Na tarde do último dia 28 de junho, foi realizado no anfiteatro da Reitoria da Unifesp o seminário Matriz Energética no Brasil Hoje: Dilemas e Perspectivas. O evento reuniu docentes e especialistas na área, que debateram as questões cruciais sobre as políticas públicas relacionadas à exploração, desenvolvimento e administração da matriz energética do Brasil, desde a política de preços que regulamenta a comercialização dos derivados de petróleo aos caminhos e perspectivas que deveriam ser adotadas para um futuro próximo.
Mediado pelo jornalista e docente da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) José Arbex, Jr., participaram do debate os professores da Unifesp Caio Fontana (Campus Baixada Santista), Daniel Monteiro Huertas (Campus Osasco), Fábio Braz Machado (Campus Diadema), além do professor titular do Instituto de Energia e Ambiente (USP) e ex-diretor da Petrobras, Ildo Sauer. Também estiveram presentes no evento a reitora da Unifesp, Soraya Smaili e a assessora de gabinete Gabriela de Breláz.
O docente da USP e ex-presidente da Petrobras falou a respeito do pré-sal, descoberto pela estatal petroleira em 2006, afirmando que a sua exploração pode mudar o patamar do país em relação à produção do petróleo, mas que a forma como a política tem sido conduzida não reverterá benefícios para a sociedade. Sauer trouxe um panorama histórico das matrizes energéticas do Brasil ao longo das décadas. Falou sobre os meios de transporte utilizados para o escoamento da produção nacional, ressaltando a tendência do país em investir no transporte rodoviário em detrimento das ferrovias e hidrovias.
No campo da geração de energia, criticou a política de medição e produção de energia hidráulica, por meio dos parques eólicos, onde é necessário alugar espaços privados para este fim. Falou também sobre os custos dos combustíveis fósseis em comparação com a eletricidade, apontando que o Brasil poderia economizar 30% na produção de energia. O ex-diretor da Petrobrás afirmou ainda que a política atual da estatal visa somente a produção de dividendos para os grandes acionistas, sendo que o lucro gerado poderia ser revertido para investimentos em áreas estratégicas e sociais do Brasil.
O material apresentado por Ildo Sauer está disponível neste link.
Machado abordou em sua fala a comparação das diversas matrizes energéticas brasileiras e o perfil de utilização de cada uma delas ao longo dos anos. O docente mostrou que, atualmente, o óleo diesel representa mais de 40% do consumo de energia no país. Ele explicou as questões geológicas responsáveis pela formação dos combustíveis fósseis e os desafios relacionados à exploração do pré-sal. Para o pesquisador, é preciso investir em educação, conhecimento e tecnologia para entender as melhores formas de explorar esses recursos.
A palestra de Fontana discorreu sobre o sistema de transporte de cargas no Brasil. Segundo ele, o atual cenário, dependente dos combustíveis fósseis e das rodovias, é difícil de ser mudado. A malha ferroviária é responsável por parte do escoamento das commodities, em especial, soja e açúcar, mas em alguns pontos cruciais, como na Serra do Mar, em direção ao Porto de Santos, os trens precisam ser fracionados, ou seja, descer com menos vagões, pelo fato de a malha ferroviária não comportar um grande volume de carga. Além disso, grandes embarcadores como a Vale do Rio Doce, adquiriram o direito de explorar, por meio de concessão, trechos da malha ferroviária, podendo usá-la, praticamente, como um bem particular.
Autor do livro Território e Circulação – Transporte Rodoviário de Carga no Brasil, Huertas abordou a questão do frete dos caminhões, um dos motivos para a grande paralisação da categoria, ocorrida em maio deste ano. Diferentemente de outros países, os caminhões no Brasil trabalham em grande parte com carga fracionada, tendo que carregá-lo em diversas localidades, ao invés de iniciar a viagem com a carga máxima. Programas como o pró-caminhoneiro estimularam a produção e a comercialização dos veículos no Brasil, mas as grandes empresas são as mais beneficiadas pela medida, adquirindo caminhões novos e negociando os usados para os autônomos. Ao longo dos anos, segundo Huertas, os caminhoneiros autônomos precisaram abrir “empresas” para continuar trabalhando, e passaram a depender de “gerenciadores de cargas”, que os avisam quando há entrega a fazer. Sobre a malha ferroviária, o docente comentou que cerca de 8 mil quilômetros estão sucateados e outros 9 mil subutilizados.