No mundo todo só 1% dos refugiados chega à faculdade; no Brasil nove instituições oferecem programas específicos para facilitar o acesso desses alunos.
Cerca de 70 refugiados ingressaram em 17 instituições de ensino superior brasileiras entre novembro de 2016 até setembro de 2017, segundo dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) obtidos com exclusividade pelo G1. Neste período, 22 diplomas de refugiados foram revalidados por estas mesmas instituições.
No mundo todo, um refugiado tem 36 vezes menos chance de ingressar no ensino superior do que alguém que não está em situação de refúgio. E somente 1% dos refugiados chega à faculdade; no Brasil nove instituições oferecem programas específicos para facilitar o acesso desses alunos.
Segundo dados do Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), a população de refugiados no Brasil é formada por 9.552 pessoas de 82 nacionalidades. Não se sabe se o Brasil atinge o índice global de 1% de refugiados no ensino superior porque eles podem estar matriculados em outras instituições que não estão entre as 17 “parceiras” da Acnur.
É o caso da síria Sarah Hazeemeh, de 21 anos, que cursa o quarto semestre de farmácia em uma universidade particular em São Paulo. Sarah teve de aprender português suficiente para conseguir fazer uma redação e ser aprovada no vestibular agendado. Só teve sucesso na segunda tentativa. Também precisou arrumar um emprego para pagar a faculdade. (confira o depoimento de Sarah no vídeo acima)
A unidade de informação pública do Acnur afirma que as 17 universidades brasileiras que integram a chamada “Cátedra Sérgio Vieira de Mello” estão engajadas em diversos projetos com pesquisas e ações que dialogam com suas demandas e contribuem para sua integração. Todos os meses elas atendem 1.000 refugiados assistência jurídica, na área da saúde, além de ensino de português.
No entanto, deste grupo, apenas nove, possuem programas específicos para facilitar o acesso deste público à graduação. Entre elas, a pioneira Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) que desde 2009 já recebeu 21 alunos em situação de refúgio para os cursos de graduação – cinco já se formaram, e 13 seguem estudando.
Maiara Folly, pesquisadora do Instituto Iguarapé, reforça que a universidade representa uma chance de reconstrução, de recomeço a longo prazo. “O que acaba acontecendo é que, quando isso não é possível, o refugiado acaba recorrendo a trabalhos de caráter informal, que oferecem uma remuneração pior e o deixam em uma posição de vulnerabilidade. Com o acesso ao ensino superior, ele sabe que vai ficar melhor do que no local onde estava antes”.
Para facilitar o acesso dos refugiados ao ensino superior, a pesquisadora defende a criação de programas e políticas públicas no âmbito federal.
A pedagoga Thaís Juliana Palomino trabalha na UFSCar e acompanha os estudantes refugiados.
Fonte: G1 – Por Gabriela Bazzo e Vanessa Fajardo