Ministro da Educação, Cid Gomes: Bom dia Chico, bom dia Ana, bom dia Alexandre, bom dia. O Ensino Médio é, sem dúvida, o setor da educação que tem os piores resultados e ainda tem um desafio de acesso. Um percentual significativo de jovens estão fora da escola. O meu papel, ao longo desse mandato como presidente (sic), é seguir orientações da presidenta Dilma, que aponta para um compromisso de rever o currículo do Ensino Médio. Esse é um dos caminhos. E acrescentar, na medida da proporção possível dos recursos e dos orçamentos dos estados, porque o Ensino Médio é um serviço prestado pelos estados, mais vagas de Ensino Médio. Mais vagas de Ensino Médio em tempo integral. Esse será o nosso desafio, dialogando e estimulando governadores a adotarem essas práticas.
Bom Dia Brasil: Ministro, mas fala-se também de mudar o currículo do Ensino Médio. Isso é possível fazer sem mexer no ciclo básico. O aluno tem chegado ao Ensino Médio com deficiências muito grandes, muita gente sendo aprovada automaticamente pelo Brasil afora.
Cid Gomes: A educação é um sistema integrado. Para que uma modalidade de ensino funcione bem, a outra tem que ter cumprido a sua parte. Isso começa desde a creche, passa pela pré-escola, vai pelo Ensino Fundamental. O processo de alfabetização é fundamental, porque é a ferramenta básica da educação, e qualidade no Ensino Fundamental. O Ensino Médio certamente repercutirá o bom andamento dessas fases iniciais. Além desses problemas, nós temos que imaginar alternativas de, já no Ensino Médio, você permitir aos jovens a possibilidade de currículos diferenciados. Algumas disciplinas que sejam base do currículo e outras disciplinas que possam ser opcionais, segundo já a vocação e o gosto de cada estudante.
Bom Dia Brasil: Agora, ministro, é lei e o Brasil vai ter que colocar, até o fim desse ano, todas as crianças e adolescentes de 4 a 17 anos na escola. Um levantamento feito pelo Estadão na semana passada mostrou que esse número chega a 2,9 millhões de crianças. Como o senhor pretende fazer isso?
Cid Gomes: Cada setor do ensino tem o seu desafio. No Ensino Fundamental, nós temos 98,4% das crianças ou jovens na escola. Não é problema de oferta de vaga. O que há é uma questão territorial, nas zonas rurais, haver um esforço redobrado para universalizar. O ensino infantil, a modalidade que é exigência de universalização, pré-escola, de 4 e 5 anos, nós já temos hoje algo em torno de 4 em cada 5 jovens. Então é razoável que, em um horizonte de médio prazo, isso significa um mandato, a gente universalize. No Ensino Médio, há um grande problema de abandono. Também no acesso, cinco sextos dos jovens está na escola. Há um problema de manutenção da escola. Isso nos impõe uma estratégia de dar mais qualidade à escola e implantar oferta nas áreas periféricas, mais pobres, onde há indicadores de violência maior, o ensino em tempo integral.
Bom Dia Brasil: Ministro, outro dia, mediando debate em São Paulo entre presidentes de grandes empresas de todos os setores – indústria, comércio, serviço -, a principal queixa foi que há uma falta de formação das pessoas, dos empregados, que mal leem e entendem mal as instruções. E, com isso, a produtividade cai e cai a capacidade de competir no mercado. Como que vai se resolver essa questão da qualidade para formar, enfim, a pessoa para o trabalho.
Cid Gomes: O governo, a presidenta Dilma, tem um projeto que é voltado especificamente para essa área de formação para o trabalho, que é o Pronatec. Ao longo desses quatro anos do primeiro mandato, oito milhões de brasileiros tiveram essa possibilidade. E a meta que a presidente Dilma estipulou para esses próximos quatro anos é de que a gente possa capacitar para o trabalho 12 milhões de brasileiros. Isso não exclui a necessidade de a gente ter o ciclo básico, Ensino Fundamental e Ensino Médio de boa qualidade. Isso permitirá um melhor desempenho na capacitação para o trabalho.
Bom Dia Brasil: O senhor de desempenho, que o senhor quer avaliar. O senhor falou no seu discurso de posse que quer avaliar o desempenho dos professores. Agora, como fazer isso? Primeiro, é inevitável falar nesse salário de R$ 1,6 mil. O senhor não conhece nenhum assessor de político que está ganhando isso, todo mundo ganha mais do que isso. O professor é que ganha pouco. Agora, como avaliar esse desempenho sem envolver com isso sindicatos, que muitas vezes têm resistências? O senhor sabe que eles têm muita força no governo do PT. Muitas vezes se opõem à avaliação por avaliação. Como é que envolve sociedade, como é que envolve família, como é que envolve todo mundo neste projeto? Senão fica mais um discurso de que educação é fundamental, educação é prioridade, mas professor continua ganhando mal, escola continua desaparelhada. Enfim, como vai avaliar esse desempenho? Só cobrando os professores?
Cid Gomes: Olha Chico, em educação é fundamental que a gente estabeleça metas, metas de acesso, metas de regularidade, metas de aprendizado e avaliações permanentes. Eu, por exemplo, pretendo fazer com que as avaliações, hoje feitas de dois em dois anos, possam ser feitas anualmente. Isso a partir do nosso instituto, que é o Inep, mas também muito em parceria com estados e municípios. É fundamental que a gente coloque sempre que o papel do Governo Federal é um papel normativo, é um papel regulativo, é um papel de estímulo, é um papel de ajudar no financiamento, mas o Ensino Médio é feito pelos estados e o Ensino Fundamental e Infantil é prestado, na sua maioria, pelos municípios. Então, tudo que for de programa, que for implementado, seguindo a orientação da presidenta Dilma, eles devem ter, como premissa fundamental, a voluntariedade. Não haverá nada imposto, não haverá nada que não seja pela via do diálogo, pela via do convencimento. Começando com diretores. É fundamental escola com bons diretores, fazem diferença. Uma das áreas que nós pretendemos, com avaliações, estimular os estados a adotarem e o Governo Federal poder ajudar no financiamento, melhorar o salário, e na sequência fazer isso com professores.
Bom Dia Brasil: Falando de avaliação…
Cid Gomes: Sempre pensando que a adesão é voluntária, nada será imposto. Até porque o papel é do município e do estado.
Bom Dia Brasil: Perdão por interromper o senhor. Mas ainda falando nesse assunto, o senhor estava falando do Inep e dessas avaliações que têm que ser feitas, na opinião do senhor. O ex-ministro Fernando Haddad chegou a encomendar do Inep uma prova que seria uma espécie de Enem dos professores e que poderia até substituir o concurso tradicional em algumas prefeituras pequenas. É isso que o senhor pretende fazer? O senhor pretende desengavetar uma proposta desse tipo?
Cid Gomes: Eu sigo orientações. Todas as missões que tive até hoje eu era o chefe do Executivo. Agora eu sou um auxiliar da presidente Dilma. Tenho que cumprir, em primeiro lugar, compromissos que ela assumiu, que são muito claros: ampliar a oferta de creches, ampliar a oferta de ensino em tempo integral, valorizar o professor – ninguém faz educação sem valorizar os professores -, e fazer a revisão do currículo do Ensino Médio. Traduzindo tudo isso, melhorando a qualidade do ensino no nosso país. Qualquer ação que tenha por objetivo avaliar professores, ela deverá ser feita por opção do professor, e aí deve-se imaginar alternativas, estímulos que levem os professores a fazerem esse tipo de avaliação. Uma delas pode ser essa já colocada pelo ex-ministro Haddad. Você, tendo um professor passado por uma avaliação nacional, ele já fica com, vamos dizer assim, um Enem, um passaporte para o ingresso no magistério de um município ou de um estado.
Bom Dia Brasil: O senhor falou em qualidade, e há muita queixa quanto a isso. O governo oferece números, mas também há uma queixa de qualidade desde o Ensino Superior até o Básico. As pessoas reclamam que falta qualidade para o professor, e a consequência é que falta qualidade para o aluno. O ex-ministro da Educação Cristovam Buarque me disse outro dia que dinheiro não é tudo, que dinheiro não resolve. Que além do dinheiro, precisa de outra coisa. O que é necessário para melhorar a qualidade, ministro?
Cid Gomes: Eu disse isso uma vez, e quase me cruxificaram porque eu falei isso. Acho que no serviço público, que atua no serviço público, seja um ministro, um vereador, um médico ou um professor, tem que ter vocação. Tem que ter vocação. Isso é fundamental.
Bom Dia Brasil: O professor tem que nascer professor?
Cid Gomes: Lógico que ninguém deve trabalhar de graça, as pessoas têm uma vida difícil e têm que ter uma remuneração digna. No caso do ma
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