É comum a presença da famosa espada de São Jorge nos jardins de lares brasileiros como símbolo da proteção contra o mau olhado. Também é tradicional o uso do manjericão roxo pelo seu valor nutricional e aspecto visual nos mais diversos pratos como pizzas e outros assados. Essas e outras folhas que fazem parte de nossa tradição cultural também têm raízes no candomblé e outras religiões de matriz africana. A espada de São Jorge e o manjericão roxo, por exemplo, estão associados aos orixás (panteão de divindades do candomblé) Ogum e Xangô. Os dois seres divinizados estão relacionados, respectivamente, à tecnologia e à justiça.
Esta ligação entre plantas e orixás é explorada no livro “Ewé Ásà: folhas e religiosidade afro-brasileira”, lançado em 28/6 na sede da ADUFU – Seção sindical, associação dos docentes da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). O lançamento contou com a presença dos autores do livro Isley Borges, jornalista e pesquisador, e Nasser Pena, graduando em Jornalismo pela UFU. Também estava presente a responsável pela consultoria em cultura afro-brasileira, Maria Cristina Andrade Florentino (Iyá Cristina Ifatoki), líder religiosa do Centro Cultural Orè – Egbé Ilè Ifáe (Cecorè), e Carlos Gabriel Ferreira, jornalista encarregado do design gráfico do livro.
A impressão da publicação foi financiada pela edição de 2017 do Programa Institucional de Apoio à Cultura para estudantes (Piac Estudantil), ligado à Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (Proexc). O objetivo dos autores é fazer com que o livro sirva de material para contemplar a lei número 10.639/2003, que coloca como diretriz o ensino curricular de história e cultura afro-brasileiras no ensino básico nacional. Dentre os 200 exemplares impressos do livro, a maior parte será distribuída a gestores e professores da rede de ensino municipal. Em parceria com o Centro Municipal de Estudos e Projetos Educacionais Julieta Diniz (Cemepe), Borges, Pena e Florentino realizarão uma oficina sobre os conteúdos do livro junto à sua distribuição para professores nesta quinta-feira, 5/7, durante a Semana Pedagógica do órgão. A oficina acontece a partir das 7h30 na sede do Cemepe (Av. Prof. José Inácio de Souza, 1958, Bairro Brasil) para os docentes da rede municipal mediante inscrição no site do Centro.
“Nós pensamos uma cartilha educomunicativa que tem como público central os professores de escolas públicas da cidade. Nesse livro a gente tenta um pouco suprir a carência de material para o cumprimento da lei 10.639”, explica Borges em entrevista ao Jornal da UFU da TV Universitária de Uberlândia (TVU). De acordo com ele, a proposta é que o livro sirva de fonte de conhecimento para professores e que estes possam fazer a ponte dos conteúdos com os alunos, visando também a quebra de preconceitos que envolvem o tema. “Quando as pessoas não conhecem a cultura afro-brasileira, elas tendem a associar essa cultura ao demoníaco, ao negativo”, diz Borges.
“Ewé Ásà” também reúne estórias e cantigas tradicionais associadas a cada um dos 16 orixás do panteão ketu com tradução do iuorubá para o português brasileiro, além de indicações complementares de conteúdo como vídeos, músicas e imagens. Segundo Pena, é importante contextualizar uma religião como o candomblé para que o público possa identificar como suas raízes estão presentes na cultura brasileira como um todo. “Coisas como a benzeção, que muitas pessoas fazem. A própria musicalidade brasileira, o samba tem origem também na cultura afro-brasileira”, explica Pena ao Jornal da UFU da TVU.
Outras informações sobre o livro ou a oficina no Cemepe podem ser encontradas na página do Facebook do projeto. A publicação em formato digital estará disponível no site do PET Conexões de Saberes Educomunicação (PET CNX) da UFU e no site do Cecorè a partir da próxima segunda-feira, 9/7.