Após duas semanas de alta por conta da nomeação do novo Ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro, as ações das companhias de educação voltaram a cair ontem. Os papéis de Kroton e Estácio lideraram as perdas do Ibovespa, com queda de 4,58% e 4,23%, respectivamente, como reflexo de um relatório com 33 páginas do Credit Suisse sobre os impactos das mudanças nas regras do Fies, financiamento estudantil do governo.
O Credit Suisse reduziu de 4% para 1% sua estimativa de taxa média de crescimento do número de novos alunos no ensino superior entre 2014 e 2024 – período em que o governo federal tem como meta, pelo Plano Nacional de Educação (PNE), dobrar o número de jovens de 18 a 24 anos matriculados na graduação.
Segundo os analistas do banco, Victor Schabbel e Lucas Lopes, a redução no programa Fies deverá reduzir a capacidade de os grupos educacionais aumentarem suas mensalidades, poderá levar a maior inadimplência e evasão de alunos o que “demanda uma postura mais cautelosa em relação à expansão a não ser por oportunidades de aquisições muito atraentes”.
O maior risco de evasão pode ocorrer quando os alunos souberem, afinal, se conseguiram ou não seu contrato de Fies. Como o período de inscrições do financiamento vai até 30 de abril, as instituições de ensino ainda não divulgaram o volume exato de alunos beneficiados. “As taxas de abandono são uma importante preocupação no segundo trimestre de 2015, pois muitos estudantes matriculados que contavam com o programa podem ser deixados de mãos vazias e acabar saindo da graduação”, informa relatório do banco.
Outra razão para a queda de Estácio foi a mudança na recomendação de compra para venda do papel, mas sem mudanças no preço-alvo que manteve-se em R$ 19 nos próximos 12 meses. Os analistas afirmaram que, desde 26 de dezembro, as ações da Estácio caíram 8%, percentual menor em relação a suas concorrentes. “As análises feitas pelo mercado ainda não levaram em consideração o risco crescente de geração de caixa mais fraca do setor e da própria companhia.”
Os analistas do Credit Suisse também revisaram para baixo suas projeções para a Kroton. No entanto, ontem, durante evento realizado em Porto Alegre, o presidente da companhia, Rodrigo Galindo, informou que o número de novos alunos de graduação presencial deve ser de 110 mil, patamar semelhante ao do mesmo período do ano passado. No mês passado, a companhia informou que estimava uma queda de até 5% ou empatar com 2014. “O processo de captação superou as expectativas”, disse Galindo, que participou do 28º Fórum da Liberdade, promovido pelo Instituto de Estudos Empresariais (IEE), na PUC-RS. (Ver Venda da Uniasselvi deve ser assinada em junho, diz Galindo)
Dos 110 mil calouros, 40 mil devem usar o Fies, 20 mil devem aderir ao Parcelamento Especial Privado (programa criado pela própria Kroton) e 50 mil são pagantes regulares. Com isso, a base total de alunos da companhia deve crescer 5% e a margem Ebitda manter-se estável.
Beth Koike e Sérgio Ruck Bueno | Valor Econômico