Diante das dificuldades encontradas durante a vida do deficiente, de preconceitos e de injustiças sociais que convivem rotineiramente, o espaço da Universidade deve ser aquele em que se sinta acolhido e incluso, como deve ser naturalmente, em um ambiente de troca constante de saberes.
Nesse sentido, dentre as práticas que a Universidade Federal do Tocantins (UFT) procura obter no que tange à acessibilidade dos estudantes, encontra-se desde banheiros femininos e masculinos adaptados e adequados à comunidade acadêmica deficiente física, podendo ser encontrado, por exemplo, no Restaurante Universitário do Câmpus de Porto Nacional e no Complexo de Estudos Geoambientais e de Saúde no Câmpus de Palmas; implementação de ações de capacitação para alunos com algum tipo de deficiência visual, como a que o Centro de Idiomas do Câmpus de Palmas fez no início do ano; vagas destinadas aos candidatos técnico-administrativos com deficiência – de acordo com dados da Copese, na última seleção concorrendo à 11 vagas, dentre os mais de 4 mil inscritos no concurso, 130 foram candidatos deficientes; vagas para cursos de Especialização, como os oferecidos pela Especialização em Ensino de Comunicação em Jornalismo; eventos organizados na UFT que valorizem a Língua Brasileira de Sinais (Libras); projetos de pesquisa que visam a processos de cuidado a pessoas com deficiência, interferindo com ações que favoreçam a organização e qualidade da assistência.
Caroline Barbosa, ex-acadêmica do curso de Jornalismo do Câmpus de Palmas, que defendeu seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) recentemente, conta que o Programa de Acessibilidade e Educação Inclusiva (Paei) foi seu melhor amigo para lhe auxiliar nos estudos durante os quatro anos da graduação. “Foi onde tive material; recursos como máquina e impressora braile, além de computadores que também me ajudaram a estudar, com scanner de voz para leitura”, lembra Caroline.
Muitas vezes, a ajuda de colegas e amigos facilita a vida do estudante com deficiência. No caso de Caroline, a amiga estudante do curso de Jornalismo Fernanda França conta que o Paei beneficiou no aspecto da acessibilidade. “Tem muitos equipamentos; alguns acabaram de chegar e teve uma melhora significativa nesse último semestre”, conta Fernanda. Ela atenta ainda ao fato de que a Universidade deve criar um pensamento consciente em todos que frequentam a Universidade, promovendo eventos com o tema sobre a acessibilidade. “Alguns pontos estruturais devem ser melhorados e construídos, além de que a capacitação de servidores e professores para lidar com a deficiência é outro ponto que deve ser enfatizado”, alerta.
Como presidente do Centro Acadêmico (CA) do curso de Educação do Campo, localizado no Câmpus de Tocantinópolis, o também ex-acadêmico Maycon Kleber lembra que durante seu curso, obteve o direito de ser avaliado diferentemente de seus colegas sem deficiência. Deficiente visual, Maycon conta que foi bem acolhido no curso e na Universidade, durante seus quatro anos de UFT, com o Paei sendo o principal auxílio. “Recebi equipamentos de acessibilidade, como um scanner com sistema de voz; um computador adaptado; um outro scanner, chamado Sara PC, que também é um scanner de voz; e uma máquina braile que recebi bem no começo do curso”, completou Maycon.
Apesar dos percalços os quais a Universidade passa – como a necessidade de cotas para deficientes nos editais dos processos seletivos para ingresso nos cursos de Graduação e Mestrado da Universidade, garantindo o acesso do aluno deficiente que não possui as mesmas oportunidades que alunos sem deficiência; e estrutura física em questões de acessibilidade nos Câmpus – há trabalhos sendo feitos para melhor desenvolver a inclusão na Universidade.
A vice-reitora Ana Lúcia de Medeiros diz que este ano, a UFT conta com três intérpretes de Libras para auxiliar alunos com deficiência auditiva. Além disso, foram investidos 600 mil reais no Câmpus de Porto Nacional para o ramo da Língua Brasileira de Sinais.
A Universidade oferece curso de graduação em Letras-Libras na modalidade licenciatura, voltada especificamente para a formação de professores que desejam atuar como docentes de Libras. A Língua integra a matriz curricular de diversos outros cursos de graduação, sendo disciplina obrigatória nos cursos de licenciatura.
O estudante do 8º período de Ciência da Computação, Matheus Machado, optou por cursar a disciplina optativa de Libras ofertada pelo curso de Teatro do Câmpus de Palmas. Seu interesse inicialmente foi em cumprir com a carga horária das disciplinas optativas para se formar, e pretendia procurar algo com foco diferente do seu curso. “Mas eu também a peguei porque eu gosto de aprender novas línguas. Sou fascinado em aprender outros idiomas, inclusive meus planos são aprender japonês, francês e alemão até completar 30 anos”, conta Matheus, descontraidamente.
Matheus ainda lembra que imaginava a disciplina como apenas teoria, porém se surpreendeu com o modo como foi ensinado. “Recomendo muito para qualquer estudante cursar essa disciplina. O professor ensinava muito bem o conteúdo dividindo metade da aula em teoria e outra metade em prática. Acabou sendo uma matéria bem filosófica no final, e mesmo sendo leigo em filosofia, adoro as discussões. Mudei bastante meu modo de pensar sobre a cultura surda”, pontua o estudante.Além do curso de graduação e da disciplina ofertada por outros cursos, a UFT realiza cursos de capacitação em Língua Brasileira de Sinais. Nos últimos três anos, quase 100 servidores foram capacitados nos câmpus de Araguaína, Palmas, Porto Nacional e Tocantinópolis por meio do Projeto Servidor Multiplicador, desenvolvido pela Pró-reitoria de Gestão e Desenvolvimento de Pessoas (Progedep).