Parece incrível, mas a reação conservadora de certos setores da política e da sociedade brasileira pode e tenta prejudicar a secular luta das mulheres por equidade de gênero.
A redação deste último Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), que teve como tema “A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira”, provocou alguns disparates, como a manifestação de um deputado nas redes sociais, dizendo que a teoria de gênero é “um fétido cadáver, que já deveria estar sepultado”.
Houve outras perigosas e dolorosas reprovações ao tema e, portanto, por extensão, contrárias às conquistas da mulher nas últimas décadas.
O lado positivo é que a maioria dos professores e estudantes aprovou o tema, considerado atual, já que a violência contra a mulher é, infelizmente, uma prática da qual ainda não conseguimos nos livrar.
Outro fator positivo é que a redação exigiu do aluno uma posição favorável à mulher, já que seria simplesmente impensável alguém defender a violência.
E, assim, 6 milhões de jovens, pelo menos, pararam para pensar na situação da mulher brasileira. Ponto para o Enem.
A reação contrária à questão de gênero, mesmo sendo de uma minoria, apenas revela o quanto a sociedade brasileira precisa avançar para atingir o estágio em que se encontram os países desenvolvidos, onde já se busca a equidade nos detalhes, e não para que a mulher tenha respeitados os direitos mínimos.
E é aí que entram não somente o poder público, que no Brasil tem alavancado uma série de conquistas, como também as nossas empresas. Muitas delas já dão exemplos de equidade de gênero, mas ainda há muito por fazer.
A realidade é que o Brasil ocupa o 121º lugar no ranking de participação das mulheres na política. No mercado de trabalho, elas recebem o equivalente a 70% do que ganham os homens. E apenas oito em cada cem profissionais de alto escalão nas companhias são do sexo feminino.
Nossas empresas têm o dever e a missão de dar uma resposta positiva, de reconhecimento ao empoderamento da mulher.
Os jovens que fizeram o Enem logo estarão às portas das empresas para buscar uma oportunidade de trabalho. E será que ali encontrarão um ambiente onde haja mais equidade entre homens e mulheres profissionais?
Ou verão ali reproduzido o que há de pior na nossa sociedade, em que o machismo ainda dita regras e leis?
As empresas, além de importantes atores na transformação da sociedade e do país, têm a obrigação de dar uma resposta a estes jovens universitários, para um Brasil de mais equidade, com menos discriminação e violência contra a mulher.
A empresa que busca praticar no dia a dia a equidade de gênero deve levar isso a público, para incentivar a que outras façam o mesmo: de seus fornecedores a seus clientes, independentemente do ramo em que atue.
É com esse fim que foi criado o Prêmio WEPs Brasil, para reconhecer os esforços das empresas que promovem práticas, programas e ações de promoção da cultura da equidade de gênero e empoderamento da mulher.
WEPs vem da sigla em inglês para Princípios de Empoderamento das Mulheres, uma iniciativa lançada pela ONU Mulheres e Pacto Global da ONU em 2010, para promover a equidade de gênero nas empresas, no ambiente de trabalho e na comunidade.
Até 10 de novembro estão abertas inscrições para empresas de todo o Brasil participarem da premiação. Conheça mais sobre os Princípios de Empoderamento das Mulheres das Nações Unidas e faça a inscrição da sua empresa no site do prêmio.
Nossas empresas precisam se comprometer com o empoderamento das mulheres para avançarmos na equidade de gênero no Brasil e contribuirmos positivamente para os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável aprovados nas Nações Unidas no início de outubro.
Margaret Groff – Folha de São Paulo