Há anos, os pesquisadores, professores e especialistas das universidades públicas federais e estaduais, em especial os paulistas, vêm alertando para a necessidade de agir com o objetivo de evitar a “crise hídrica” que, finalmente, atinge um momento especialmente agudo. Tradicionalmente, boa parte das pesquisas sobre o tema é realizada no interior dessas instituições. O estado conta, ainda, com a Fundação de Amparo à Pesquisa (Fapesp), que financia estudos de qualidade e segundo rigorosos padrões nacionais e internacionais.
Vários encontros, seminários e simpósios produziram propostas que poderiam ter sido mais bem aproveitadas, incluindo, por exemplo, as iniciativas da Secretaria do Fundo Setorial de Recursos Hidrícos, formuladas no documento “As necessidades de observação e monitoramento dos ambientes brasileiros quanto aos recursos hídricos” publicado em 2003. Além disso, entidades ambientalistas, reunidas na Aliança pela Água, divulgaram sua contribuição, em 29 de outubro passado.
Em dezembro último, manifestaram-se sobre o tema o Conselho da Cidade de São Paulo (por meio de um documento apresentado ao seu Pleno, no dia 15), a Academia Brasileira de Ciências (com a “Carta de São Paulo”, publicada dia 11) e Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental – Seção São Paulo (no dia 2).
Apesar de todas essas manifestações e da amplitude da crise, as universidades não tiveram e ainda não têm as informações necessárias e suficientes, por parte dos órgãos gestores da administração pública, para determinar o impacto exato implicado pela carência sobre a vida da comunidade (incluindo professores, estudantes, servidores e as atividades de pesquisa e, principalmente, nossos hospitais que fazem amplo atendimento ao público). O momento pede uma ação ampla, forte, segura e coordenada. Buscamos informações e diagnóstico da situação, trabalharemos nos nossos planos de contingenciamentos, que precisam ser executados imediatamente, pois não devemos mais esperar.
Mas as universidades públicas querem também contribuir, oferecer soluções definitivas e suprapartidárias. Além do plano emergencial de atendimento e contingenciamento da água para nossas próprias instituições, propomos a instalação de um Painel Técnico-Acadêmico para Recursos Hídricos (PTA-Hidro) que possa conjugar e apresentar à sociedade os estudos concretos e de relevância científica e tecnológica.
Para dar encaminhamento a estas propostas, os reitores das universidades estaduais (USP, Unesp, Unicamp) e federais em São Paulo (Unifesp, UFSCar e UFABC), além do IFSP, se reuniram em 3 de fevereiro e propuseram como ações iniciais:
1. Criar o fórum de reitores das universidades públicas do Estado de São Paulo, que debaterá assuntos estratégicos para a universidade e a sociedade, a começar pela crise hídrica;
2. Demandar e ajudar a implantar um plano de contingência geral e coordenar os planos de cada universidade e seus órgãos associados (hospitais, clínicas, bibliotecas, estações);
3. Disponibilizar as competências da universidade para participar dos fóruns estratégicos sobre a crise hídrica organizados pelo poder público;
4. Obter e contribuir para um plano de comunicação da crise onde a população e em especial a comunidade universitária esteja plenamente informada;
5. Indicar e ajudar a implantar um programa de gestão de demanda na região da macrometrópole;
6. Verificar e fazer cumprir o monitoramento integrado da qualidade e da quantidade das águas;
7. Obter e trabalhar para adquirir planos de ações de incentivo financeiro solicitar linha de crédito federal e estadual para adequação das estruturas ao contingenciamento;
8. Reformular e dinamizar as atividades de pesquisa e desenvolvimento tecnológico, juntando especialistas de nossas universidades e associações científicas;
9. Apresentar projetos e ações a serem financiados por agências e fundações de pesquisa (FAPESP, CNPq, Finep etc.) ou Fundos específicos (CT-Hidro e Fehidro) visando o apoio a projetos dedicados à recuperação e conservação de recursos hídricos;
10. Criação do Painel Técnico-Acadêmico de Recursos Hídricos objetivando trabalhar em conjunto com governos nas soluções de curto, médio e longo prazo, em dinâmica análoga ao IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas).
É chegado o momento de não somente adotarmos medidas urgentes, mas também garantirmos a pronta articulação das universidades públicas. A universidade assume o seu papel de destaque na formulação e na ação junto ao Estado e à sociedade.
Reitora Soraya S. Smaili – Unifesp
Publicado na Revista Carta Capital