SÃO PAULO – Caçula da pós-graduação no Brasil, o mestrado profissional surgiu há 15 anos no País e, apesar do grande crescimento desde 2009, ainda é pouco conhecido por aqui. Mais prático do que o primogênito – o mestrado acadêmico -, o curso é direcionado às pessoas que atuam em áreas técnicas e querem estudar teorias aplicadas ao exercício da profissão.
Os primeiros mestrados profissionais foram criados no País nos anos 90 e o reconhecimento por parte do Ministério da Educação (MEC) ocorreu em dezembro de 1998. Em 2009, uma portaria estabeleceu que a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) seria responsável pela regulação, o que levou as universidades públicas a investirem no modelo. O número de cursos cresceu 138% em cinco anos e hoje existem 579 em vigor, segundo a Capes, e os mais comuns são os interdisciplinares e os voltados para educação, administração e saúde coletiva.
De acordo com especialistas, o mestrado profissional é pensado para quem está no mercado há pelo menos cinco anos e quer aprender prática e teoria, diferenciando-se, assim, de MBAs, especializações e mestrados acadêmicos.
Mesclar teoria e prática era justamente o que procurava Tiago Cruz, de 32 anos, gerente de produtos em uma multinacional. Formado em 2003 em Ciência da Computação, ele fez uma pós em Gestão de Projetos em 2008 e, depois, um mestrado profissional. “O curso é voltado ao mercado e me permitiu trabalhar enquanto estudava. E, apesar de o foco ser prático, conheci teorias que não teria visto na especialização ou no MBA.”
Muitos interessados ficam confusos ao tentar entender as diferenças entre os vários tipos de pós (mais informações abaixo). O pró-reitor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Antônio Freitas, explica que a existência de MBA e mestrado profissional é exclusividade brasileira. “É como a jabuticaba. É algo inventado aqui”, brinca. Segundo Freitas, no Brasil o MBA dá certificado e o mestrado profissional, diploma – no exterior não há essa diferença. “Os MBAs deveriam evoluir para o mestrado profissional, mas dificilmente isso vai acontecer porque já tem muita gente ganhando dinheiro dessa forma.” Procurada, a Capes não se manifestou sobre o assunto.
Públicas. As diferenças de classificação não impedem que as instituições aumentem o número de cursos ano a ano. As que mais oferecem programas reconhecidos e recomendados pela Capes são as públicas, entre elas as duas federais do Rio (Universidade Federal do Rio de Janeiro e Universidade Federal Fluminense) e a Universidade de São Paulo (USP), que é estadual. A USP tem 11 cursos na lista dos reconhecidos pela Capes, mas informa oferecer 18 no total.
Na UFRJ são 15 os mestrados profissionais reconhecidos pela Capes. “É a modalidade de pós-graduação que mais cresceu no Brasil nos últimos cinco anos. E a tendência é que apareçam mais cursos”, afirma a pró-reitora de Pós-graduação e Pesquisa da universidade, Débora Foguel.
A UFRJ oferece mestrados profissionais em Arquitetura, Química Odontológica, Engenharia Urbana e Petroquímica, mas encontra resistência. “Ainda existe muito desconhecimento, e a área de Engenharia é a mais relutante. Há quem diga que o mestrado profissional é mais fraco, mas não é verdade. O aluno também faz tese para banca, só que com foco mais prático”, diz Débora.
Os mestrados profissionais não têm apoio orçamentário da Capes para bolsas no País, pois a maioria dos alunos continua atuando nas empresas e não precisa de ajuda econômica. A exceção fica por conta dos programas voltados para professores, em que os alunos recebem bolsa de R$ 1,4 mil, mesmo valor do mestrado do programa acadêmico.
Nas particulares, a história do mestrado profissional começou antes da regularização do MEC, em 1998. A Fundação Getúlio Vargas (FGV), por exemplo, abriu em 1993 a pós-graduação Mestrado Profissional de Administração, nos moldes do curso atual. Hoje, a universidade tem oito cursos nesse formato.
Mestrado em rede. Além de avaliar e regular a pós-graduação stricto sensu no País, a Capes coordena com associações de classe uma série de mestrados profissionais em rede para professores de diferentes áreas. As aulas são semipresenciais e ocorrem em diferentes universidades federais.
O primeiro curso, denominado Programa de Mestrado Profissional em Matemática em Rede Nacional (Profmat), surgiu em 2010. Ofertado com a Sociedade Brasileira de Matemática (SBM), ele é destinado a docentes da rede pública.
Em 2014, os programas em rede e a distância também formaram professores de Física, Letras, História e Artes. Há ainda cursos de Administração, coordenados pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes).
No caso de Matemática, por exemplo, 60 instituições oferecem o curso. Na Universidade Federal do Grande ABC (UFABC), a pós-graduação existe desde 2011. “É destinada para professores que atuam no ensino fundamental e médio, que têm formação prévia. O foco é conteúdo matemático e embasamento do que será dado em sala de aula”, diz o coordenador do curso, Rafael de Mattos Grisi.
O curso tem duração de dois anos e é gratuito. Para a conclusão não é necessário produzir uma tese acadêmica, apenas um trabalho final, que tem viés acadêmico, mas foca na produção prática. O programa é mais baseado nas disciplinas e não há a obrigatoriedade de realizar um trabalho de pesquisa”, explica Grisi.
A porta de acesso ao curso também é diferente da dos mestrados acadêmicos. O candidato deve fazer uma prova de admissão e tem o currículo analisado.
O professor de Matemática Ricardo Mori, de 43 anos, passou pelo processo e prepara o trabalho de conclusão de seu curso. “Foi bom para lembrar o que é ser aluno. Me formei em Matemática em 1994 e, desde então, estou na sala de aula como professor. O mestrado profissional contribuiu para dar mais clareza às minhas aulas.”
Nova demanda. O diploma de mestre profissional tem o mesmo peso do acadêmico e pode ser usado para ingresso na fase posterior, o doutorado.
Estudantes e professores que se dedicam ao mestrado profissional pleiteiam agora a criação do doutorado profissional, nos moldes do que existe nos Estados Unidos e em alguns países da Europa. Por lá, as empresas são responsáveis por parte significativa da pesquisa nacional, que é realizada pelos chamados profissionais-acadêmicos, que fazem esse tipo de curso.
No Brasil, onde a pesquisa continua concentrada nas universidades, a criação do doutorado profissional está em estudo pelos órgãos que regulam a educação. Procurada para falar sobre o andamentos das discussões sobre a criação do doutorado profissional, a Capes não se pronunciou.
Exterior. O mestrado profissional é o único tipo de mestrado em que a Capes concede bolsas no exterior. O auxílio, que dura 21 meses, pode chegar ao valor mensal de US$ 1.150 (cerca de R$ 2,9 mil) e deve ser gasto com moradia, saúde, deslocamento e taxas de matrícula. O programa beneficia todas as áreas do Ciência Sem Fronteiras. A primeira e única chamada até agora foi em 2013 para universidades dos EUA.
Tipos de pós:
Especialização: Curso lato sensu com objetivo técnico ou profissional
MBA: Curso lato sensu voltado à gestão com objetivo profissional
Mestrado acadêmico: Curso stricto sensu com objetivo acadêmico e de docência
Mestrado profissional: Curso stricto sensu com foco em teoria e prática profissional. Como o mestrado acadêmico, dá grau de mestre e possibilita a docência
Doutorado: Curso stricto sensu com foco acadêmico e de docência, tem nível de exigência superior ao do mestrado
GUILHERME SOARES DIAS – Estado de S. Paulo
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