Na próxima terça-feira (19), a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), realiza um seminário sobre o Sistema de Seleção Unificada (SISU). Para tanto, foram convidados especialistas, como o professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), Jesualdo Farias; o diretor do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), Carlos Eduardo Moreno Sampaio; o membro do Colégio de Pró-reitores de Graduação das IFES (COGRAD), professor Cassiano Caon Amorim; a reitora da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Cleuza Maria Sobral Dias; a reitora da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Maria José Sena; o diretor da Diretoria de Desenvolvimento da Rede de Instituições Federais de Ensino Superior (DIFES), Mauro Luiz Rabelo; e o coordenador do COGRAD, professor João Alfredo Braida.
Criado pelo governo Lula em 2009, o SISU é hoje uma das principais formas de acesso à universidade.
Em 2017, na edição de janeiro, foram 238 mil vagas – 4,5% a mais de vagas que em 2016, oferecidas por 131 instituições, e disputadas por mais de dois milhões e meio de candidatos. Em janeiro de 2018 foram 239.601 vagas na primeira edição do SISU.
De acordo com o site do SISU, neste semestre, 57.271 vagas estão em disputa por estudantes que fizeram a edição 2017 do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e não tiveram nota zero na prova de redação.
Ao todo, 68 instituições aderiram ao SISU: 30 universidades federais, 27 institutos federais, dois centros de educação tecnológica federais, além de sete universidades estaduais e um centro universitário público estadual. É sobre isso que entrevistamos o professor Braida.
Qual é a importância do SISU para os estudantes?
Para os estudantes, em tese, a importância se constitui na possibilidade de poder participar de um processo seletivo que envolve, praticamente, todas as instituições públicas brasileiras. Antes do SISU, o estudante precisa optar em quais instituições iria prestar o vestibular e, muitas vezes, esta decisão era pautada mais pelas distâncias e pelo custo com viagens do que por características do curso e da instituição escolhida.
Em relação ao acesso e à permanência, qual é o papel do SISU?
O SISU representa um mecanismo de democratização do acesso, mas tem poucas implicações diretas sobre a permanência, uma vez que incide, unicamente, no processo de seleção para o ingresso. Entretanto, ao ampliar a democratização do acesso, é possível que o SISU tenha reflexo sobre a permanência, uma vez que, em tese, pode existir uma mudança no público que acessa a educação superior e, com isso, pode haver uma mudança das demandas relativas à permanência.
O senhor pode afirmar que o SISU faz diferença real no contexto do graduando?
Penso que no contexto do graduando, não, pois o sistema é somente um mecanismo de seleção que, inclusive aproveita uma avaliação realizada previamente pelo estudante. O que muda para o estudante é que ele presta um único exame e consegue concorrer a vagas em praticamente todas as IES públicas do país. Não fosse o sistema, ele teria que realizar vários exames vestibulares e só em algumas IES.
E em relação ao êxito do estudante na universidade, qual é a contribuição do SISU?
Em tese, o SISU não tem impacto sobre o êxito do estudante na universidade, pois não altera sua condição social, econômica, educacional, entre outros. No entanto, com a democratização do acesso, é possível que o público que ingressa na universidade seja diferente daquele que acessaria se o processo seletivo fosse por vestibular e, com isso, pode se observar uma mudança no êxito dos estudantes de uma dada instituição … mas isso não significa uma mudança no êxito de um estudante em específico.
O SISU proporciona diferenças no cenário acadêmico?
Sim, dada a maior democratização do acesso, espera-se que haja uma mudança no público efetivamente atendido pelas instituições e, portanto, resultando em mudanças no cenário acadêmico.
O senhor poderia fazer um comparativo do cenário da graduação antes do SISU e do atual cenário?
É possível dizer que, atualmente, a graduação nas IFES, em especial, está mais próxima da sociedade, no que se refere à representação de grupos ou classes sociais, grupos étnicos, cor e trajetória escolar e, mais recentemente, de pessoas portadoras de deficiência. Entretanto, possivelmente estas mudanças são devidas, principalmente, à adoção de políticas afirmativas no ingresso (Lei das Cotas) e pela ampliação dos recursos para assistência estudantil, que, de certo modo, foram implantados em paralelo com o SISU especificamente. Portanto, não é possível afirmar que estas mudanças de cenário são motivadas pela adoção do SISU.
Como o senhor avalia que o Governo está investindo no SISU?
Penso que o Ministério da Educação deveria interagir mais com as IES que aderiram ao SISU, no sentido de aperfeiçoá-lo. Nos últimos anos, o MEC tem feito algumas mudanças no SISU sem consultar, previamente, as IES que são, no fim das contas, as usuárias do Sistema. É preciso ampliar, portanto, este diálogo.
Quais os prejuízos acarretados pela diminuição de investimentos?
A diminuição dos investimentos públicos, em especial para a educação superior, poderá provocar redução do ingresso e da permanência dos estudantes na graduação. Isso porque num cenário de depressão econômica, muitos jovens acabam sendo obrigados a deixar os estudos para trabalhar e ajudar a família com a renda.
O que o senhor espera de resultados a partir do debate proposto?
Espero que possamos avançar na qualificação do SISU, pois entendo que o mesmo é fundamental para a democratização do acesso à educação superior nas universidades públicas. Um resultado possível é a criação de uma comissão nacional, com representantes das IES públicas, para avaliar e propor melhorias aos sistemas.
O seminário será às 8h, na sala 10 do Hotel Nacional, SHS, Quadra 1, Bloco A, Sobreloja, em Brasília.