Definição de currículo nacional para educação gera contradição no governo

A criação de um currículo nacional para a educação básica tem movimentado diferentes atores do governo federal –e não necessariamente na mesma direção.

No ano passado, a sanção do Plano Nacional de Educação deu um prazo para a construção do documento: até junho de 2016, a proposta de uma base nacional comum deve ser enviada ao CNE (Conselho Nacional de Educação), após processo de “consulta pública nacional”.

Antes mesmo dessa etapa, no entanto, o tema é alvo de divergências na Esplanada.

Encarregado da tarefa, o Ministério da Educação instituiu neste mês 29 comissões responsáveis por elaborar um primeiro esboço do currículo, a ser aplicado por escolas públicas e privadas do país.

Hoje, o ministério possui diretrizes, mas o conteúdo abordado em sala de aula é definido por escolas e redes.

A iniciativa do MEC reúne 116 consultores, entre professores da rede básica e pesquisadores de universidades, que irão indicar o que deve ser ensinado da educação infantil ao ensino médio.

O secretário Manuel Palácios (Educação Básica) reconhece que o nível de detalhamento é um dos pontos mais delicados do debate.

“Se for muito genérico, vai dar pouca orientação aos professores e elaboradores de material didático. Se for excessivamente detalhado, quase especifica o que deve ser dado em cada aula. As duas opções são ruins.”

A intenção é definir 60% do conteúdo e deixar o restante a critério das redes de diferentes regiões do país. O modelo é pensado pelo MEC a partir de disciplinas tradicionais como história, matemática e geografia.

OUTRA FRENTE

Ao mesmo tempo, o ministro Mangabeira Unger (Assuntos Estratégicos) vem consultando especialistas e conhecendo experiências para elaborar uma outra sugestão.

Segundo a Folha apurou, Unger defende um conceito mais “ousado”, incluindo aulas de raciocínio lógico e interpretação de texto nos anos finais da educação básica.

Recentemente, ele afirmou que é preciso “superar de uma vez por todas” a lógica “enciclopédica” nas escolas.

Em evento na quarta (24), o ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro, defendeu a atuação da pasta.

“Essa base nacional comum está sendo discutida por um grupo abrangente, com representantes dos Estados, dos municípios. E que se nutre de representantes qualificados. Não é um projeto de sábios externos ao mundo real”, afirmou.

A falta de consenso preocupa. “O que espero é que visões distintas e posturas ideológicas não tomem o lugar e imponham à juventude conteúdos e valores que lhes sejam estranhos”, afirma Luiz Roberto Alves, presidente da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação.

O órgão será a instância final desse debate.

FLÁVIA FOREQUE e FÁBIO TAKAHASHI _ Folha de S. Paulo