual que pode variar entre 5.000 a 6.000 iuans. Além disso, se quiser morar em um dos alojamentos estudantis, deverá desembolsar 1.000 iuans por ano, aproximadamente.
Tendo em conta os quatros anos do curso, o aluno arcará com uma despesa total de 24 mil iuans –em torno de R$ 8.600 (o que corresponderia a uma mensalidade de R$ 180). Para tanto, muitos alunos pedem empréstimos aos bancos que só terão que pagar, e sem juros, após dois anos de formados. Em casos excepcionais, poderão cursar gratuitamente. A excepcionalidade foi concedida, por exemplo, às famílias da província de Sichuan afetadas por terremotos.
As taxas anuais não afastam os jovens da universidade. Mais de 9 milhões de estudantes chineses prestam o vestibular –o famoso “gaokao”. É um momento crucial na vida deles. Obter uma nota alta é o passaporte para ingressar nas melhores universidades. Do contrário, restará a opção de ingressar nas instituições privadas, que cobram valores mais altos e não possuem a mesma reputação.
Os alunos do ensino médio que tiverem rendimento excepcional podem ser dispensados do “gaokao” e conduzidos diretamente para as melhores instituições. Mérito deles. Já os mais abastados têm optado, cada vez mais, pelas universidades estrangeiras. Os Estados Unidos estão no topo da lista da preferência. Formar-se em uma instituição estadunidense dá uma vantagem competitiva ao aluno na China.
No fluxo inverso, há muitos alunos de outros países indo para a China estudar e conhecer o país. E a China está preparada para tanto. Tive a oportunidade de conhecer várias universidades chinesas: os campi são planejados para acolher todos os alunos, sem exceção. O que não falta é dormitório, restaurantes, lojas de conveniência, complexo esportivo e, sobretudo, bibliotecas adequadas e muito bem frequentadas.
As preocupações cotidianas dos professores e alunos são muito parecidas com as que encontramos em qualquer lugar do mundo. E algumas se repetem há centenas de anos. Em Nanjing, visitei um templo confucionista que era destinado à preparação dos candidatos aos cargos do império. Para minha surpresa, exibiam fotos antigas dos métodos de “cola” usados na época. Mais recentemente, uma pesquisa revelou que mais de 80% dos estudantes universitários em Xangai afirmaram que se distraíam durante as aulas usando celulares para navegar on-line. Mais de 40% deles alegaram que o faziam porque os cursos que eram chatos.
Os problemas podem ser comuns, mas o modo de enfrentá-los varia em cada país. A China, em matéria de educação, está buscando o seu caminho tendo em conta a sua história, sua realidade e seu objetivo como nação. O país é um bom exemplo a ser observado.
EVANDRO MENEZES DE CARVALHO, doutor em direito internacional pela USP, é professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) no Rio de Janeiro
Folha de São Paulo
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