Medicina da USP tem 42% de novatos com renda familiar acima de R$ 10 mil

Taxa de alunos de alta renda é maior em cursos mais disputados. 18% dos calouros da USP têm renda familiar mensal de mais de 15 salários.

Os cursos mais concorridos da Universidade de São Paulo (USP) têm percentual maior de alunos de alta renda. Nas sete carreiras mais disputadas, o percentual de alunos com renda familiar acima de 15 salários-mínimos supera a taxa da instituição, que é de 18%.

No curso de medicina, 42,3% dos calouros são de famílias com renda superior a R$ 10.860 (considerado o mínimo de 2014, quando os estudantes responderam ao questionário). No bacharelado em artes cênicas, o índice é de 40%. No jornalismo, que tem 60 vagas, 36,7% dos novos alunos estão na faixa mais alta de rendimento.

Levantamento feito pelo G1 com dados divulgados nesta quarta-feira (3) pela Fuvest comparou o perfil dos calouros da USP de acordo com questionário respondido por todos os candidatos no momento da inscrição no vestibular.

O curso de psicologia tem 31,4% de seus calouros de famílias com renda superior a R$ 10,9 mil mensais. O índice é de 30% na engenharia civil de São Carlos, 25% da medicina de Ribeirão Preto e 20% no curso de audiovisual.

Nelas, há também um número menor de candidatos de baixa renda. Enquanto na universidade, 19,9% dos ingressantes têm renda familiar de até 3 salários-mínimos. Entre os mais desejados, o maior percentual de alunos nessa faixa de renda entrou em jornalismo (16,6%). Na engenharia civil de São Carlos, 5% dos calouros são de família com rendimento de até R$ 2.172.
Dos 300 calouros de medicina em São Paulo, apenas 6,4% eram de família com renda familiar de até três salários-mínimos.

Direito e engenharia da Poli
Tradicionais, os cursos de direito da Faculdade São Francisco e de engenharia da Escola Politécnica também têm mais alunos de alta renda que a média da universidade.Na Escola Politécnica, 36,8% são de família com renda superior a 15 salários-mínimos, sendo que 26,8% deles disseram ter renda familiar acima de R$ 14.480. Apenas 51 dos calouros afirmaram que sua família ganha mensalmente até três salários-mínimos (R$ 2.172).

No direito, 39,3% dos 559 novos estudantes são de famílias com renda superior a R$ 10.860. Os estudantes de famílias que ganham até três salários-mínimos são apenas 49 (8,7%).

Escola pública
Os dados divulgados pela Fuvest mostram ainda que o número de estudantes de escola público a entrarem na universidade é pequeno em relação ao total de alunos da rede pública no estado. Neste ano, 34,8% dos mais de 11 mil ingressantes da USP fizeram todo o ensino médio em escola pública.

A rede pública conta com 85,4% dos estudantes de ensino médio no estado, de acordo com o último censo da educação básica divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais.
A taxa de ingressantes de escola pública, no entanto, é maior que a do ano passado, quando 32,3% dos ingressantes tinham cursos o ensino médio em escola pública.

O levantamento feito pelo G1 mostra ainda que entraram alunos pretos apenas em quatro das dez carreiras mais concorridas da Fuvest 2015. O termo preto é uma das cinco opções de resposta para a pergunta “Qual é a sua cor ou raça?” feita para o calouro no momento da inscrição. Há 1ainda as opções branca, parda, indígena e amarela.
Nos dez mais procurados, só há calouros pretos em 2015 nos cursos de medicina (São Paulo), engenharia civil (São Carlos), jornalismo e relações internacionais.
2 anos de cursinho
Entre os estudantes de medicina, tanto os que ingressaram no curso em São Paulo quanto no do campus de Ribeirão Preto, quase metade afirmou que fez cursinho durante pelo menos dois anos antes de conseguir a aprovação na Fuvest. A porcentagem é mais alta que a da média dos 11.080 calouros da Fuvest 2015. Nesta edição, 17,3% do total de ingressantes afirmou ter estudado em um curso pré-vestibular por dois anos ou mais, antes de passarem no vestibular.

Neste ano, só cerca de um terço (36,8%) dos calouros da USP passaram na Fuvest sem cursinho. O número é mais baixo do que em 2014 (38,3%) e interrompeu uma sequência de aumento no número de candidatos que “passaram direto” que durava desde a Fuvest 2010.

Cerca de 10% dos calouros da Fuvest 2015 fizeram até seis meses de cursinho antes de passar na segunda fase, e 35,6% estudou em um curso pré-vestibular durante um ano antes de conquistar a vaga e se matricular.

Inclusão na USP
Procurada pelo G1, a USP informou que, “em 2015, o número de ingressantes oriundos de escolas públicas na USP cresceu 8% em relação ao ano anterior e o número de alunos matriculados que se declararam pretos, pardos e indígenas (PPI) cresceu 8,4% em comparação a 2014. Ressalte-se, também, que está em andamento a discussão sobre as novas formas de ingresso na Universidade”.
Para aumentar o número de alunos oriundos de escola pública, a universidade tem dois programas de inclusão pelo vestibular: o Inclusp e o Pasusp.

Pelo Inclusp, o aluno de escola pública pode receber um bônus de 12% a 15% em sua nota da primeira fase do vestibular. Já o Pasusp é um programa em que o estudante faz provas ao longo de todo o ensino médio é recebe bonificação conforme suas notas. O bônus pode chegar a 20%.
Candidatos que se declararem pretos, partos ou indígenas e tiverem cursado todo o ensino fundamental e médio em escola pública pode receber um incremento de até 25% em sua pontuação da primeira fase.

Cristiane Capuchinho e Ana Carolina Moreno – G1