Em tacada estratégica, Dilma escolhe professor de ética para Educação

Nenhum outro nome indicado para um dos 39 ministérios do governo Dilma Rousseff foi escolhido tão estrategicamente quanto o novo ministro da Educação, anunciado nesta sexta-feira (27). Em meio a denúncias graves de corrupção, a presidente elegeu o professor de ética da USP, Renato Janine Ribeiro, 65, para o cargo. Uma tacada de mestre.

Explico. Renato Janine não é ligado a nenhum partido e não assume uma postura favorável ao governo. E ensina nada menos do que ética. Há pouco mais de uma semana, Janine, como é conhecido, deu uma ampla entrevista à revista “Brasileiros” na qual acusava o governo petista de transformar a inclusão social em um grande projeto de consumo. Nesta semana, publicou um artigo na Folha sobre a crise política atual intitulado “Tem razão quem se revolta”. Pois é.

Com a escolha de Janine após a saída desastrosa de Cid Gomes, que ficou três meses no cargo, Dilma sinaliza uma preocupação com o debate ético no seu governo. Mais ainda: coloca um nome técnico, e não partidário, na pasta que, conforme ela própria declarou, é a mais importante do seu mandato e da “pátria educadora”.

DE SORBONNE A BRASÍLIA

Para quem entende de educação, a escolha de Janine foi um respiro aliviado. Nos últimos dias, especulou-se a nomeação de Gabriel Chalita, secretário municipal de educação de São Paulo, ou de algum reitor de uma universidade importante do país. Havia receio de que, assim como Cid Gomes, outro político que não fosse da área assumisse a pasta.

Renato Janine Ribeiro nunca foi reitor, mas é um nome forte e agrada a academia. É professor de ética e de filosofia na USP, melhor universidade do país, e fez mestrado em Sorbonne, França, reduto dos filósofos de elite da atualidade. Já ocupou cargo de gestão na Capes, que avalia o ensino superior do país, em conselhos no CNPq, maior agência de fomento à ciência do país, e na SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência).

Mais do que isso: Janine é um pesquisador de referência na sua área, mas não fica enclausurado na academia como boa parte dos cientistas brasileiros. Fala com a imprensa, escreve textos de divulgação científica, usa redes sociais e tem um site em seu nome –com fotos– no qual fala sobre sua própria carreira e seus trabalhos. Escreve em francês, em inglês e em espanhol, é a favor da internacionalização. Assume posturas modernas em relação à universidade e críticas em relação ao governo como poucos cientistas fazem.

Ainda não estão claras quais serão as prioridades de Janine na educação. Não se sabe o que ele pensa sobre Enem, Enade, Fies. O que se sabe é que ele defende a ética e escreve que a corrupção será vencida “quando ela parar de servir de pretexto político de um lado contra o outro e for mesmo repudiada pela maior parte da população.” Quem sabe ele não consegue uma fórmula mágica para levar essa ética às escolas e às universidades?

UM NOVO FIES COM CAPITAL PRIVADO

Segundo especialistas, o índice de aprovação do crédito é muito elevado no Fies, que impõe como condição renda familiar mensal bruta de, no máximo, 20 salários mínimos. Já no PraValer, a taxa de aprovação é de um terço, segundo Furlan. O aluno tem que comprovar renda mínima de duas vezes o valor da mensalidade.

O Santander, que acaba de lançar um seguro que paga a mensalidade do aluno em caso de perda do emprego, avalia a possibilidade de lançar linha de crédito, mas vê o cenário com cautela.

As faculdades preparam um fundo similar ao Fies, com capital privado, com lançamento até o fim de maio. O projeto prevê a criação de um fundo de provisionamento para cobrir a inadimplência.

– Estamos procurando as federações de bancos e da indústria para participar desse financiamento, mas o estágio ainda é de negociação. O juro não poderá ser de 3,4% ao ano porque é impossível competir com isso. Mas não pode ser alto demais – contou Elizabeth Guedes, da Associação Brasileira para o Desenvolvimento da Educação Superior (Abraes), que reúne os principais grupos educacionais do país.

A estudante de engenharia da UVA Karen Kiarelli de Rezende diz que, sem o Fies, teria dificuldade de bancar os R$ 1.700 mensais e aproveitar as aulas. Karen avalia que poucos estudantes podem recorrer ao setor privado para concluir o curso.

– Faço estágio. Se não tivesse o financiamento, teria que arrumar um trabalho com carga horária de oito horas, o que comprometeria meu rendimento.


Sabine Righetti – Folha de São Paulo