País tem de difundir melhores práticas em educação, dizem especialistas

A melhoria do ensino público no país passa por documentar e ampliar “experimentações” para a atividade docente e, principalmente, difundir regularmente as melhores práticas em educação. A ideia aqui é aumentar a autoestima e a motivação dos professores.

Especialistas na matéria colocaram esses pontos no último dia 19, em debate promovido pelo Instituto Unibanco sobre gestão escolar. Eles citaram a necessidade de aliar os atuais sistemas de incentivo vigentes, como bônus por desempenho, ao aumento da “motivação intrínseca” do docente, o que passaria por estratégias diversas de valorização.

“O que a gente sabe é que a motivação intrínseca (interna, natural) é a mais importante. Não adianta nada você (só) dar prêmios e bônus. O trabalho passa pela valorização social da profissão”, afirmou Ricardo Paes de Barros, professor do Insper e coordenador do Núcleo de Pesquisa em Ciências para Educação.

“Avanços que estão ocorrendo na regulamentação da carreira dos professores podem trabalhar nessa direção (valorização da autoestima)”, disse Paes de Barros. “O que não está se trabalhando é o papel dos professores no imaginário, no simbólico da sociedade. Se não se trabalhar, vai ter dificuldade de avanço da autoestima dos professores.”

Na visão dos especialistas que participaram do debate, criar espaços regulares de difusão e análise das melhores práticas em educação ajudaria tanto na revalorização do professor quanto na identificação de elementos que possam servir como uma espécie de “espelho” motivacional para o profissional de educação.

“Tem que ter um sistema estatal que difunda as melhores práticas (de educação). Na agricultura, se difunde e o agricultor recebe uma visita técnica que dá assistência a ele. Você não tem o equivalente na educação”, disse Paes de Barros.

“Acredito muito no contágio. A motivação intrínseca é muito contagiante. (Seria importante) pensar em formas e políticas para colocar (em evidência) a experiência de professores bem motivados e como a gente pode aproximar esses caras dos cursos de formação”, sugeriu Ricardo Madeira, professor da USP e pesquisador da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), outro participante do evento.

Com trabalhos desenvolvidos em economia da educação, uma de suas linhas de pesquisa, Madeira sugere que o Brasil documente mais e melhor as próprias experiências.

“Uma coisa que funciona na Índia pode não funcionar aqui. A gente tem que ser mais aberto à ideia de experimentação e (criar) protocolos científicos para validar isso”, disse. “A gente tem pouco hábito de documentar as nossas experiências educacionais e não está aprendendo sobre elas.”

Para Madeira, nessa ideia de aumentar o leque de experimentações educacionais, não há que se ter medo de eventuais fracassos, parte do processo científico.

“Você olha na medicina: as experimentações são todas documentadas, protocoladas. E a gente aprende com o erro e com o sucesso”, afirmou. “A gente documenta muito pouco as nossas experiências (educacionais) e, quando documenta, não tira o melhor proveito delas.”

Para Paes de Barros, nesse vácuo na área educacional, o que ocorre com mais frequência entre as escolas públicas do país é, em vez da propagação de experiências positivas, é um tipo de “contágio negativo”.

“A experiência do contágio negativo se espalhou. É a história de que o professor é um ‘pobre coitado’ e precisa ser ajudado. E não um cara que está ajudando (a escola e a sociedade). Essa é uma questão fundamental”, disse o professor do Insper.

 

 

Fábio Mazzitelli – Folha de São Paulo