Novas políticas de fomento, estrutura curricular flexível e avaliações menos rígidas estão entre as alternativas para uma mudança no cenário
O tom provocativo na apresentação de soluções concretas de mudança no Ensino Superior brasileiro marcou as falas da mesa redonda “Educação Superior, pesquisa básica e política industrial”, que ocorreu na tarde de ontem, dia 13 de julho, no Teatro Florestan Fernandes da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), na programação da 67ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
Regina Pekelmann Markus, Secretária Geral da SBPC, assumiu a coordenação da mesa, composta por Jorge Luis Nicolas Audy, Vice-Presidente da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreedimentos Inovadores (Anprotec), Luiz Davidovich, docente do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e Luiz Roberto Liza Curi, do Conselho Nacional de Educação (CNE).
Os palestrantes apresentaram dados sobre o Ensino Superior no Brasil que interferem na consolidação da inovação no País. Para Audy, quando o assunto é inovação, ainda é preciso evoluir muito. “O nosso desenvolvimento é sustentado com a exploração de matéria prima e não com o conhecimento. Estamos distantes de transformar conhecimento em valor agregado, em riqueza”, sintetizou.
Nesse contexto, a universidade tem um papel chave. “Ainda que as primeiras universidades tenham sido instaladas tardiamente no Brasil, houve uma evolução notável em índices como a formação de doutores, número de publicações e iniciativas em diversas áreas, como Física, Matemática, linguagens e aperfeiçoamento de professores”, afirmou Davidovich, com base em dados sobre o ensino no Brasil e no mundo. “Mas, comparado a ouros países, ainda precisamos melhorar muito.”
Apresentando exemplos de países bem sucedidos nos rankings do Ensino Superior – incluindo nações da Europa e, também, China e Estados Unidos –, Davidovich defendeu alternativas com foco na formação de pessoas. Uma delas é a flexibilização dos currículos, combinando cursos de graduação de diferentes durações, a inserção de mais disciplinas eletivas, dentre outras diretrizes que, segundo ele, estão registradas integralmente nos documentos da Academia Brasileira de Ciências (ABC).
A rigidez em processos externos às Instituições de Ensino Superior (IES) também é apontada como um obstáculo ao desempenho voltado à inovação. “Apenas 3% dos doutores no Brasil estão na indústria. Os demais estão na universidade, regidos por estruturas de avaliações, periódicas e obrigatórias”, afirmou Curi. Especificamente em relação ao âmbito privado, Curi acentua a crítica: “Com tantas avaliações, as instituições se ajustam aos requisitos mínimos para manter a expansão do Ensino Superior. Daí a baixa produtividade dessas IES”, afirmou. E complementou: “No Brasil, 68% das IES são privadas. Elas deveriam investir mais em inovação. Falta uma política que estabeleça isso como agenda compulsória”.
Gestão no Ensino Superior
Apesar dos fatores externos que, segundo os participantes da mesa, impedem o avanço do Brasil na inovação, a resistência à mudança por parte das próprias IES, tanto públicas quanto privadas, foi uma crítica comum nas falas dos palestrantes. Davidovich apontou o conservadorismo das corporações como um dos principais entraves às mudanças, especialmente de gestores e docentes. “As IES devem colocar sua tradição e qualidade a serviço da renovação necessária para atender a sua terceira missão, que é a atuação no desenvolvimento econômico e social”, afirmou Audy.
Ascom UFSCar